Marina Silva: rumo à COP 30, Brasil quer 'liderar pelo exemplo'
De acordo com a ministra, o Brasil 'reduziu o desmatamento em 50% no ano passado, e em 40% nesse primeiro trimestre de 2024'
Por Tiago Pereira, da RBA - Em entrevista a jornalistas das mídias independentes nesta sexta-feira (19), a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), Marina Silva, tratou dos esforços do Brasil no combate ao desmatamento e dos desafios mundiais para conter os efeitos do aquecimento global. O Brasil se prepara para sediar, no ano que vem, a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, a COP-30, em Belém.
Ainda neste ano, o país deve levar à COP 29, no Azerbaijão, metas mais ousadas de redução de emissão dos gases-estufa. A intenção, segundo a ministra, é “liderar pelo exemplo”, estimulando outros países a também ampliarem seus esforços.
Ela afirmou que o governo do presidente Lula se candidatou para receber a conferência do clima movido por uma espécie de “dever moral”. Isso porque o Brasil deveria sediar a COP 25, em 2019, prevista para ocorrer em Salvador (BA), mas o governo Bolsonaro acabou desmarcando o encontro, revelando o seu descompromisso com a pauta ambiental e climática e constrangendo o país perante à comunidade internacional.
Nesse sentido, Marina relatou que o país agora vem fazendo o “dever de casa”. Na última conferência, os países reconheceram que não estavam alcançando as metas estabelecidas desde o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, em relação aos níveis pré-industriais. Decidiram, portanto, adotar NDCs (Contribuições Nacionais Determinadas, em inglês) mais ousadas.
“O Brasil quer liderar pelo exemplo. Por isso que nós já reduzimos o desmatamento em 50% no ano passado, e em 40% nesse primeiro trimestre de 2024, evitando lançar na atmosfera mais de 250 milhões de toneladas de CO2”, afirmou a ministra. “Queremos levar nossas NDCs já na COP 29, liderando pelo exemplo e encorajando os outros países a adotarem metas que sejam ambiciosas”.
Senso de responsabilidade
A ministra foi a única brasileira entre as 100 pessoas mais influentes da revista Time, divulgada na última quarta (17). Nesse sentido, ela destacou o “senso de responsabilidade” em liderar a agenda ambiental do Brasil, em um momento crucial para o planeta. “O Brasil é um país que tem uma responsabilidade muito grande no mundo, no debate ambiental”, ressaltou. “Não só por aquilo que pode fazer internamente, mas também pelo que pode alavancar do ponto de vista dos processos multilaterais”.
À frente do ministério do Meio Ambiente pela terceira vez, disse que o desafio é ampliar as conquistas obtidas quando esteve ao lado de Lula nos dois primeiros mandatos. Entre 2003 e 2012, o Brasil alcançou redução de 83% nas taxas de desmatamento. Ao mesmo tempo, o país contribuiu com 80% das áreas protegidas criadas no mundo.
“Sei de onde eu vim e aonde quero ir”, afirmou. “Quero ir para um lugar aonde a gente tenha um mundo que seja, ao mesmo tempo, culturalmente diverso, ambientalmente sustentável, economicamente próspero, socialmente justo e também politicamente democrático”.
Ela também destacou os esforços na preservação da biodiversidade e no combate à biopirataria. Destacou ainda o papel do governo Lula na desintrusão de garimpeiros e madeireiros nas Terras Indígenas. E apontou que os esforços do Ibama contribuíram para a redução de 75% dos desmatamentos em áreas de reserva.
Brasil não precisa de energia nuclear
Sobre os esforços para a transição energética e o abandono gradual dos combustíveis fósseis, compromisso assumido pela comunidade internacional na COP 28, em Dubai, Emirados Árabes Unidos, Marina afirmou que o Brasil larga na frente, pois tem uma abundância enorme de energia renovável de fontes seguras.
Nesse sentido, e em função do risco de vazamento de rejeitos radioativos, Marina disse que é contra o uso de energia nuclear no Brasil. “Por exemplo, tínhamos uma etapa de ampliação de Angra 3, e o presidente Lula, corajosa e sabiamente, encaminhou isso para estudos. Para verificar se, de fato, o custo-benefício de fazer esse tipo de investimento seria algo aceitável, na realidade de um país como o nosso. O Brasil, na minha opinião, não precisa lançar mão desse tipo de recurso para ter suprimento de energia.
A entrevista com a ministra contou com transmissão da TVT. A bancada de entrevistadores contou com jornalistas da própria TVT, e também do Jornal GGN, Brasil 247, Revista Fórum, Carta Capital, Brasil de Fato e Meteoro Brasil. E contou com a mediação do coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Carlos Tibúrcio.
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