"O investimento no BRICS é fundamental para equilibrar o poder econômico global", diz Ladislau Dowbor
Ladislau Dowbor defende a cooperação entre países emergentes para enfrentar desigualdades e a concentração de poder nas grandes corporações
247 - Em entrevista recente ao programa Giro das Onze, o economista e professor Ladislau Dowbor discutiu a importância da cooperação entre os países emergentes, destacando o papel dos BRICS como uma alternativa estratégica ao modelo econômico centrado nos Estados Unidos. Dowbor, que é amplamente reconhecido por suas análises críticas sobre as disparidades globais, explicou que a aliança entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul pode ser um passo significativo para um equilíbrio financeiro mais justo e independente da influência de grandes corporações financeiras internacionais.
Durante a entrevista, Dowbor expôs dados contundentes sobre a concentração de riqueza e os impactos sociais devastadores dessa desigualdade. “A riqueza do 1% mais rico do planeta é equivalente a 250 trilhões de dólares, enquanto a metade mais pobre da população mundial, composta por quatro bilhões de pessoas, acumula apenas 5 trilhões”, afirmou Dowbor. O professor enfatizou que, para reduzir essa disparidade, é preciso adotar políticas de redistribuição de renda mais eficazes e um fortalecimento das alianças entre países emergentes, que dependem menos das potências ocidentais e mais de uma cooperação global baseada na justiça econômica.
O avanço da desigualdade e a fragilidade do sistema financeiro
Dowbor abordou a fragilidade estrutural do sistema financeiro global, destacando o poder de grupos como BlackRock, Vanguard e Fidelity, que controlam trilhões de dólares em ativos e detêm ações em praticamente todas as grandes empresas, incluindo redes sociais, tecnologia e setores essenciais como saúde e alimentação. Ele frisou que esse controle centralizado restringe a autonomia econômica dos países e direciona os recursos para os interesses desses grandes conglomerados, em detrimento de investimentos que poderiam reduzir as desigualdades. “O problema não é apenas a personalidade de líderes como Trump, mas as forças econômicas que os alçam ao poder. As corporações manipulam os sentimentos de frustração e ódio para garantir que seus interesses continuem no topo das prioridades políticas”, destacou.
Essa dinâmica, segundo o professor, não é exclusividade dos EUA. Ele observou que países como o Brasil e nações da Europa também enfrentam o mesmo cerco financeiro, onde as políticas de juros altos e os cortes de gastos públicos impõem um custo social elevado. “No Brasil, apenas os juros da dívida pública custam cerca de 800 bilhões de reais ao ano, enquanto o orçamento da saúde é de 320 bilhões. Esse é um dreno que impede o desenvolvimento social e econômico do país”, explicou.
BRICS como alternativa para o equilíbrio de poder
Dowbor enxerga no BRICS uma oportunidade para os países emergentes ampliarem suas margens de negociação e construírem uma economia mais autônoma. Ele destaca que a expansão da aliança com a China e a Rússia pode ajudar a criar um sistema financeiro menos dependente do dólar e mais resiliente às flutuações das políticas monetárias dos EUA. “Não temos um governo mundial, mas temos uma economia mundializada que está à mercê do dólar. Ao reforçar o BRICS, o Brasil e outros países podem construir um contrapeso a essa hegemonia”, explicou Dowbor.
Ao responder sobre a postura de Trump em relação ao bloco, Dowbor foi categórico ao afirmar que o ex-presidente dos EUA “sempre foi contrário ao fortalecimento dos BRICS, por ser uma aliança que desafia o dólar como moeda de transação internacional”. Ele acrescentou que o crescimento das economias emergentes e sua integração podem representar um desafio para a supremacia econômica e política norte-americana, que tende a se opor a qualquer movimento que desvie fluxos financeiros dos EUA.
O impacto das políticas neoliberais e o papel dos BRICS na resistência
Dowbor fez críticas ao modelo neoliberal que, segundo ele, prioriza os lucros das grandes corporações em detrimento do bem-estar social e ambiental. Ele pontuou que o governo de Trump exemplifica essa ideologia ao cortar impostos para grandes empresas e enfraquecer regulamentos ambientais e de saúde, favorecendo o lucro das corporações. “Trump não é um neoliberal no sentido clássico, mas ele representa o interesse das grandes corporações. Seu governo liberou geral, permitindo que corporações maximizassem seus lucros independentemente do impacto social e ambiental”, concluiu.
O professor ressaltou que, ao investir no BRICS, os países emergentes podem criar um sistema mais justo, com a capacidade de alavancar o desenvolvimento interno e proteger as políticas públicas. Ele destacou que a China, com seu modelo de crescimento focado no bem-estar social e na economia real, já representa uma alternativa tangível ao modelo centrado nos EUA.
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