“Como é possível que a direita esteja ganhando força e a esquerda perdendo espaço?", questiona Altman
Esquerda precisa disputar o governo e não apenas aplaudir enquanto a direita avança, alerta analista
247 - A análise sobre os desafios enfrentados pela esquerda no governo Lula e a crescente influência da direita no debate político brasileiro foi tema de uma recente discussão no canal Cortes 247. Durante o debate, o analista político Breno Altman destacou a ausência de nomes fortes da esquerda no cenário eleitoral e criticou a falta de uma agenda de transformação concreta por parte do governo federal. Segundo ele, enquanto a direita ocupa cada vez mais espaço, a esquerda parece estar presa a uma postura passiva de apoio ao governo, sem disputar efetivamente sua linha programática e sem mobilizar a sociedade em torno de pautas populares.
A principal questão levantada pelo analista é o paradoxo da queda de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo diante de uma recuperação econômica e da implementação de políticas públicas de impacto positivo. "Depois de um governo tão desastroso como foi o de Jair Bolsonaro, depois de tentativas golpistas que hoje estão nas barras dos tribunais e mesmo com números positivos na economia, como é possível que a direita esteja ganhando força e a esquerda perdendo espaço?", questionou Altman.
Segundo ele, há um erro de diagnóstico dentro do governo, que atribui a queda de popularidade exclusivamente a problemas de comunicação. "Há problemas na comunicação, mas não acho que esse seja o problema principal. A situação material da sociedade e o sentimento das pessoas precisam ser melhor compreendidos", afirmou.
Inflação e expectativa frustrada
Altman aponta que a insatisfação popular tem raízes em fatores concretos, como a inflação de alimentos e o aumento dos custos com moradia. "Temos uma inflação imobiliária galopante no país, os aluguéis estão subindo fortemente. Esses fenômenos mostram que, apesar dos números positivos do PIB e da renda, a vida real das pessoas segue difícil", analisou.
Além disso, ele ressalta que o simbolismo da eleição de Lula em 2022 criou na população uma expectativa de mudanças rápidas e profundas, que ainda não se materializaram. "O governo precisa entender que a frustração vem do ritmo lento das melhorias. As mudanças não estão chegando ao povo de forma rápida o suficiente", disse.
Outro fator citado na análise é a predominância da agenda do ajuste fiscal no debate econômico do governo. "Nos últimos nove meses, a principal pauta do governo tem sido o ajuste fiscal, um tema que interessa apenas a uma pequena parcela da população, aqueles que têm aplicações em bancos e compram títulos da dívida pública", criticou Altman. Para ele, essa narrativa precisa ser substituída por uma agenda que dialogue diretamente com os interesses da classe trabalhadora.
Enfrentamento e mobilização popular
O analista destaca que o governo Lula de 2007 a 2010, quando alcançou 87% de popularidade, tinha como foco central o desenvolvimento e a justiça social, deixando a agenda de austeridade econômica em segundo plano. "Naquele momento, a agenda antipovo, a agenda do ajuste fiscal e a agenda privatista praticamente sumiram do debate nacional. Agora, são elas que estão predominando", afirmou.
Para Altman, a comunicação não resolverá os problemas se o governo não tomar medidas concretas para enfrentar questões como a inflação de alimentos e a alta dos aluguéis. "O governo precisa mostrar que está tomando medidas firmes. Por que não reduzir impostos de importação para baratear o preço dos alimentos? Por que não estabelecer um imposto de exportação sobre o agronegócio para redirecionar investimentos para a produção de comida para o mercado interno?", questionou.
Ele também critica a postura da esquerda dentro da frente ampla que compõe o governo. "É um governo de frente ampla, mas a direita disputa seus valores e seus interesses com força, enquanto a esquerda parece apenas aplaudir. Se a esquerda não disputar ativamente esse governo, a direita vai pressionar e ocupar cada vez mais espaço", alertou.
O analista defendeu a criação de uma "frente popular dentro da frente ampla" para fortalecer as demandas progressistas. "A esquerda precisa radicalizar sua intervenção na disputa política e ideológica, tanto dentro do governo quanto fora dele. Se não houver pressão à esquerda, a correlação de forças continuará desfavorável e a direita seguirá ganhando terreno", concluiu.
A análise levanta pontos fundamentais para o debate sobre os rumos do governo Lula e o papel da esquerda no atual cenário político brasileiro. A manutenção de uma postura passiva pode custar caro às forças progressistas, permitindo que a direita defina os rumos do país, mesmo sem ocupar o Palácio do Planalto. Assista:
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