Ladislau Dowbor: "autonomia colocou BC nas mãos dos banqueiros e gera imensa dificuldade para Lula"
Economista afirma que o presidente da República "está fazendo o que é viável" nas condições políticas atuais e sugere planos de ação para fazer a economia girar
247 - O economista e professor Ladislau Dowbor voltou a tecer críticas à postura do Banco Central do Brasil pela condução da política monetária com taxas de juros abusivas, afirmando que elas geram "imensa dificuldade de mexer na economia" devido à herança institucional recebida a partir da implementação da autonomia do órgão, na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Em entrevista à TV 247, Dowbor analisou os desafios que o presidente Lula (PT) e seus ministros vêm enfrentando no plano econômico neste novo mandato: "no conteúdo eu acho basicamente o seguinte: Os desafios são estruturais, mas a capacidade política não tem dimensão de mudanças estruturais, tanto assim que a autonomia do Banco Central na verdade colocou o Banco Central nas mãos banqueiros. Há imensa dificuldade de mexer pela herança institucional que tivemos. Então eu acho que o desafio central é encontrar o que é viável".
"Vejo muitos comentários da minha área, a Economia, que dizem que Lula deveria fazer mais, mas na realidade está se fazendo o possível. O plano do Haddad, o arcabouço, é o que é viável, não o que é necessário. Eu tenho um resumo estrutural que ajuda: o Bolsa Família é 1,5% do PIB e vai para mais de 50 milhões de pessoas. Agora, só o que os bancos, os grandes investidores e a Faria Lima estão tirando do governo com os juros da dívida pública, o Haddad calcula que este ano vai ser de 740 bilhões, ou seja, 7,5% do PIB. Isso são só os juros sobre a dívida pública, é saque líquido, dinheiro dos nossos impostos, que ao invés de usar para fazer escolas, universidades, hospitais e etc, está entrando na mão dos grupos financeiros ligados ao sistema financeiro internacional, um sistema articulado."
O economista prosseguiu dimensionando o peso da taxa de juros sobre as famílias brasileiras: "nós temos 71 milhões de adultos que estão no Brasil inadimplentes. O cara que não está conseguindo pagar os juros, ele vê a dívida dele crescer, vai aumentando, e gera um grau de angústia e desespero, isso em 71 milhões de adultos. Se você pega o conjunto das famílias, e esses são dados da Confederação Nacional do Comércio, 79% estão endividadas. As famílias estão com grau de endividamento que vem não porque elas estão muito endividadas em volume, mas porque a taxa de juros é de 55,8% ao ano."
Como sugestão para a equipe econômica do governo, o especialista propõe uma resolução baseada em alguns eixos, detalhados em seu livro 'Resgatar a função social da economia - uma questão de dignidade humana'. Confira o resumo de três deles abaixo e assista à entrevista completa dele à TV 247 na sequência:
1. Inclusão produtiva: "Inclusão produtiva passa por mais dinheiro na base da sociedade, pode ser Bolsa Família, aumento no salário mínimo, diversas formas. Isso gera demanda, que gera dinamização das atividades e mais emprego; ambos geram recursos para o Estado, ou seja, o dinheiro volta e a coisa começa a circular. Esse eixo, o de mais renda para as famílias, é fundamental. A economia é para servir a população e não para servir a elite financeira."
2. Expandir as políticas sociais: "No mundo a gente trabalha com a seguinte proporção: 60% do conforto econômico das famílias é dinheiro no bolso; os outros 40% é ter saúde gratuita, universidade, creche, os rios limpos, é um conjunto de investimentos que a gente chama de consumo coletivo. Você segurança, mas você não compra a polícia".
3. Investir em políticas de emprego: Para trabalhar com a política de empregos em um país que tem 8,8 milhões de pessoas desempregadas, 6 milhões de pessoas desalentadas e 40% dos trabalhadores atuando no setor informal ganhando em média - segundo IBGE - a metade de quem tem um emprego efetivo, Dowbor sugere descentralizar o setor Agrário no Brasil: "em qualquer cidade da Europa você tem um cinturão verde com Hortifruti e Granjeiro, ou seja seu alimento não é trazido de não-sei-de-onde. Com isso você gera emprego, gera uma pequena indústria de transformação e condicionamento, você gera alimentação saudável nas escolas e você gera emprego e recursos para o município. São coisas simples. Eu vou para Imperatriz-MA, de vez em quando, e lá tem um monte de gente parada, enquanto em volta da cidade há um monte de terras paradas, porque estão esperando valorizar. Isso é rentismo."
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