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"A disputa no campo da comunicação será o principal desafio nos próximos anos", avalia pesquisador

Bruno Bassi, do De Olho Nos Ruralistas, fala sobre a influência do agronegócio e da extrema-direita nas eleições municipais em entrevista ao Boa Noite 247

(Foto: ABR | Divulgação )

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247 - O coordenador do núcleo de pesquisa De Olho Nos Ruralistas, Bruno Bassi, compartilhou uma análise sobre a influência do agronegócio e da extrema-direita nas eleições municipais, em entrevista ao programa Boa Noite 247. Com base na cobertura e pesquisa, Bassi destacou a importância da articulação política do setor rural e o papel central que a comunicação terá nas próximas disputas eleitorais. “A disputa no campo da comunicação será talvez o principal campo a ser enfrentado nos próximos anos”, afirmou ele.

Desde 2016, o observatório acompanha o impacto do agronegócio nas eleições, com foco principalmente no interior do Brasil. No entanto, Bassi explicou que, em 2024, a cobertura foi ampliada para as capitais, refletindo o contexto político nacional. "Estamos falando de uma eleição que antecipa muito de 2026", apontou, acrescentando que o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, candidato à reeleição, foi alvo de diversas matérias que investigaram suas propriedades rurais em Minas Gerais.

Uma das grandes observações feitas pelo núcleo de pesquisa foi a crescente articulação da extrema-direita em pautas temáticas, especialmente a partir do governo Bolsonaro. “Antes, se criou o termo 'bancada BBB' (Boi, Bala e Bíblia), que uniu o conservadorismo em comum. Hoje, o cenário é de uma extrema-direita cada vez mais articulada e consolidada”, declarou Bassi.

Segundo ele, a Frente Parlamentar da Agropecuária, mais conhecida como a bancada ruralista, mantém uma influência significativa em prefeituras pelo Brasil, apesar de nem sempre ser o prefeito um fazendeiro. "O que temos observado é que muitos candidatos que defendem os interesses do agronegócio, na verdade, não são fazendeiros. Muitas vezes, eles são pastores evangélicos ou ligados a agendas de desestatização", explicou. Esse fenômeno reflete uma estratégia política que visa beneficiar latifundiários, setores da mineração e do garimpo, além de influenciar questões ambientais, como as queimadas.

Bassi destacou que 89 dos 100 maiores municípios estudados pelo observatório são governados por partidos do Centrão, herdeiros da direita oligárquica que governa desde a ditadura militar. A União Brasil, partido resultante da fusão entre DEM e PSL, lidera o número de prefeituras. "Em alguns casos, como em Querência, no Mato Grosso, há uma alternância de poder entre dois prefeitos, que, mesmo de partidos rivais, beneficiam os mesmos interesses do agronegócio", revelou.

O coordenador também alertou para a sofisticação das estratégias de comunicação da extrema-direita, que vão desde o uso da máquina pública até disparos em massa de fake news. “O WhatsApp ainda é um grande mecanismo de difusão de informações falsas, especialmente em nível local”, afirmou, apontando o uso dessa ferramenta como uma das principais armas nas eleições de 2022 e que ainda reverbera em 2024.

Entre os desafios futuros, Bassi mencionou o crescimento de um discurso de especulação econômica. "Estamos vendo candidatos que adotam uma linguagem de especulação escancarada, defendendo agendas de desestatização e privatização, algo que já era parte do discurso da direita, mas agora se intensifica", comentou. Esse discurso, segundo ele, está cada vez mais orientado para criar "bolsões de prosperidade", que, na prática, beneficiam uma elite rural enquanto a maioria da população permanece empobrecida.

Outro fenômeno preocupante mencionado por Bassi é o das apostas eleitorais, que está sendo investigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "A questão das apostas eleitorais está presente em pelo menos onze capitais, e esse fenômeno precisa ser regulado", alertou. Para ele, sem uma regulamentação adequada, as apostas podem começar a influenciar diretamente os resultados eleitorais, como já ocorre em alguns países.

Por fim, Bassi enfatizou a urgência de repensar o modelo econômico brasileiro, que, há décadas, se baseia na exportação de commodities em detrimento da industrialização. “Enquanto o Brasil continuar a exportar commodities para comprar tecnologia de fora, veremos esse reflexo em todos os níveis de governo”, concluiu.

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