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    “Estamos assistindo à morte de uma nação, que é a Síria, e os abutres estão se deliciando", diz Pepe Escobar

    Em entrevista à TV 247, o analista geopolítico analisa as consequências da queda de Bashar Al-Assad

    (Foto: Brasil247)

    247 – Em entrevista à TV 247, o analista geopolítico Pepe Escobar apresentou um panorama sombrio sobre os desdobramentos da queda do governo de Bashar Al-Assad na Síria. Escobar classificou a situação como "um dos espetáculos mais tristes da história" e apontou que os acontecimentos representam não apenas um marco no conflito sírio, mas também um golpe estratégico para aliados como a Rússia e o Irã.

    "Estamos assistindo à morte de uma nação, que é a Síria, e os abutres estão se deliciando", declarou Escobar, destacando o cenário de balcanização no país. Segundo ele, mercenários transnacionais assumiram o controle em Damasco, após uma série de traições e colapsos internos no Exército sírio.

    O papel de Israel e as alianças no conflito

    Escobar destacou a atuação de potências regionais e globais no conflito sírio, com ênfase no papel de Israel. "Israel tomou posse do Golã inteiro e de outras terras", afirmou, ressaltando que o país tem trabalhado para enfraquecer o Irã e o chamado 'eixo da resistência'. Ele também criticou a ordem internacional, que, segundo ele, permite a destruição da Síria sem grandes reações.

    O analista descreveu a ação coordenada entre a inteligência turca, os Estados Unidos, Israel e o Catar como um elemento crucial para a queda de Assad. "A inteligência turca atuou em sintonia com os Estados Unidos, Israel e o Catar", afirmou.

    Escobar também pontuou que os iranianos haviam alertado Assad sobre os riscos. "Os iranianos avisaram Assad há meses", disse, lamentando a traição que partiu de dentro do próprio alto comando do exército sírio. "A traição veio do topo do Exército sírio."

    Rússia e o destino de Bashar Al-Assad

    Pepe Escobar sublinhou a posição estratégica da Rússia e as escolhas feitas pelo Kremlin durante os últimos momentos do regime de Assad. Ele rejeitou a ideia de que Moscou teria abandonado a Síria, afirmando que "Putin pessoalmente assinou a ordem de asilo para Assad e sua família". No entanto, Escobar reconheceu que a Rússia percebeu o fim do jogo e optou por não intervir diretamente para salvar o regime.

    "Isso não significa que a Rússia traiu a Síria", explicou Escobar, mas ponderou que a preservação das bases aéreas russas no país será um tema sensível nas negociações com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Para ele, a perda da Síria representou "uma derrota estratégica enorme para a Rússia e para o Irã".

    As consequências regionais e a geopolítica global

    O analista alertou que os impactos da queda de Assad podem extrapolar as fronteiras da Síria. "O Iraque pode ser o próximo e pode haver um desbordamento do horror", afirmou, destacando os riscos de desestabilização em toda a região.

    Escobar também considerou plausível a existência de negociações discretas entre Donald Trump e Vladimir Putin. "Já existe um acordo entre Trump e Putin", disse, apontando para a possibilidade de Elon Musk ter servido como intermediário em algumas dessas conversas. Ele destacou, no entanto, que "o Kremlin não vai arredar um milímetro das condições".

    O fim de uma era na Síria

    Para Escobar, a queda de Assad marca o ápice de uma estratégia de longo prazo conduzida pelo chamado "deep state". "O deep state tenta isso há 13 anos e finalmente conseguiu", afirmou. A fadiga no Exército sírio e a traição dentro das próprias fileiras do regime aceleraram o desfecho.

    "A Síria está sendo balcanizada na nossa frente", lamentou Escobar, descrevendo o processo como um golpe profundo na resistência ao imperialismo na região. "Enfraquecer o Irã é enfraquecer o eixo da resistência como um todo", concluiu.

    A análise de Pepe Escobar é um alerta sobre as consequências humanitárias e geopolíticas de uma guerra que destruiu uma nação e reconfigurou as dinâmicas de poder no Oriente Médio. A balcanização da Síria e a fragmentação do território deixam marcas profundas, enquanto os "abutres", como descreveu Escobar, continuam a disputar o que resta de uma nação devastada. Assista:

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