Caso Ágatha Félix: policial acusado de disparo fatal é absolvido após julgamento de júri popular no Rio de Janeiro
José de Matos Soares foi apontado como autor do disparo que atingiu a menina nas costas
247 - Após cinco anos da morte trágica de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, um júri popular absolveu o policial militar Rodrigo José de Matos Soares, apontado como autor do disparo que atingiu a menina nas costas enquanto ela estava dentro de uma Kombi com a mãe, na comunidade da Fazendinha, Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. As informações são do G1.
Durante o julgamento, Vanessa Sales, mãe de Ágatha, trouxe um dos momentos mais comoventes do tribunal, ao recordar como foi o momento do disparo. “Eu não estava entendendo. Aconteceu um barulho que parecia uma bomba e ela gritando ‘mãe, mãe, mãe’. Eu falando ‘filha, calma’. E até hoje quando eu chego em casa e tenho aquele sentimento assim de que tá faltando”, relatou emocionada. O depoimento trouxe à tona as emoções do dia, que marcou a vida da família e sensibilizou a sociedade.
No entanto, o Conselho de Sentença, formado por cinco homens e duas mulheres, concluiu que, embora Rodrigo Soares tenha sido o autor do tiro, “foi sem intenção de matar”. A decisão gerou reações intensas entre os familiares de Ágatha, especialmente da tia da criança, que ao sair do julgamento declarou: “Eu tô com ódio, com ódio”.
Contradições e Defesa
A investigação conduzida pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) apresentou evidências que contestaram a versão inicial do policial, segundo a qual ele e um colega teriam sido alvo de disparos feitos por ocupantes de uma motocicleta que passava pelo local. Segundo a perícia, o tiro que atingiu Ágatha teria ricocheteado em um poste antes de perfurar o veículo e alcançar a menina, o que, de acordo com o laudo, teria ocorrido por um estilhaço que entrou pela traseira da Kombi, rasgando o forro do assento e perfurando as costas da criança, saindo pelo tórax.
Rodrigo Soares participou da reconstituição da morte da menina, realizada dez dias após o ocorrido. Colegas do cabo afirmaram que ele estava “sob forte tensão” no momento do disparo, devido ao assassinato de outro policial militar na mesma comunidade dias antes.
A defesa do policial se manteve firme na argumentação de que ele não teve intenção de atingir a criança e que qualquer condenação seria “extremamente injusta”. Dois peritos convocados pela defesa forneceram esclarecimentos sobre a investigação, reforçando a tese de que o disparo foi acidental e que Soares agiu sem dolo.
Testemunhas e Emocionante Espera pela Justiça
Durante o julgamento, o júri ouviu quatro policiais militares que estavam com Rodrigo no local do incidente. Eles reafirmaram a versão inicial do PM, indicando que os disparos vieram de uma moto. Entretanto, testemunhas de acusação contestaram esse relato. Ao todo, cinco testemunhas foram convocadas, uma delas faltando ao julgamento, o que levou o juiz a decidir pela exibição de um vídeo de seu depoimento ao Ministério Público.
Antes da audiência, Vanessa Sales expressou a dor e a espera de sua família por esse momento. “Há 5 anos, eu e a minha família aguardamos por este dia. Não está sendo fácil. [É] Até uma resposta para toda a sociedade, para todos aqueles que choraram junto conosco. Para todas as famílias que ainda aguardam uma audiência, aguardam um julgamento e que possa ocorrer a justiça. Que o réu venha pagar pelo que ele fez”, disse ela ao programa Bom Dia Rio, da TV Globo.
O Impacto do Caso na Comunidade
A morte de Ágatha trouxe à tona debates sobre a violência policial nas favelas do Rio de Janeiro, especialmente sobre os riscos enfrentados pelas crianças e moradores dessas áreas. A absolvição do policial reacende uma ferida aberta e divide a opinião pública, em um caso que permanece emblemático nas discussões sobre segurança pública e direitos humanos na cidade.
O Complexo do Alemão, marcado pela presença frequente de operações policiais e tiroteios, assistiu, através deste julgamento, a uma tentativa de resposta jurídica que, para a família de Ágatha e muitos moradores, ainda deixa um longo caminho para a busca de justiça e paz.
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