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    Dia do ciclista: racismo estrutural está presente até na construção de ciclovias, diz especialista

    A arquiteta do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) Kelly Fernandes comenta que toda vez que a prefeitura investe na implantação de uma ciclovia, ela nunca começa pela periferia da cidade

    Ciclovia da Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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    Em entrevista ao Canal Bike no Ar TV, a arquiteta do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) Kelly Fernandes afirma que o racismo estrutural está presente em todas as nossas relações, sejam elas quais forem. “Principalmente porque ele se esconde dentro de práticas que muitas vezes são institucionalizadas e se tornam praticamente invisíveis”.

    Kelly é especialista em Economia Urbana e Gestão Pública e há sete anos trabalha com transporte e mobilidade urbana e planejamento de sistema de transporte de média e alta capacidade, que é o Metrô, o trem e o sistema BRT (Bus rapid transit). Ela comenta que toda vez que a prefeitura investe na implantação de uma ciclovia, ela nunca começa pela periferia da cidade. 

    “Quando se fala de racismo estrutural a localização das pessoas é uma chave muito importante para enxergar essa prática na cidade. Olhando os dados do censo demográfico conseguimos verificar que as pessoas negras, que são as pessoas pretas e pardas, são moradoras de periferia e são empobrecidas em sua maioria”, diz. Ela explica que se o gestor não construir infraestrutura, conectando essas pessoas ao emprego, à educação, ao lazer, de modo que consigam chegar de bicicleta, que é muito mais barato e acessível, ele está reproduzindo racismo estrutural no planejamento da infraestrutura cicloviária.

    A arquiteta reforça que o racismo estrutural está previsto nas políticas públicas de maneira invisível. “Ele está enraizado na hora que se desenha a política pública e na implantação da infraestrutura cicloviária, dos paraciclos, das estações de compartilhamento de bicicleta, é assim que o racismo aparece”, afirma. 

    Nos últimos anos, a sociedade começou a entender o quanto a estrutura cicloviária é importante. As pessoas começaram a entender que a forma mais segura de se deslocar nas cidades era com infraestrutura prioritária para quem usa a bicicleta e começaram a pautar o poder público exigindo a construção de ciclofaixas, ciclorrotas e ciclovias. 

    Kelly lembra como foi esse processo na cidade de São Paulo. “No início houve muito enfrentamento de alguns setores, que diziam que era gasto de dinheiro público em algo que não era prioritário, pois não havia ciclistas na cidade. Mas na verdade eles eram invisíveis, principalmente para a parcela da população que tem maior capital político e econômico”.

    Ela comenta que atualmente a capital paulista tem em torno de 500 km de estrutura cicloviária construída e uma infraestrutura planejada, porém ainda não implantada. “Muitos setores ainda são resistentes à expansão das ciclovias, mas talvez agora, com a pandemia, esse tema ganhe mais evidência e força para que possamos expandir o nosso sistema para a periferia da cidade onde tem muitos ciclistas que se deslocam entre os bairros e também para a região central da cidade para trabalhar. “Existe uma disputa por espaço entre o carro e a bicicleta e precisamos vencer essa batalha”, afirma.

    Confira a entrevista completa no Canal Bike No Ar TV, no Youtube:

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