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“O ódio de Bolsonaro reflete o racismo contra nordestinos”, diz Liana Cirne Lins

Declarações de Bolsonaro reavivam discussão sobre o preconceito histórico contra o Nordeste e a importância de políticas públicas inclusivas.

Liana Lins e Jair Bolsonaro (Foto: Guga Matos/CMR | ABR)

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247 - Jair Bolsonaro (PL) voltou a causar polêmica ao atacar a região Nordeste do Brasil durante uma entrevista à TV Pampa na última sexta-feira (26). Suas declarações rapidamente viralizaram nas redes sociais.

Na entrevista, Bolsonaro discutiu sobre o fluxo migratório interno do país, apontando o Nordeste como "a pior região do Brasil". 

"Como há o fluxo migratório do Nordeste pra cá, Sudeste e até Centro-Oeste. O Nordeste que deveria ser a melhor região do Brasil é a pior em todos os aspectos que você possa imaginar. Eu não posso entender se vem um nordestino para cá, Rio Grande do Sul, saiu de lá para vir votar em candidatos do PT, PSOL, então... isso aí. Tem que ser estudado o cidadão", afirmou.

Para a jurista e vereadora pelo Recife, Liana Cirne Lins (PT-PE), as declarações refletem um racismo histórico e estrutural contra nordestinos no Brasil.

Segundo Liana, “o racismo contra o povo nordestino existe há muito tempo" e é um racismo que "impulsionou políticas profundamente injustas e desiguais".

"Foi o racismo que fez com que o Nordeste fosse uma das regiões em que menos recursos públicos fossem investidos. E é exatamente por isso que a Constituição de 88 colocou a busca da igualdade regional como um princípio fundante da nossa República Federativa”, argumentou.

Nordeste negligenciado

Ela aponta que, historicamente, o Nordeste foi negligenciado por muitos governos, com exceção notável de Luiz Inácio Lula da Silva, que reconheceu a importância do princípio federativo e investiu na região.

“O único presidente da história do Brasil que pareceu compreender o princípio federativo foi Luiz Inácio Lula da Silva. O único que fez investimentos realmente determinantes para que o Nordeste pudesse alçar uma realidade diferente”, frisou.

A vereadora e pré-candidata à reeleição reforça que as declarações de Bolsonaro não só promovem, mas também refletem um racismo enraizado nas regiões Sul e Sudeste do Brasil contra os nordestinos.

“O ódio de Bolsonaro ao mesmo tempo promove e reflete o racismo do Sudeste, do Sul contra nordestinos. Eu quero lembrar, que sou natural do Rio Grande do Sul, mas sendo filha, neta e bisneta de nordestinos eu vivenciei na minha pele, na minha família, muitas vezes, o racismo contra nordestinos pelo fato do meu pai e da minha mãe serem nordestinos, com um sotaque muito carregado.”

A jurista ressalta a discriminação velada que muitas vezes se manifesta em discursos que minimizam a cultura e a contribuição nordestina ao Brasil, insistindo que os preconceitos sobre a inferioridade dos nordestinos são injustificáveis.

“Eu acho que Bolsonaro, ao mesmo tempo que promove esse racismo, também reflete esse racismo que já existe, que é essa cultura nojenta de que os nordestinos, por algum motivo, seriam inferiores. Quando é o contrário. Quando os maiores nomes no cinema, na música, no teatro, na literatura, na literatura jurídica, os maiores nomes sempre estão os nordestinos, sempre, numa proporção assim de arrasa-quarteirão. Nós fomos colocados num lugar da pobreza. Mas por que essa pobreza? Uma pobreza que foi fruto de políticas públicas. A pobreza do Nordeste não é uma casualidade. A pobreza foi o resultado de políticas racistas contra nós, de falta de investimentos públicos em relação a nós. E isso também reflete o ódio ao Lula também, que é um homem nordestino”.

Ciclo de discriminação

Além disso, Liana Cirne Lins acredita que as atitudes de Bolsonaro apenas perpetuam um ciclo de discriminação que precisa ser enfrentado com ações governamentais efetivas: “Esse racismo de Bolsonaro contra nós reflete e promove, retroalimenta. E nós precisamos enfrentar esse sentimento. Agora, só vamos enfrentar com políticas públicas como as do presidente Lula, que têm de fato investido nos nossos institutos federais, nas nossas universidades federais, que têm investido no PAA (Programa de Aquisição de Alimentos)", elencou.

Ela conclui contestando a visão deturpada de que o voto nordestino em partidos de esquerda é uma demonstração de ignorância.

“Dizer que o nordestino sai do Nordeste para votar no PT e no PSOL lá no Sul ou no Sudeste, falando como se isso fosse imagem da nossa falta de cultura. Quando nós somos invejáveis do ponto de vista intelectual. Os maiores intelectuais do Brasil são nordestinos. A gente é motivo de inveja, não de pena”, finalizou.

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