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Varoufakis explica o que é tecnofeudalismo e diz que hegemonia americana está ameaçada

Economia digital – liderada por grandes corporações de tecnologia – está substituindo o capitalismo industrial como principal fonte de poder

Varoufakis: Brasil se tornou o prenúncio de um futuro distópico (Foto: REUTERS/Francois Lenoir)

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247 – Em uma recente entrevista no programa "Economic Update", transmitido pelo canal Democracy at Work, do economista Richard Wolff, o também economista Yanis Varoufakis discutiu as mudanças estruturais da economia global, propondo que o capitalismo está se transformando em uma nova fase, que ele denomina "tecnofeudalismo". Durante a conversa com Richard Wolff, Varoufakis compartilhou sua visão sobre o papel crescente da tecnologia digital e o impacto dessas mudanças na ordem mundial, especialmente na relação entre os Estados Unidos e a China.

Varoufakis introduziu o conceito de tecnofeudalismo como uma nova fase do capitalismo, onde o controle sobre os meios de produção cede lugar ao controle sobre os meios de modificação comportamental. Segundo ele, a economia digital – liderada por grandes corporações de tecnologia – está substituindo o capitalismo industrial como principal fonte de poder. "Estamos vivendo em um novo tipo de sistema, onde o valor econômico não é mais extraído principalmente da produção de bens materiais, mas sim do controle sobre o comportamento das pessoas através da tecnologia digital."

Ele aponta que o que chama de "capital na nuvem" está se tornando o novo centro da acumulação de valor, especialmente em países como China e Estados Unidos. "Na China, o que estamos vendo é a fusão do capital digital com o capital financeiro, o que eu chamo de 'capital na nuvem'. Essa fusão está criando uma ameaça real e presente à predominância do sistema de pagamento em dólar." Varoufakis alerta que esse movimento pode ter sérias implicações para a hegemonia econômica dos Estados Unidos.

Ao ser questionado por Richard Wolff sobre a possibilidade de uma nova ordem mundial, Varoufakis foi direto ao afirmar que a hegemonia americana está em risco. "A razão pela qual o desenvolvimento da China é visto como uma ameaça à hegemonia americana é porque esse desenvolvimento pode minar o sistema de pagamentos baseado no dólar, que é o que permite aos Estados Unidos projetar seu poder econômico em todo o mundo."

Guerra de classes

Varoufakis também observou que a relação entre os EUA e a China está enraizada em um "conflito de classe global", onde os trabalhadores dos dois países estão interligados por cadeias de suprimentos que beneficiam o capital, mas prejudicam os trabalhadores de ambos os lados. "Se você é um trabalhador chinês na produção de alumínio em Xangai, está completamente amarrado ao sistema de pagamentos em dólar e ao déficit americano, que alimenta a demanda pelo seu produto", explicou. "Da mesma forma, se você é um trabalhador nos Estados Unidos, seu emprego e sua vida estão diretamente ligados a esse ciclo de reciclagem de excedentes produzidos pelo proletariado chinês."

Sobre a escalada de tensões na Ásia, especialmente no que se refere a Taiwan, Varoufakis demonstrou preocupação. "A questão de Taiwan não tem nada a ver com Taiwan. Ela se tornou o ponto central de um conflito potencial entre os EUA e a China, que pode escalar para uma guerra nuclear", afirmou, argumentando que os Estados Unidos não hesitarão em agir militarmente para proteger sua predominância no sistema financeiro global. "O único motivo pelo qual os Estados Unidos mantêm sua hegemonia é o controle sobre o sistema de pagamentos internacional. Se perderem isso, perderão a capacidade de projetar poder global."

Irrelevância europeia

Varoufakis também destacou a relevância da Europa nesse cenário, ou melhor, sua falta de relevância. "A Europa se tornou irrelevante. Não tem um papel de liderança na tecnologia digital e, politicamente, é incapaz de influenciar o cenário global." Ele exemplificou a falta de poder de decisão do continente: "Se amanhã houver uma negociação de paz na ONU sobre a Ucrânia, quem representará a Europa? O chanceler alemão não controla nem o próprio governo, e o presidente francês, Emmanuel Macron, se tornou um líder fraco."

Para Varoufakis, o declínio da Europa está intimamente ligado ao avanço da economia digital dominada pelos EUA e pela China. "Zero capital na nuvem na Europa", resumiu. "Volkswagen está condenada. Empresas como Tesla e BYD estão conectadas à nuvem, enquanto a Volkswagen não está. Ela simplesmente desaparecerá, assim como aconteceu com a British Leyland no Reino Unido."

A entrevista trouxe uma análise profunda e alarmante sobre os rumos da economia global, com Varoufakis argumentando que a competição entre EUA e China não é apenas uma disputa comercial ou geopolítica, mas uma batalha pela dominação do futuro tecnológico e financeiro do mundo. Ele concluiu sua fala com um chamado à ação: "Precisamos levantar nossas bandeiras anti-guerra e tomar as ruas em todo o mundo para evitar esse conflito." Assista:

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