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Gregório Duvivier: líderes da direita agem como bufões grotescos e escatológicos

Humorista critica falta de humor da militância cirista e pede uma atitude mais 'desbocada' à esquerda; assista

Gregório Duvivier (Foto: Reprodução)

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Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - Gregório Duvivier comparou os estilos de humor que caracterizam a direita, a esquerda e o centro em entrevista ao programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (09/06), com o jornalista Breno Altman. 

Para o humorista, líderes de direita como o brasileiro Jair Bolsonaro, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o premiê britânico Boris Johnson agem como "bufões que usam um humor grotesco e escatológico", sublinhando as próprias falhas e pontos fracos, em uma estratégia tradicional dos palhaços. 

“Hoje, infelizmente, os líderes de direita entenderam melhor a importância do humor na política”, disse o humorista, que ficou nacionalmente conhecido a partir de seu trabalho como ator e roteirista no canal Porta dos Fundos. Ele citou como exemplos os tons de pele e os cabelos “ridículos” de Trump e Johnson, ou as qualidades de “personagem do SBT” do primeiro-ministro do Reino Unido. 

Por sua vez, o presidente brasileiro atua acentuando e exagerando as características negativas atribuídas a ele: “se diziam que gostava de ditadura, ele dobrava a aposta. Não consigo achar engraçado, mas quem gosta do Bolsonaro talvez não lembre de uma medida dele, mas lembra das 'lacradas', das ‘mitadas’”. 

A oposição a Bolsonaro, de outro lado, ficou mais medrosa e sem auto-ironia: “eu gostaria que a esquerda fosse um pouquinho mais desbocada, o que não significa ser racista, homofóbica ou ultrajante, mas estar mais no ataque e ser franco em relação ao outro”. A exceção é Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo Duvivier, age como um "clown de si mesmo".

“Lula tem uma antena muito ligada em relação ao meme e produz muito facilmente memes no discurso, e não é por acaso. Tem a ver com uma ligação muito sincera que ele tem com ele mesmo. [...] Ele tem ferramentas do clown, porque tem um contato muito profundo com a identidade real, atávica e ancestral dele mesmo", disse.

Falando pela primeira vez sobre o debate que teve com o pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, o humorista defendeu que a participação ocorreu na tentativa de diálogo, com o objetivo de defender a equipe do programa e a si próprio. Em maio, Duvivier veiculou em seu programa semanal Greg News, na HBO, um episódio crítico político. 

“Ele podia ter me ganhado, sou um ex-eleitor, mas conseguiu me jogar para o outro lado do espectro com o tratamento que me deu", afirmou. Em sua opinião, Gomes emula a "agressividade bolsonarista" para ganhar votos desse eleitorado, que não será conquistado porque já tem o próprio presidente. 

Humor é de direita ou de esquerda?

Praticante no início de uma modalidade de humor “contra tudo e contra todos”, o ator e escritor carioca passou por um processo de transformação a partir do primeiro voto, dado a Lula, em 2002. 

As jornadas de junho de 2013, a eleição polarizada entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, em 2014, e o impeachment da presidente em 2016 fizeram-no se deslocar para a esquerda. “Ficou muito claro para mim que existe sim uma luta entre direita e esquerda no Brasil, e a polarização é muito necessária quando o outro lado é tão fascistoide. A partir daí me identifiquei como pessoa de esquerda e passei a fazer um humor político mais politizado”, disse.

Duvivier acredita que existem limites para o humor, mas considera-os fluidos e móveis, inclusive porque o tabu é matéria-prima essencial da atividade. A fórmula de rir do opressor e não do oprimido é válida, mas a linha demarcatória entre opressor e oprimido não é sempre óbvia. Seu trabalho procura, então, afrontar dogmas do humorismo tradicional televisivo, evitando bordões, piadas de cunho sexual, objetificação da mulher, misoginia, homofobia e racismo. 

Esses novos parâmetros por vezes se tornam conflituosos, como nos ataques que o Porta dos Fundos sofreu ao tocar na religião em tom de piada. “O humor é basicamente a arte de tocar nos tabus e nas coisas proibidas, de falar aquilo que você sabia, mas não sabia que sabia. Essa atividade é oposta não à religião, mas ao fanatismo”, defendeu.

Cada vez mais mergulhado no imaginário político que nutre o programa Greg News, Duvivier sustenta ainda assim que seu objetivo profissional é exclusivamente humorístico, apoiado por uma equipe de jornalistas e fontes primárias de informação. 

“Por isso fui defender minha equipe para Ciro. Fazem um trabalho de apuração muito grande, e o que faço é pentear isso com piadas e uma maneira gostosa de falar. Não saberia nunca fazer um programa como esse sozinho, por isso continuo apenas um humorista”, definiu, descartando qualquer pretensão político-eleitoral no futuro.

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