“O julgamento dos militares na Argentina mudou o país”, diz Ocampo
Luis Moreno Ocampo defende que Brasil julgue os golpistas de 8 de janeiro: “Isso é fundamental para a democracia”
247 - Famoso por sua atuação como promotor no tribunal que julgou a Junta Militar, o argentino Luis Moreno Ocampo considera essencial que os responsáveis pela tentativa de golpe no Brasil sejam levados à Justiça. Em entrevista ao programa Mario Vitor e Regina Zappa, Ocampo — que foi o primeiro procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional — afirmou: “Um dos impactos mais importantes do julgamento da Junta Militar na Argentina foi que a elite do país deixou de utilizar os militares para chegar ao poder. Isso foi fundamental. Portanto, é também fundamental que, no Brasil, a elite política e econômica não tente mais usar os militares para chegar ao poder.”
Ocampo relembrou que, quando a democracia chegou à Argentina, em 1983, “não se conhecia os crimes cometidos pela ditadura e se pensava que era normal matar gente”. No entanto, segundo ele, os argentinos logo entenderam que isso era errado, que não se podia matar e que os responsáveis deveriam ser julgados. “Isso mudou o país. O julgamento dos militares foi fundamental para a democracia. Todos reconhecem e respeitam o tribunal.” E acrescentou: “Os militares argentinos foram enquadrados. Hoje não têm nenhum papel político.”
Ao comentar a situação brasileira, Ocampo ressaltou a importância de se responsabilizar os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. “Gostei que no Brasil muitos políticos da oposição se colocaram contra a tentativa de golpe. Fiquei assustado porque, nos Estados Unidos, muitos senadores apoiaram a invasão do Capitólio.”
O promotor também falou sobre o papel do cinema na formação de consciência histórica. “O filme 1985 (sobre o julgamento da Junta Militar argentina) foi um grande sucesso, muito popular. Mostrou como se pode ajudar a sociedade a entender o que aconteceu. Do mesmo jeito, o filme brasileiro Ainda estou aqui permite que pessoas que não são politizadas compreendam o que é uma ditadura.”Em 2011, a revista The Atlantic incluiu Ocampo entre os seus "Brave Thinkers", pessoas que arriscam reputação e vida em busca de grandes ideais. No mesmo ano, a Foreign Policy o apontou como um dos "100 maiores pensadores globais".
Seu trabalho no Tribunal Penal Internacional atualmente trata do genocídio em Gaza, entre outros temas. “A corte penal afirma que há provas plausíveis de que o povo de Gaza está sofrendo um genocídio. Mas o Tribunal levantou um caso mais simples e claro, que é o bloqueio de água e comida para o povo de Gaza por parte do governo de Israel. Isso é um crime de desumanidade, um crime de guerra. Não se pode atacar civis em uma guerra.” Assista:
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