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    'Os russos são os negros do gelo': Pepe Escobar explica a russofobia e a disputa pela nova ordem global

    Jornalista aponta raízes históricas da russofobia e como o Ocidente teme a ascensão de um mundo multipolar

    (Foto: Brasil 247)
    Luis Mauro Filho avatar
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    247 - A russofobia, sentimento historicamente enraizado nas elites europeias, voltou a ganhar força no contexto da guerra na Ucrânia e do avanço da multipolaridade no cenário internacional. Em entrevista à TV 247 nesta quarta-feira (5), o jornalista Pepe Escobar afirmou que "a russofobia está entranhada nas elites europeias" e que esse fenômeno tem raízes seculares, remontando à derrota de Napoleão diante da Rússia no século XIX. Segundo ele, "até hoje a França não digeriu a derrota de Napoleão".

    A percepção dos russos como uma civilização estrangeira e bárbara é uma narrativa que atravessa os séculos na Europa Ocidental. "Muitos europeus veem os russos como bárbaros. Para os europeus, os russos são os 'negros do gelo'", afirmou Escobar, em uma analogia que escancara o racismo embutido na visão ocidental sobre o leste europeu. A construção dessa imagem foi reforçada por diversos momentos históricos, como as invasões napoleônicas, a Guerra da Crimeia no século XIX, a Revolução Russa de 1917 e a Guerra Fria, consolidando um sentimento de desconfiança e hostilidade que persiste até os dias atuais.

    A atual ofensiva da mídia e dos governos ocidentais contra a Rússia, especialmente após o início do conflito na Ucrânia em 2022, insere-se nesse mesmo contexto. Para Escobar, há uma rejeição estrutural das elites europeias à Rússia como potência autônoma, o que se traduz na demonização de sua política externa e na tentativa de isolamento econômico e diplomático do país. No entanto, ele alerta que essa estratégia pode estar se esgotando diante das mudanças na ordem global. "Os russos não querem um cessar-fogo. Eles querem uma discussão ampla sobre uma nova ordem internacional, com novas esferas de influência", destacou.

    A crise da hegemonia ocidental e o papel dos BRICS

    O avanço da Rússia e da China como potências globais desafiadoras da hegemonia dos Estados Unidos e da União Europeia tem sido um dos principais eixos do debate geopolítico contemporâneo. Segundo Escobar, o fortalecimento dos BRICS e a crescente adesão de novos países ao bloco evidenciam um processo irreversível de transição para um mundo multipolar. Em análises anteriores, o jornalista já havia ressaltado que, apesar das resistências internas e externas, o BRICS segue consolidando uma estrutura alternativa ao modelo unipolar liderado pelo Ocidente.

    A recente reaproximação entre Rússia e Estados Unidos, mencionada por Escobar em suas colunas, também se insere nessa disputa por uma nova configuração global. A necessidade de um diálogo mais pragmático entre as potências pode levar a uma reformulação dos blocos de influência, ainda que a russofobia siga sendo um elemento forte na política externa de muitos países europeus.

    Nesse cenário, as tentativas de isolar a Rússia podem acabar tendo o efeito oposto ao esperado pelas potências ocidentais. A aliança estratégica entre Moscou e Pequim, o fortalecimento das relações comerciais com países do Sul Global e o crescimento do BRICS demonstram que há um caminho sendo traçado para além das sanções e das barreiras impostas pelo Ocidente. Como Escobar ressalta, a Rússia não busca apenas um cessar-fogo, mas uma reestruturação completa da ordem mundial, na qual as antigas potências coloniais europeias terão que aceitar uma nova realidade multipolar. Assista:

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