A esquerda tem dificuldade de compreender o significado do governo Donald Trump
Erram aqueles que insistem em caracterizar Donald Trump de novo Adolf Hitler, chefe da extrema direita internacional
Nada mais errôneo do que trocar fatos pela imaginação. E não seria a primeira vez. Os marqueteiros petistas nos primeiros governos (Lula I e II e Dilma I) contribuíram para deseducar os trabalhadores ao confundir o aumento de renda com ascensão à classe média. Como lembra Jessé de Souza, quando do golpe de 2016, ninguém explicou aos remediados o porquê de sua perda de poder aquisitivo. Por meio da Operação Lava Jato, reiterou-se a criminalização da política e uma parte do eleitorado petista/lulista foi jogado nos braços dos neopentecostais e da extrema direita.
Do mesmo modo, erram aqueles que insistem em caracterizar Donald Trump de novo Adolf Hitler, chefe da extrema direita internacional. Nada mais fantasioso. Chamá-lo de nazista é totalmente anacrônico e favorece a confusão. Tem gente inclusive esperando uma nova Conferência de Yalta, na qual as forças aliadas se uniriam contra o perigo fascista.
Em meu entendimento, Donald Trump é um ditador no sentido romano, alguém com poderes para atuar em um momento de crise.
Para deter o evidente declínio do Império estadunidense, por isso o Make America Great Again, ele está promovendo uma revolução conservadora de modo a quebrar a polarização no interior dos EUA. De que modo: tirando as fontes de financiamento, por exemplo, das políticas de diversidade existentes desde a administração Bill Clinton. E um dos locus mais institucionalizados da Cultura Woke, o Departamento de Educação dos EUA.
Outro ponto fundamental, inclusive percebido pelo presidente Lula quando encontrou-se com Barack Obama pela primeira vez (ele estava sozinho, disse o presidente em uma certa ocasião). De fato, o presidente dos EUA, como Obama, por exemplo, não tem controle dos gastos públicos. E como é de conhecimento de todos, a máquina pública é um poço sem fundo onde o dinheiro desaparece. Vejam por exemplo o resultado das auditorias externas do Pentágono.
Além disso, ele está desmontado a máquina neocon que configura o Deep State, por exemplo, demitindo todos os funcionários vinculados à guerra na Ucrânia e oferecendo 8 meses de salário para aqueles que quiserem pedir demissão na CIA. Mas, pior, colocando uma figura crítica das ações belicistas dos EUA, Tulsi Gabbard na Direção Nacional de Inteligência.
Subestimar o inimigo é a pior forma de ler a realidade. Como dizia Sun Tzu: Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...Trump é um sujeito popular capaz de fazer mudanças que os EUA precisam para se posicionar em um mundo multipolar.
Observem a declaração de Marco Rubio, chefe do Departamento de Estado, na qual afirmou que a ordem unipolar foi uma anomalia fruto do fim da Guerra Fria e que este período acabou. E que agora os EUA devem defender apenas os seus interesses. Por isso, suas políticas de tarifas de modo a reduzir o déficit comercial, favorecer um processo de reindustrialização e garantir a permanência do dólar como moeda central nas transações econômicas e financeiras internacionais. Objetivos que segundo o célebre economista Michael Hudson afirma serem contraditórios e que levarão a uma gigantesca crise financeira, já que muitos países não terão como pagar a dívida externa.
Algo nos diz que diferente dos Democratas, ele não tem compromisso com as instituições pós-1945, com a globalização e tampouco com a perspectiva multiculturalista por meio da qual queriam pasteurizar as demais culturas (O Banco Mundial em 2024, vetou um financiamento a Gana porque o país africano aprovou uma lei condenando o homossexualismo) e justificar desde 1998, ações militares da OTAN, legitimadas pela responsabilidade de proteger os direitos humanos.
Desde 1945, a hegemonia estadunidense se dá por meio de instituições multilaterais, entre elas o sistema ONU, que no fundo queriam revogar o padrão de relações internacionais baseados na Paz de Westphalia, vigente desde o século XVII. Construiu-se uma arquitetura de governança global com finalidade de eliminar ou reduzir o peso dos Estados Nacionais. Pior, criaram outros atores envolvidos nas relações internacionais: empresas e organizações não governamentais. Trump e os que o apoiam querem modificar isso, pois é muito dispendioso e, no seu entendimento atuam para dissolver o poder dos EUA, por isso tirou o país dessas organizações como Acordo de Paris, Organização Mundial de Saúde e Comissão de Direitos Humanos da ONU. Como vimos nestes dias, o presidente estadunidense prefere relações bilaterais.
Neste sentido, o seu desprezo pela União Europeia é incrível. Ursula von der Leyen até hoje não foi recebida por Trump. Ele exige dos seus vassalos do extremo oeste da Ásia que comprem mais gás liquefeito de petróleo, mais armas, enquanto a desvalorização do Euro e a crise econômica permita a transferência de capitais para os EUA, e os fundos como Avangard e BlackRock podem se apropriar de empresas e todo tipo de serviço público que ainda não foi privatizado.
Todos eles combinados com as elites de Silicon Valley, caso consigam realizar seus sonhos, como nos lembram vários intelectuais, entre eles, Javier Martinez, desejam consolidar uma dominação tecnicofeudalista, ou pós-capitalistas nas palavras de outro analista espanhol, Adrian Zelaia.
Infelizmente, caminhamos de mãos dadas para um abismo na qual libertarianos, não confundir com libertários (um salve aos companheiros anarcas!!) desejam um mundo de extrema vigilância, comprometido com um trans-humanismo, uma ruptura com os limites do corpo humano, como os implantes da Neurolink, viagens espaciais , colonização de Marte, SpaceX, ou de novas experiências de vida em sociedade em cidades experimentais como Telosa, de Marc Lore ou Belmont de Bill Gates.Eles pretendem consolidar o poder da plutocracia sobre o restante dos habitantes da terra..
São novos atores que estão a ameaçar a humanidade, o Sul Global, liderados por China, Rússia e Irã. Derrotá-los exigirá das forças de esquerda que se permita aprender com Lopez-Obrador e Cláudia Sheinbaum, no México, a capacidade de educar o povo trabalhador de uma perspectiva classista e anti-imperialista e lançar mão das mobilizações massivas, como faz Nicolás Maduro na Venezuela para afrontar as forças conservadoras.
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