Planejamento contra seca e queimadas "não foi suficiente", reconhece Marina Silva
“Ter essa clareza e essa responsabilidade de não querer mascarar a realidade faz parte de uma postura republicana diante da sociedade", diz a ministra
247 - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, admitiu que, apesar dos esforços do governo Lula (PT) para enfrentar a grave crise de seca e incêndios que assola o Brasil, as medidas adotadas não foram suficientes. "O que nós estamos descobrindo agora é que [o planejado] não foi suficiente. E ter essa clareza e essa responsabilidade de não querer mascarar a realidade ou minimizar a realidade faz parte de uma postura republicana diante da sociedade", afirmou a ministra em entrevista ao podcast Café da Manhã, da Folha de S. Paulo.
O Brasil vive a pior seca já registrada, e outros países, como Peru, Bolívia e Portugal, também declararam estado de emergência devido às queimadas. A crise se estende além das fronteiras da América do Sul, com o sul da África enfrentando escassez alimentar provocada pela estiagem. Enquanto isso, a Amazônia segue em chamas, com incêndios florestais de grandes proporções. Para Marina, o cenário global revela a falta de preparo da humanidade para enfrentar a crise climática. "A humanidade tem que chegar à conclusão de que não está preparada e que não está preparada porque não ouviu os reclames da ciência", destacou a ministra.
No Brasil, a oposição tem usado a insuficiência das ações governamentais como munição política, pressionando o governo Lula a intensificar as respostas às emergências ambientais. Nas últimas semanas, o presidente Lula anunciou que irá concretizar a criação da autoridade climática — órgão proposto por Marina durante a campanha eleitoral — e o Plano de Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos, além de um novo marco regulatório para emergências ambientais.
Essas ações, que também incluem o aumento das multas por incêndios florestais e a flexibilização de repasses aos estados para o combate a queimadas, surgem às vésperas da Semana do Clima da ONU, em Nova York, onde Lula e Marina participarão de eventos. Marina, que reduziu sua agenda nos Estados Unidos para retornar ao Brasil, argumenta que, longe de desmoralizar o país internacionalmente, a atual situação reforça a urgência da pauta ambiental brasileira. "O Brasil é vítima da mudança do clima. O Brasil é um país vulnerável", ressaltou a ministra.
Segundo autoridades do governo, grande parte dos incêndios que atingem o Brasil tem origem criminosa, e Marina Silva aponta indícios de que alguns desses atos podem ter motivações políticas. Ela relatou que, durante uma recente visita do presidente Lula a comunidades da Amazônia, incêndios propositalmente foram provocados pouco após a passagem da comitiva presidencial. "Houve ali uma tentativa, no meu entendimento, de fazer uma afronta. Estavam passando o presidente, o ministro da Defesa, as autoridades da República", afirmou Marina.
A ministra também cobrou que esses incêndios sejam investigados e os responsáveis, punidos, algo que não ocorreu em casos anteriores. No entanto, Marina reconhece que a aprovação de propostas ambientais no Congresso, como a criação da autoridade climática, será desafiadora, especialmente se o órgão estiver vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. O cenário político ainda é incerto, com um Congresso que já impôs derrotas à agenda ambiental do governo e é crítico à atuação de Marina.
Com a previsão de que o ano de 2025 possa enfrentar ainda mais eventos extremos do que 2024, aumenta a pressão para que o governo invista mais em prevenção e adaptação às mudanças climáticas. "É um processo, é dinâmico, né? Acho que ninguém consegue, com alguma responsabilidade, dizer que um país, qualquer que seja, estará 100% preparado para enfrentar essas situações [nos próximos anos]. Talvez estivéssemos, se tivéssemos começado [a nos preparar] em 1992", ponderou Marina Silva, em referência à conferência Rio-92.
O reconhecimento da insuficiência das medidas até aqui adotadas, aliado ao comprometimento em seguir avançando, faz parte de uma postura que a ministra define como republicana: a transparência com a sociedade frente à crise ambiental crescente.
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