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    "Cooperação entre China e Brasil contribui para a resolução dos grandes desafios globais", diz pesquisadora chinesa

    Professora da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim diz que o Brasil recuperou relevância com Lula: "é a âncora de estabilidade na América Latina"

    Presidentes da China e do Brasil, Xi Jinping e Lula, e a professora Li Ziying, da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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    Por Guilherme Paladino, correspondente do 247 em Pequim - Ao sediar a cúpula do G20 e, na sequência, anunciar uma elevação histórica no patamar de sua relação com a China, após uma bem-sucedida reunião bilateral entre os presidentes Lula (PT) e Xi Jinping (PCCh) em Brasília, o Brasil se colocou no centro da política internacional nesta semana.

    Apesar de enfrentar obstáculos para pacificar a situação política interna após quatro anos de bolsonarismo, o governo brasileiro vem encontrando sucesso em sua empreitada para reconquistar um papel de importante player global. Reforçar seus laços com a China neste momento, ainda mais em um contexto de ascensão da extrema-direita nas Américas - com Donald Trump nos EUA e Javier Milei na Argentina -, pode ajudar o Brasil a manter o equilíbrio da balança do poder global, segundo Li Ziying, professora catedrática da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (BFSU).

    Em entrevista ao Brasil247, a pesquisadora de relações sino-latino-americanas analisou que "em um contexto internacional cada vez mais complexo, o fortalecimento da cooperação entre China e Brasil não apenas beneficia ambas as partes, mas também contribui para o intercâmbio e diálogo entre os países do Sul Global, a defesa dos interesses comuns dos países em desenvolvimento, a construção conjunta de um sistema de governança global justo e razoável, assim como para a resolução dos grandes desafios globais".

    Li Ziying, professora catedrática da BFSU e pesquisadora de relações sino-latino-americanas.
    Li Ziying, professora catedrática da BFSU e pesquisadora de relações sino-latino-americanas.(Photo: Arquivo pessoal)Arquivo pessoal

    Para a especialista, "não há dúvida de que a reunião entre os líderes de ambos os países impulsionará significativamente o aprofundamento dessa cooperação. Da mesma forma, a Declaração Conjunta assinada por ambas as partes reflete claramente essas considerações comuns".

    O Brasil é a maior economia da América Latina e também se tornou o maior parceiro comercial da China e o principal destino dos investimentos chineses na região. Além disso, ambos os países são membros do BRICS e do G20, dois dos principais grupos que representam os interesses das nações em desenvolvimento na atualidade.

    O retorno do Brasil

    Ziying entende que desde janeiro de 2023, após assumir seu terceiro mandato, o presidente Lula tomou como eixo central de sua política externa “o retorno do Brasil”, refletindo a vontade do novo governo brasileiro de recuperar o protagonismo internacional do país.

    "Segundo observações acadêmicas, as prioridades estratégicas da política externa de Lula neste novo mandato incluem cinco aspectos principais: recuperar a credibilidade do Brasil na comunidade internacional e reconstruir sua imagem no cenário global; defender ativamente o multilateralismo e fortalecer a cooperação internacional; reforçar as relações bilaterais com parceiros-chave; consolidar os vínculos com os países do Sul Global e aprofundar a cooperação Sul-Sul; e promover a colaboração e integração regional", descreve a professora.

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    Da esq. para a dir.: presidentes Gustavo Petro (Colômbia), Lula (Brasil), Claudia Sheinbaum (México) e Gabriel Boric (Chile)(Photo: Divulgação)Divulgação

    Em sua avaliação, a política interna e externa do governo Lula representa, essencialmente, uma continuação e uma reinterpretação do ideal do Brasil como uma potência global. "No âmbito interno, o governo busca reduzir a desigualdade entre ricos e pobres por meio do combate às desigualdades sociais e da melhoria nos níveis de educação e saúde. Essa abordagem não só reflete o compromisso com um desenvolvimento equilibrado dentro do país, como também estabelece as condições necessárias para alcançar estabilidade e prosperidade a longo prazo", diz Ziying, acrescentando que "no plano externo, a estratégia de grande potência visa elevar a posição internacional do Brasil e ampliar sua influência global".

    "Âncora de estabilidade na América Latina"

    Para a professora chinesa, a maneira com que Lula conduz o Brasil credencia o país a assumir um papel de fiador do equilíbrio político em sua região.

    As políticas internas e externas do atual governo brasileiro, segundo ela, constituem uma "interpretação contemporânea do desenvolvimento nacional e da modernização política", ao mesmo tempo em que refletem "a dupla aspiração de uma potência emergente por um desenvolvimento equilibrado e uma maior relevância internacional".

    "Nesse sentido, o Brasil, sob a liderança do presidente Lula, pode e deve desempenhar o papel de âncora de estabilidade na América Latina, uma parte crucial do Sul Global", conclui.

    Expectativas positivas na China

    Na reunião bilateral ocorrida na quarta-feira (20) entre Lula e Xi Jinping, foram assinados 37 acordos bilaterais que abrangem diversos setores. Ambos os líderes também anunciaram a elevação do status da parceria entre Brasil e China ao patamar de "Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável".

    Em suas declarações na ocasião, Xi chegou a dizer que "este relacionamento está no melhor momento da história", enquanto Lula afirmou que esta era "a reunião mais importante já feita entre os dois países". No entanto, apesar de tamanho otimismo, a leitura pelo lado chinês é de que os próximos anos serão ainda melhores.

    Em uma publicação em português feita na rede social X (antigo Twitter) nesta semana, a Vice-Ministra das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, afirmou: "Como disse o rei Pelé, o gol mais bonito é sempre o próximo. Da mesma maneira, o capítulo mais maravilhoso das relações China-Brasil também está por vir".

    Ao contrário do que as previsões de setores da esquerda brasileira diziam - de que a hesitação do Brasil em aderir formalmente à Nova Rota da Seda poderia estremecer as relações com o governo chinês e comprometer futuros projetos de infraestrutura no país - a posição oficial do gigante asiático é de intensificar os investimentos nesta área e em outras.

    Em nota enviada ao Brasil247, o Escritório da Porta-Voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que a visita de Estado de Xi foi "concluída com sucesso" e ressaltou que "a China está disposta a trabalhar junto com o Brasil para aprofundar continuamente a cooperação nos principais setores, como comércio, infraestrutura, finanças, ciência e tecnologia, e meio ambiente, buscando avançar na integração estratégica entre os dois países e enriquecer cada vez mais o conteúdo das relações sino-brasileiras na atualidade".

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