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    "A taxa de juros do Brasil é distorcida para cima", diz Rafael Lucchesi

    Diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi, critica política monetária e defende modernização do setor financeiro

    (Foto: José Paulo Lacerda/CNI)
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    247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, Rafael Lucchesi, Diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), analisou o impacto da política monetária brasileira e defendeu uma reforma ampla para ajustar a taxa de juros, considerada excessiva.

    Segundo Lucchesi, o Brasil vive um paradoxo econômico desde o sucesso do Plano Real. “Era algo muito ruim. Era uma chaga que precisava ser superada, e o Brasil alcançou, na última década do século passado, com o Plano Real, um status importante para o equilíbrio macroeconômico e para a estabilização. Essa foi uma conquista significativa entre 1986, quando foi lançado o Plano Cruzado, e 1994, com o lançamento do Plano Real. Nesse período, foram elaborados seis planos de estabilização. Os cinco primeiros naufragaram, mas o Plano Real, o mais sofisticado deles, com o sistema de âncora, teve sucesso.”

    Apesar dessa conquista histórica, ele apontou a ausência de uma estabilidade econômica prolongada: “A desejável prosperidade e o ambiente de estabilidade macroeconômica não se concretizaram. O crescimento brasileiro nessas três décadas tem sido medíocre.”

    Lucchesi atribui parte dessa situação à influência desproporcional do mercado financeiro sobre a política monetária: “Há uma mudança na concertação: a captura da política monetária por agentes ligados ao mercado financeiro, que exercem grande influência sobre o Ministério da Economia e o Ministério da Fazenda, determinando a taxa de juros.” Ele questionou: “Por que temos uma taxa de juros tão superior à média dos países, sejam eles latino-americanos, desenvolvidos ou emergentes? A taxa de juros do Brasil é distorcida para cima.”

    Ele destacou também o papel do Banco Central como regulador: “Apesar de termos um mercado financeiro e de capitais sofisticado, não se deve trabalhar contra isso. Contudo, o Banco Central, como agência reguladora, não pode estar capturado pelos interesses do mercado financeiro. Seu papel é justamente neutralizar a força dos segmentos com maior poder de mercado, defendendo a população.”

    Sobre as perspectivas para 2024, Lucchesi previu crescimento moderado: “A CNI avalia que, mesmo com taxas de juros elevadas, o crescimento no próximo ano será de 2%, com forte componente da indústria de transformação.”

    Ele defendeu uma política industrial consistente para impulsionar a economia: “O Brasil tem uma política industrial. Defende-se que essa política seja uma política de Estado, como o Plano Safra e o apoio ao setor do agronegócio, que é extremamente competitivo.” Mencionou ainda investimentos significativos: “Hoje, na nova indústria Brasil, há investimentos anunciados da ordem de R$ 2,2 trilhões, assegurando o crescimento futuro.”

    Lucchesi apontou setores estratégicos para a economia nacional: “O Brasil é extremamente competitivo na verticalização do agronegócio e no complexo industrial de saúde, além de ser uma potência na agenda de transição energética e descarbonização produtiva.” No entanto, ele alertou para os impactos negativos dos juros elevados: “Uma taxa de juros desajustada dificulta o ambiente empresarial, penaliza o setor produtivo e neutraliza vantagens competitivas.”

    Ele criticou também a relação entre juros e dívida pública: “Veja que contradição: o Banco Central alega priorizar o equilíbrio fiscal. Na semana em que o governo anunciou uma redução de gastos de R$ 70 bilhões para o próximo ano e R$ 40 bilhões para 2026, o Banco Central aumentou a taxa de juros, impactando a rolagem da dívida pública em R$ 50 bilhões ao ano.”

    Por fim, Lucchesi ressaltou que decisões recentes no Congresso também podem comprometer o equilíbrio fiscal: “O Congresso apresentou uma proposta para ampliar as emendas impositivas, o que aumentaria os gastos em R$ 60 bilhões por ano. Assim, tanto o Congresso quanto o Banco Central parecem agir na contramão do equilíbrio fiscal.” Assista: 

     

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