Professora cria fábrica artesanal de tofu e vende uma tonelada por semana

Beatriz Bevilaqua, 247 - O vegetarianismo está em ascensão no Brasil, impulsionado pela crescente preocupação da população com a saúde e o impacto ambiental da alimentação. De acordo com uma pesquisa da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), conduzida pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), cerca de 30 milhões de brasileiros se identificam como vegetarianos, representando 14% da população. Além disso, o país se destaca como o maior mercado de produtos veganos da América Latina, com mais de 2.900 restaurantes e estabelecimentos dedicados a esse público.

No programa “Empreender Brasil”, da TV 247, a professora universitária Hanna Benites compartilhou sua trajetória à frente da UAI Tofu, empresa mineira que produz tofu livre de transgênicos, distribuído nacionalmente. Engenheira química com mestrado em ciência e engenharia de materiais pela Universidade Federal de Alfenas, Hanna é vegana e ativista pelos direitos dos animais desde 2016.

A história da UAI Tofu começou em Juiz de Fora, quando ela conheceu Laércio, seu futuro sócio, que já desenvolvia uma receita artesanal de tofu. “Eu estava totalmente focada na carreira acadêmica, mas, com o tempo livre entre aulas, comecei a ajudar o Laércio. Ele é uma pessoa que, se você está por perto, ele te dá tarefa. E eu adoro resolver problemas”, conta Hanna.

Seu conhecimento em engenharia de materiais foi essencial para solucionar um dos primeiros desafios da empresa: a embalagem do tofu defumado, que rasgava com facilidade. “Percebi que a embalagem que usávamos não era adequada. Pesquisei alternativas e encontramos uma que usamos até hoje”, relembra.

Outro diferencial da UAI Tofu está na escolha dos ingredientes. Desde o início, a empresa utiliza soja certificada, orgânica e não transgênica, adquirida da cooperativa Biorgânica, no sul do Brasil. “Foi muito difícil encontrar fornecedores. A maior parte da soja orgânica do Brasil é exportada. Muita gente dizia que não tinha mais disponível para venda interna. Mas o Laércio insistiu, fez muitas ligações, até encontrar essa cooperativa que reúne pequenos produtores”, explica a CEO.

Hoje, a empresa conta com 10 funcionários diretos e três terceirizados. A produção gira em torno de uma tonelada de tofu por semana, com capacidade de expansão. Um dos trunfos da UAI Tofu está na logística: o produto não precisa de refrigeração durante o transporte, o que permite a entrega para qualquer região do Brasil em perfeitas condições de consumo.

Hanna acredita que o crescimento do mercado vegano reflete uma mudança irreversível. “Não dá mais para ignorar a crise climática e dizer que é coisa de ‘ecochato’.  A crise climática já está batendo na nossa porta. Sem dúvida nenhuma, ela é resultado, em grande parte, do consumo de produtos de origem animal. O desmatamento da Amazônia, em grande parte, serve para abrir espaço para pasto e plantação de soja destinada à ração animal. A pecuária consome uma quantidade absurda de recursos, são cerca de 14 mil litros de água para produzir um quilo de carne. É uma conta que não fecha”, explica.

Ela também destaca o avanço das pesquisas em carnes cultivadas e alternativas à base de plantas. “Os próprios frigoríficos estão investindo nisso. Manter rebanhos é caro e arriscado, vimos na pandemia o que pode acontecer com doenças que surgem de animais confinados. A mudança de paradigma está em andamento, e nós, com a UAI Tofu, queremos fazer parte dessa transformação”, enfatiza.

Assista a entrevista na íntegra: