Mulheres empreendedoras fortalecem negócios com redes de apoio em favelas e periferias

247 - Nos desafios do empreendedorismo feminino, especialmente em periferias e favelas, redes de apoio têm se mostrado essenciais para fortalecer negócios e impulsionar a autonomia financeira das mulheres. Segundo reportagem da Agência Sebrae de Notícias, no Rio de Janeiro, a ONG Anjos da Tia Stellinha tem desempenhado esse papel, promovendo capacitação profissional e assistência social para mães moradoras de comunidades. Já em São Paulo, o Coletivo Meninas Mahin foca na valorização da identidade e na inclusão de empreendedoras negras por meio de feiras e eventos.

A ONG Anjos da Tia Stellinha, criada pela assistente social Stellinha Moraes, atende cerca de 200 mulheres por mês em 14 favelas cariocas, incluindo o Morro dos Macacos. O projeto oferece cursos em áreas como tecnologia, beleza, culinária e cuidados, além de apoio psicológico e grupos terapêuticos. Segundo Stellinha, muitas dessas mulheres inicialmente não se enxergam como empreendedoras. “Mesmo depois da capacitação profissional, a maioria ainda não acredita que é boa o suficiente para vender seus produtos ou serviços. Elas não têm visão de mercado”, explica.

Além do treinamento técnico, a ONG promove rodas de terapia e oficinas de vínculos, criando redes de apoio entre as participantes. “Elas possuem dores em comum e se fortalecem não apenas no discurso, mas também na convivência e na amizade. Disso surgem parcerias para vender produtos e fazer negócios”, destaca Stellinha.

A coordenadora do Sebrae Rio, Renata Roqui, ressalta a importância dessas conexões para o crescimento dos negócios liderados por mulheres na periferia. “Compartilhar boas práticas e aprendizados permite que elas encontrem soluções eficazes para seus negócios, reduzindo erros e acelerando o crescimento”, afirma. O Sebrae desenvolve iniciativas como o Conexão Terceiro Setor, que apoia organizações voltadas ao empreendedorismo com cursos de formação de lideranças e suporte para a implementação de atividades de geração de renda.

Na Zona Leste de São Paulo, o Coletivo Meninas Mahin atua há quase uma década promovendo eventos e feiras voltadas para empreendedoras negras da periferia. Ednusa Ribeiro, fundadora do projeto, explica que o diferencial da iniciativa é adaptar o conhecimento técnico para a realidade dessas mulheres. “Levamos o conhecimento técnico e acadêmico para perto delas com a linguagem da rua, de acordo com a realidade delas”, enfatiza.

Além de oferecer capacitação, o Coletivo funciona como uma rede de apoio, ajudando as empreendedoras a esclarecer dúvidas, fortalecer o networking e trabalhar a autoestima. “Percebemos que mais do que falar de negócio, era preciso levantar a autoestima dessas mulheres, principalmente com o recorte de gênero e raça”, explica Ednusa. Durante as rodas de conversa, surgem relatos que vão além do mundo dos negócios. “Elas falam da estrutura familiar e psicológica. Muitas não saíam de casa ou precisavam de autorização do marido para sair. Isso em pleno século XXI”, comenta.

O projeto mantém seis grupos no WhatsApp para compartilhar informações e oportunidades com as participantes. Também estabelece parcerias estratégicas que permitem a comercialização dos produtos em lojas e o acesso a ferramentas práticas de capacitação. As feiras organizadas pelo Coletivo já aconteceram em diversos estados, como Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão, Alagoas e Rio Grande do Sul.

Tanto a ONG Anjos da Tia Stellinha quanto o Coletivo Meninas Mahin demonstram que, para além da capacitação técnica, o suporte emocional e a criação de redes de apoio são fatores determinantes para o sucesso das mulheres empreendedoras em comunidades periféricas.