Brincar é preciso. Durante os folguedos o cérebro da criança se constrói
Deixe as crianças pequenas brincar à vontade. Antes da idade escolar, pressionar os muito jovens para acelerar sua formação é na verdade contraproducente. Quanto mais física e corporal for a brincadeira, tanto melhor.
Por: Pauline Fréour – Le Figaro Santé
Bater na panela com uma colher, pular amarelinha, brincar de esconde-esconde, o repertório das brincadeiras infantis forma uma lista que não tem fim. Brincar é, antes de tudo, um prazer. Mas seria um erro esquecer que é também a pedra angular do desenvolvimento da criança. “Brincar não é apoenas um passatempo sem maiores consequências. É através das brincadeiras que o cérebro se constrói”, faz questão de lembrar a Academia Americana de pediatria, alarmada diante da progressiva diminuição do tempo dedicado às brincadeiras no dia-a-dia dos mais pequenos, para ceder lugar a outras atividades consideradas mais formadoras.
Em estudo publicado em agosto na revista Pediatrics, os especialistas se mostram inquietos e preocupados face a uma tendência que se manifesta hoje em nossa sociedade de inserir as crianças no aprendizado acadêmico demasiado cedo. “Nos Estados Unidos, 30% das crianças na fase maternal tem suas horas de recreação reduzidas e até mesmo suprimidas para que possam frequentar cursos regulares. Entre 1981 e 1997, as crianças com idade entre 3 e 11 anos perderam doze horas de tempo de brincadeiras por semana”, informa esse artigo científico.
O desejo, em princípio lícito, de assegurar à própria progenitura o melhor futuro possível e de fazer com que a criança alcance o seu pleno potencial é compartilhado por numerosos pais que, malgrado essa vontade de fazer o melhor, fazem muitas vezes escolhas contraproducentes, alertam os pediatras daquela Academia. Esses especialistas lembram que os países que ainda mantêm a tradição de longas recreações também alcançam bons resultados escolares. Além disso, a pesquisa científica mostra que as brincadeiras na vida real favorecem bem mais a aprendizagem do que os melhores aplicativos produzidos para smartphones e tablets.
Um espaço de liberdade
Os benefícios produzidos pelos jogos e brincadeiras são, por outro lado, bastante conhecidos e bem documentados. Ao brincar, a criança aprende a interagir com os outros, a intervir quando chega a sua vez, a acertas as diferenças através do diálogo e a se concentrar. Ela explora os objetos e a mundo que a cerca, aprende a se adaptar a situações novas e repete cenas e situações vividas para melhor se apropriar delas. Adquire igualmente as bases da linguagem e das matemáticas.
“Quando uma criança brinca, essa é para ela uma atividade muito séria”, confirma Sophie Marinopoulos, autora “Dites-moi à quoi il joue, je vous dirai comment il va” (Diga-me qual brincadeira ela prefere, eu direi como ela está, Editora Marabout). Da mesma forma que um cientista, “ela conduz suas próprias experiências que se tornam lúdicas a partir do momento em que ela sente prazer em repeti-las. Ele faz tentativas-e-erros constantemente e adquire desse modo o conhecimento através da experiência. Cada criança avança a partir do seu próprio ritmo, mas todos avançam na mesma direção. Por tal motivo não podemos julgar o desenvolvimento de um jogo ou de uma brincadeira a partir de noções de bom ou mau”, ressalta a psicóloga, fundadora do centro de acolhimento “Les pâtes au beurre”, dedicado às famílias, na cidade de Nantes. Certas situações, por sinal, são enganosas: “Ao redor dos dezoito meses, dois anos, a criança brinca de enganar a si mesma – tentando, por exemplo, colocar a peça redonda no buraco destinado à peça em forma de estrela. Ela sabe que isso não irá funcionar, e esse conhecimento lhe traz alegria”.
A brincadeira deve permanecer, portanto, como um espaço de liberdade para a criança, sem outra finalidade que a de fazer com que ela desfrute dessa liberdade. “Enquanto uma criança tem vontade de continuar brincando, é preciso deixar que ela continue, pois isso significa que tal brincadeira lhe está proporcionando alguma coisa”, considera a professora Raphaële Miljkovitch (Universidade Paris 8), cofundadora do Centro de Aconselhamento em Educação e Escolaridade. Sophie Marinopoulos chega mesmo a autorizar a criança a guardar consigo alguns dos seus brinquedos “de bebê” preferidos, pois isso a ajudará a se lembrar a que ponta ela cresceu e se desenvolveu.
E o adulto nisso tudo? “Ele está lá simplesmente para estar presente, estar ao lado, mas não para fazer papel de criança e muito menos para julgar as ações da criança”, aconselha Sophie Marinopoulos. Por outro lado, é inútil o adulto se sentir culpado se brincar com miniaturas de automóveis ou cozinhar legumes de matéria plástica lhe traz pouco ou nenhum entusiasmo. “Também não é o caso de demonstrar de repente um excessivo entusiasmo pela atividade lúdica”, coloca Raphaële Miljkovitch. Os pais também têm a sua própria vida e seus afazeres para cuidar. Além do que, cuidar em excesso de uma criança pode prejudicar o desenvolvimento das suas capacidades de tomada de iniciativa e de criatividade.
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