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    Se Lula convencer agronegócio a resgatar áreas degradadas, retorno econômico vai ser ainda maior, diz analista

    Alena Torres Netto, professora de engenharia ambiental da UERJ, destacou a importância de conciliar interesses de empresários do setor agrícola e de ativistas ambientais

    Luiz Inácio Lula da Silva e a engenheira Alena Torres Netto, professora de engenharia ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (Foto: Ricardo Stuckert/PR | Reuters/Paulo Whitaker | UERJ)

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    Agência Sputnik - Em entrevista à Sputnik Brasil, a engenheira Alena Torres Netto, professora de engenharia ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apontou que esse processo de recuperação de solos traz impactos substanciais para a produção de alimentos e pode reduzir o custo para o consumidor final no mercado doméstico.

    Em terras recuperadas, argumenta ela, a produtividade cresce e a demanda por agrotóxicos diminui, o que acaba reduzindo o custo dos cultivos. Além disso, o solo se torna mais "resiliente", suportando mais ciclos de produção no longo e no médio prazos.

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    A retórica do governo federal, no entanto, precisa ser convincente em termos capitalistas, sobretudo quando se fala do mercado de exportações, um dos motores da economia brasileira.

    "Algumas questões precisam ser colocadas em pauta como forma de convencimento desse grupo, que ainda tem uma resistência em trabalhar com sustentabilidade dentro da produção agropecuária. [...] Obviamente estamos no sistema capitalista, ninguém quer perder dinheiro. Então eles precisam fazer a abordagem mostrando que é economicamente viável fazer uma produção sustentável. Não só é viável como se consegue ter os selos, certificações que vão dar direito a aumentar o preço do produto [para vendas ao exterior]. Ter uma incrementação no preço do produto final, que é exatamente o que o capitalismo busca. Na verdade é ganha-ganha: se aumenta a longevidade da sua área e se consegue ganhar no produto final em função da qualidade e de tipos de mercado internacional que você pode acessar. A abordagem precisa ter sentido", explica.

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    Em seu discurso de posse no Congresso Nacional no dia 1º, Lula mencionou a proposta de reaproveitamento de áreas de pastos, que estava presente no plano de governo de Lula e faz parte dos compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2015 (COP21).

    "Nossa meta é alcançar desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica, além de estimular o reaproveitamento de pastagens degradadas. O Brasil não precisa desmatar para manter e ampliar sua estratégica fronteira agrícola", disse Lula.

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    Ao tomar posse como ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro falou da necessidade de voltar às políticas públicas do setor "para o combate à fome e para a produção sustentável" e anunciou que trabalhará pela recuperação de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas.

    Segundo informações da unidade de agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), dos 200 milhões de hectares de pastagens nativas ou implantadas, 65% (ou 130 milhões) estão degradados ou necessitam de alguma intervenção para reverter o estado em que se encontram.

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    Netto explica que o processo de recuperação de uma área degradada busca "recuperar os serviços ecossistêmicos", que "são as coisas que a natureza faz naturalmente".

    "O processo de degradação leva ao empobrecimento do solo, e fazer a recuperação dessas pastagens traz ao enriquecimento e melhoria da qualidade desse solo, principalmente quando a gente fala de recuperação de pastagem", observa. "Quando se faz recuperação de uma área degradada (e as pastagens são um tipo de área degradada), há uma recuperação de serviços ecossistêmicos. Ou seja: qualidade do solo, qualidade do ar, qualidade e quantidade de água, dependendo de onde são essas áreas. O meio ambiente não tem uma resposta única para as ações que a gente faça, vai variar de local para local. Mas o que a gente espera é um retorno dos serviços ecossistêmicos. Então [se espera] recuperar fertilidade do solo, recuperar atividade microbiológica desses solos, recuperar a porosidade do solo — que é o espaço que esse solo tem para as raízes se desenvolverem", detalhou.

    Desafios de conciliação de Lula com o agro

    Para implementar de fato esse projeto ambicioso, a especialista aponta que o governo Lula precisa fortalecer a relação com o agronegócio para conseguir convencer o setor de que a proposta — que é uma demanda mundial — pode trazer ganhos no futuro.

    "Reaproximar[-se] do agronegócio é essencial. Lula precisa se reaproximar do agronegócio porque efetivamente é o que mais movimenta a nossa economia. Não tem muito para onde correr. Se ele conseguir efetivamente convencer o setor agropecuário, a investir nessa questão de recuperação de áreas degradadas, eu acho que o retorno econômico para o setor vai ser ainda maior."

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    Netto acredita que o governo precisa mostrar ao setor que é economicamente viável fazer uma produção sustentável — "o custo de investimento de recuperação nem é tão alto assim" — e cita a legislação que prevê pagamento por serviços ecossistêmicos.

    "Acho que a questão do Lula é investir nessa reaproximação do agronegócio essencial para que ele consiga executar todas as propostas que ele tem, tanto para a área de meio ambiente quanto para a área de exportação e importação, cujo setor também envolve a questão agropecuária. Todos os mercados hoje exigem um comportamento mais sustentável na produção agropecuária de uma forma geral para liberar acesso aos mercados."

    Como seria a recuperação dos solos?

    A especialista apontou que há várias técnicas que podem ser utilizadas nesse processo e a aplicação depende da área a ser recuperada e de qual função se busca para o solo.

    Pelo que foi anunciado pelo ministro, Netto acredita que o trabalho se dará com técnicas voltadas à recuperação ecológica dos solos.

    "Eu acredito que nesses casos [de recuperação de pastagens] vai se trabalhar mais com a parte biológica do solo. Cada região, cada tipo de solo vai demandar um tratamento diferente para recuperação. As técnicas envolvem basicamente recuperar a parte microbiológica do solo. O que é essa microbiologia do solo? Todos os organismos que vão caracterizar a saúde do solo. Então tem bactérias, tem fungos, tem nematoides. Então a gente vai ter ali toda uma população de organismos microscópicos e macroscópicos, minhocas que vão promover a aeração, que vão promover degradação de matéria orgânica, decomposição de matéria, que vão promover ciclagem de nutrientes."

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    Netto aponta que é difícil prever qual será o resultado da recuperação, mas destaca que, se houver uma restauração total, qualquer cultivo poderá ser feito nessas regiões.

    E, para manter a longevidade dessas áreas, ela frisa a importância de fazer uma rotação de culturas.

     "Ora milho, ora feijão. Sempre fazer uma alternância dessas culturas, porque nessas alternâncias de cultura a gente preserva a qualidade do solo. Ou seja, sistemas de agroflorestas, manejo florestal, colocar uma variabilidade, promover uma biodiversidade. Há formas de fazer um manejo em que você tem produção de alimentos com produção animal e você tem um ganha-ganha. [...] Quando a gente trabalha o processo de recuperação e opta por um sistema agrofloresta, a gente tem redução das emissões de carbono, conservação do solo e promoção da biodiversidade, porque atrai os sistemas polinizadores", finaliza.

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