Eu não quero ser recriado por inteligência artificial, diz Jean Wyllys
Ex-deputado discute os impactos da tecnologia, as relações de poder e sua trajetória marcada por ataques e exílio político
247 - Jean Wyllys, ex-deputado federal e jornalista, compartilhou suas inquietações sobre temas variados, indo além das questões que lhe são comumente associadas, como os direitos LGBTQIA+. Durante a entrevista, Wyllys fez críticas contundentes à sociedade contemporânea e sua relação com a tecnologia, afirmando: “Eu não quero ser recriado por inteligência artificial, não quero um androide com minha memória. Quero morrer e desaparecer.” Essa rejeição à perpetuação digital da identidade humana reflete sua visão sobre os impactos da tecnologia nas relações humanas e políticas.
Tecnologia e o "capitalismo de vigilância"
Wyllys chamou atenção para o papel crescente das tecnologias de vigilância, como dispositivos inteligentes, na manipulação de comportamentos e na criação de "mapas psíquicos" de usuários. Segundo ele, a inteligência artificial, alimentada por grandes corporações, está moldando comportamentos de forma que pode interferir em eleições e outras decisões políticas. Ele destacou a importância de entender e resistir à "Matrix" digital: “Precisamos atuar dentro e fora da Matrix, compreender os algoritmos e usar as brechas que eles oferecem.”
Crítica ao jornalismo e ao apagamento histórico
A entrevista também trouxe uma crítica ao que Wyllys chama de "desonestidade intelectual" de alguns jornalistas. Ele mencionou o livro Máquina do Ódio, de Patrícia Campos Mello, como um exemplo de apagamento histórico ao não mencionar figuras-chave como ele e Manuela D’Ávila, vítimas de campanhas massivas de desinformação. “Não se pode contar a história recente da máquina de ódio no Brasil sem citar meu nome ou o de Manuela D’Ávila. Isso é desonestidade intelectual.”
Wyllys também criticou o papel da grande mídia durante o governo Bolsonaro, destacando a omissão de jornalistas ao não desmentirem mentiras propagadas ao vivo, como o caso do "kit gay". Para ele, tais omissões contribuíram para normalizar o discurso extremista.
Política, perseguição e exílio
A narrativa pessoal de Jean Wyllys atravessa boa parte da entrevista. Ele relembrou momentos de violência e ameaças que culminaram em seu autoexílio, detalhando a falta de apoio institucional que recebeu, mesmo enquanto parlamentar. "Era como se minha vida não importasse, porque eu sou um homem gay", lamentou, referindo-se à homofobia estrutural.
Wyllys também analisou sua relação com o Partido dos Trabalhadores (PT) e figuras como Lula. Apesar de criticar a falta de apoio do partido em momentos cruciais, ele reiterou sua admiração pelo ex-presidente. “Lula é um político experiente, mas, na política, não existe generosidade, só interesses.”
Reaproximação das bases e futuro
Ao abordar seus planos futuros, Wyllys destacou a importância de educar e reconectar-se com as bases populares, especialmente em tempos de polarização extrema. “Queremos criar espaços presenciais e digitais para educar sobre democracia, república e direitos fundamentais, mas sem arrogância, ouvindo as pessoas.”
Wyllys também reafirmou seu compromisso com a luta por justiça social e combate às desigualdades. Mesmo afastado de partidos políticos no momento, ele acredita que seu papel como intelectual público e artista visual ainda pode fazer a diferença. Assista:
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