Cafés especiais do Brasil conquistam mercados internacionais com qualidade, origem e sustentabilidade

247 - A força do Brasil como maior produtor e exportador de café do mundo tem se desdobrado em oportunidades crescentes para pequenos produtores que apostam na qualidade, na sustentabilidade e na rastreabilidade de sua produção. Segundo matéria divulgada pelo Sebrae Nacional, agricultores familiares e empreendedores de regiões como o Sudoeste de Minas e o Vale do Jequitinhonha vêm conquistando mercados exigentes no exterior, como Inglaterra, Irlanda, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá e Europa continental.

É o caso da produtora Juliana Paulino, da Fazenda Nova Aliança, em Monte Santo de Minas (MG), que há quase 13 anos exporta seus grãos para a marca britânica Ozone Coffee. “Enviamos uma amostra sem expectativas e, aos poucos, os pedidos foram aumentando. Todos os anos, eles vêm pessoalmente nos visitar e ver de perto o que estamos fazendo. Eles gostam de saber da história, saber de onde vem o café. Essa proximidade gera confiança que faz toda a diferença nas negociações”, conta.

Com foco na qualidade e no compromisso com a responsabilidade socioambiental, Juliana atualmente exporta de seis a oito containers por ano, com destinos também para Irlanda e Nova Zelândia. “A qualidade é uma exigência, mas o mercado internacional também valoriza muito a responsabilidade, sustentabilidade em todos os níveis”, ressalta.

No Dia Mundial do Café, celebrado nesta segunda-feira (14), o analista de Acesso a Mercados do Sebrae Nacional, Gustavo Reis, destacou que o sucesso dos pequenos produtores no comércio internacional exige planejamento. “O café brasileiro como commodity já alcança vários países do mundo, então o desafio para os pequenos é agregar valor, seja por meio da sua história, origem ou até mesmo com a venda de produtos de forma exclusiva, com pequenos lotes”, explica.

Para o analista, a formação de cooperativas e associações é essencial para fortalecer a identidade dos cafés especiais e atrair compradores estrangeiros interessados em experiências além do produto. Um exemplo é o registro de Indicação Geográfica (IG) do Sudoeste de Minas, conquistado com o apoio do Sebrae Minas. A certificação reconhece a reputação, a qualidade e a procedência dos cafés produzidos em 21 municípios da região.

Outro caso de destaque é o da Fazenda Nakamura, em José Gonçalves, no Vale do Jequitinhonha (MG), que exporta microlotes de café fermentado de alta qualidade por meio da Noca Coffee, empresa representante do Sul de Minas. Inicialmente voltada à Austrália, a produção também chegou aos Estados Unidos, Canadá e Europa.

Segundo o produtor Cláudio Nakamura, seus grãos atingem mais de 85 pontos na avaliação sensorial, o que atrai o interesse do público estrangeiro. “Esse tipo de café é muito apreciado pelo pessoal lá fora e já começa a ser mais consumido no Brasil também”, afirma.

Mesmo sem receber compradores internacionais em sua fazenda, Cláudio acredita que isso é uma tendência que logo chegará a sua realidade. Ele também destaca que a sustentabilidade tem grande peso nas decisões dos clientes: “O mercado internacional valoriza muito as boas práticas de sustentabilidade”.

Apesar de sua preferência pelo trabalho manual, Cláudio precisou adaptar-se à escassez de mão de obra e investir em maquinário para a colheita. “Eu gosto de trabalhar com pessoas. A colheita manual é um trabalho feito com cuidado e carinho com as plantas”, diz.

As histórias de Juliana e Cláudio mostram que há espaço no mercado global para cafés brasileiros com identidade, sabor e responsabilidade — uma combinação que tem elevado o protagonismo dos pequenos produtores no comércio internacional.