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    "Nada foi extirpado: o golpismo segue muito bem instalado nas Forças Armadas brasileiras", diz Chico Teixeira

    Chico Teixeira analisa a influência militar na política brasileira e alerta para a necessidade de reformas estruturais

    (Foto: ABr | Divulgação )

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    247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o historiador e professor titular da UFRJ Chico Teixeira fez uma análise contundente sobre o papel das Forças Armadas na conjuntura política atual do Brasil. Ele destacou a permanência de segmentos golpistas dentro das instituições militares, que, segundo ele, mantêm projetos de poder que não coincidem com os princípios republicanos. "Nada foi extirpado. O golpismo segue muito bem instalado nas Forças Armadas", afirmou.

    Teixeira iniciou a conversa traçando paralelos com eventos recentes na Coreia do Sul, onde uma tentativa de golpe trouxe à tona tensões geopolíticas e alianças estratégicas envolvendo grandes potências. Ele apontou que emissários de Donald Trump teriam influenciado o cenário sul-coreano como parte de uma estratégia maior contra a China. "Estamos vendo uma substituição das primaveras coloridas por técnicas mais diretas de golpe de Estado", explicou, relacionando o movimento ao retorno de Trump à cena política e à crescente pressão dos Estados Unidos sobre países que mantêm relações próximas com a China.

    As raízes do golpismo no Brasil

    Teixeira destacou que a permanência do golpismo nas Forças Armadas brasileiras é resultado de uma impunidade histórica e da falta de reformas estruturais desde a redemocratização. "Desde 1964, o traço principal da relação entre os militares e a República é a impunidade. Não houve punição adequada, e isso legitima a possibilidade de novos golpes", afirmou. Ele também criticou a atuação das organizações militares durante o governo de Jair Bolsonaro, argumentando que essas instituições participaram ativamente de movimentos antidemocráticos. "Não foram só três ou quatro oficiais. Houve logística, como água, comida e energia elétrica, para os acampamentos golpistas", pontuou.

    O historiador enfatizou que a candidatura de Bolsonaro, com apoio dos generais, representou um agravamento do contexto político. "Quando o Bolsonaro se colocou candidato com apoio dos generais, é pior do que 2018, é pior do que a conspiração de 2016, é pior do que 1964. Agora, eles partiram para a ideia de que não é aceitável nenhum dos lados da República, nem o PSDB — que eles continuam chamando o Alckmin de PSDB —, nem o PT, e que o objetivo deles é extinguir a República", declarou.

    Teixeira destacou ainda que o alto comando militar esteve alinhado a Bolsonaro desde antes de sua eleição, utilizando-o como um "cavalo de Troia" para interesses próprios. Segundo ele, a defesa de Bolsonaro agora tenta transferir responsabilidades para o ex-presidente, enquanto generais evitam qualquer implicação direta. "Bolsonaro sempre age como se o erro fosse dos outros, nunca dele", criticou.

    A fragilidade institucional da República

    Chico Teixeira também discutiu os desafios institucionais enfrentados pelo Brasil em lidar com tentativas de golpe. Ele criticou a estrutura do Ministério da Defesa e a falta de mecanismos de controle civil sobre as Forças Armadas. "Nos Estados Unidos, há uma comissão bipartidária poderosa que atuaria em casos de conspiração. Aqui, temos uma Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional que não tem qualquer eficácia para lidar com essas situações", analisou.

    O professor sugeriu a criação de uma força nacional civil subordinada ao Ministério da Justiça, similar à Guarda Nacional em países como França e Espanha. "Manter os militares como garantes da Constituição é um erro colossal. A República precisa ser desmilitarizada, com as Forças Armadas focadas em proteger as fronteiras, e não em atuar internamente", argumentou.

    O risco persistente de novas conspirações

    Para Teixeira, a recente pressão de militares sobre o governo Lula em temas como a reforma da Previdência é um indicativo de que os setores golpistas permanecem ativos. Ele alertou que, sem mudanças profundas nos currículos das academias militares e nos processos de formação, o Brasil continuará vulnerável a conspirações internas. "Se nós não combatermos isso através da reforma das escolas, das academias, dos currículos, do treinamento, das viagens ao exterior para formação, nós continuaremos vivendo sob risco", afirmou.

    Ele reforçou que há um projeto ativo dentro das Forças Armadas para desestabilizar a República. "Esse pensamento que você falou, e que não nos serve, nem PSDB nem PT, a gente entende o que significa isso, mas esse pensamento é dominante", acrescentou.

    A entrevista também abordou a geopolítica global, destacando a possível influência de uma futura administração Trump nos Estados Unidos sobre a América Latina. Segundo Teixeira, o alinhamento estratégico dos Estados Unidos com governos militares da região pode pressionar ainda mais a soberania de países como o Brasil, especialmente no contexto de sua relação com a China.

    A análise de Chico Teixeira reforça a urgência de reformas estruturais para conter a influência militar na política brasileira e proteger a democracia. "Se continuarmos ignorando o risco, viveremos sob a constante ameaça de novos golpes", concluiu o historiador. Assista: 

     

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