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    Teste de gênero que excluiu boxeadora argelina de competição não serve como parâmetro, apontam especialistas

    O caso de Imane Khelif causou polêmica nas Olimpíadas após sua adversária desistir por receber apenas um golpe

    Pugilista argelina Imane Khelif 01/08/2024 REUTERS/Isabel Infantes (Foto: Isabel Infantes)

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    247 - Os testes de elegibilidade de gênero que excluíram a boxeadora argelina Imane Khelif  do Campeonato Mundial de Boxe de 2023 da Associação Internacional de Boxe (IBA) não servem como parâmetro, explicam especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo. O caso de Khelif causou grande polêmica pela desistência de sua adversária, a italiana Angela Carini, após receber apenas um golpe em confronto válido pelas Olimpíadas de Paris. Após a luta, a argelina sofreu com desinformação e ataques transfóbicos, mesmo sendo uma mulher cisgênero.

    Imane Kherif sofre com uma condição que aumenta os níveis de testosterona, hormônio sexual masculino, em seu corpo, o que pode lhe dar vantagem sobre as adversárias. Os testes de gênero foram abolidos pelo Comitê Olímpico Internacional nos anos 2000, mas algumas entidades esportivas ainda o utilizam, como é o caso da IBA. Umar Kremlev, presidente da organização, disse que foram identificadas atletas que tentaram enganar seus colegas fingindo ser mulheres".

    No entanto, a professora Kátia Rúbio, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), afirma que esses testes não servem como parâmetro, já que o determinante biológico não define mais o que é homem ou mulher. "A identidade passa pela questão social. Tem de entrar nessa balança os argumentos sociais e psicológicos. No entanto, a discussão segue no âmbito biológico e, infelizmente, quem dá as cartas nesse contexto é a medicina, o que é um absurdo. A medicina usa um critério aleatório. Quem define que com 4 nanomol de testosterona eu sou mulher e com 5 eu sou homem?", questiona.

    Já o professor Roberto Friedman, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz estranhar a situação. "Não está clara a situação da atleta da Argélia. Ela tem naturalmente mais hormônios e podem exigir dela um tratamento para diminuir esses hormônios e ficar mais compatível com as outras atletas. Para alguns, esse tratamento é suficiente, mas, para outros, segue injusto para as outras atletas", disse.

    O tratamento para diminuição de hormônios citado por Friedman pode ter efeitos negativos para a saúde das atletas, como no caso de Caster Semenya, atleta sul-africana que possui condição semelhante com a de Kherif. Semenya relatou ter ficado nauseada, deprimida e mentalmente exausta, além de ter dificuldades para dormir e experimentar ataques de pânico após o tratamento. "Como ela não é transgênero, qualquer remédio para diminuir os hormônios pode provocar malefícios para o corpo", afirma Professor de ginecologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Raphael Câmara. 

    Segundo Kátia Rúbio, o debate sobre o tema deve aumentar nos próximos anos com o crescimento no número de atletas não identificados com nenhum gênero. "O COI tem sido ambíguo nas decisões. Para não se envolver, foi delegar às federações internacionais a decisão sobre o que se aceita como homem ou mulher. "Estão confundindo atletas trans com intersexo, e tem muita gente falando bobagem", explica.

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