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    "Não sou pró-Rússia, mas se a Ucrânia perder, a Europa vencerá", diz Emmanuel Todd

    Intelectual francês defende que a derrota dos EUA na Ucrânia traria liberdade à Europa e critica a visão ocidental sobre o conflito

    Emmanuel Todd (Foto: Reprodução Youtube)

    247 – Na última terça-feira, 8 de outubro, o antropólogo francês Emmanuel Todd participou de um evento em Bolonha para apresentar a edição italiana de seu livro A Derrota do Ocidente, que provocou intensas reações na França. Publicado pela Gallimard, a obra levantou debates por suas análises sobre o atual conflito entre Rússia e Ucrânia e sobre o papel da Europa nesse contexto. De acordo com Todd, suas posições têm sido mal interpretadas pela imprensa francesa, que o acusa de simpatizar com a Rússia de Vladimir Putin. "Não sou pró-Rússia", afirmou Todd, "mas se a Ucrânia perder, quem vencerá será a Europa", como aponta reportagem do Corriere di Bologna.

    Durante a entrevista concedida ao jornal italiano Corriere della Sera, Todd refutou as críticas, argumentando que seus textos se baseiam em dados concretos, e não em sonhos. "A questão não é o que a imprensa francesa escreve sobre mim, mas os fatos que a história atual revela", enfatizou. Para ele, os Estados Unidos falharam em prover o equipamento militar necessário para a Ucrânia, enquanto a economia europeia sofre mais com as sanções ocidentais do que a própria Rússia.

    Todd observa que o Ocidente não compreendeu as transformações internas da Rússia e menosprezou o impacto da guerra para a Europa. "Se os Estados Unidos forem derrotados, a OTAN se desintegrará, e a Europa será libertada", afirmou. Ele também destacou a importância da contenção russa: "A Rússia não tem o desejo nem os meios de se expandir para além de suas fronteiras pré-comunistas. A histeria russofóbica ocidental, que fantasia sobre uma suposta expansão russa, é ridícula".

    Além das questões geopolíticas, Todd discute em seu livro a decadência religiosa e moral na Europa, tema que, segundo ele, está relacionado à crise atual. "Alcançamos o ponto zero da religião. A ausência de crenças e normas religiosas deixa um vazio, que é preenchido pelo niilismo", pontua o antropólogo, criticando o que considera uma "divinização do vazio", ilustrada pela ideologia transgender. Para Todd, a ciência e a Igreja, paradoxalmente, se alinham na rejeição dessa "afirmação do falso", enquanto ele mesmo se posiciona como um estudioso preocupado com a proteção dos indivíduos que acreditam pertencer a um gênero diferente do biológico.

    Todd também abordou o impacto da guerra nos Balcãs e no Kosovo, destacando que o verdadeiro ponto de inflexão foi o conflito na Ucrânia, onde, segundo ele, os EUA viram uma oportunidade de separar definitivamente a Rússia da Alemanha. "O controle americano sobre a Europa será pulverizado com a derrota na Ucrânia", afirma o antropólogo, que acredita que Alemanha e Rússia voltarão a se encontrar em um futuro próximo, reconstruindo a complementaridade natural entre a indústria alemã e os recursos energéticos russos.

    Ao final, Emmanuel Todd sublinhou que suas análises não são guiadas por simpatias políticas, mas por uma abordagem objetiva dos fatos históricos. "Quero entender por que provocamos essa guerra e por que a estamos perdendo", disse. Apesar das críticas que seu livro recebeu, Todd reitera que seu objetivo é trazer uma reflexão profunda sobre o futuro do Ocidente e o papel da Europa no mundo pós-conflito.

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