Temperatura da Terra aumenta 1,5°C e escancara urgência climática
Marca simbólica é o limite estabelecido no Acordo de Paris. Cientistas destacam desafios e metas para evitar os piores cenários climáticos
247 - O ano de 2024 está prestes a entrar para a história como o mais quente já registrado, marcando também o primeiro período em que a temperatura média global superou 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. A informação é do Observatório Copernicus, da União Europeia, que monitora as alterações climáticas globais, informa a Folha de S. Paulo.
O limite de 1,5°C foi acordado no Acordo de Paris, em 2015, como um teto para evitar consequências desastrosas das mudanças climáticas, como o desaparecimento de países insulares e impactos irreversíveis em ecossistemas. Embora o resultado de 2024 seja alarmante, os especialistas afirmam que a superação desse marco ainda não significa que o objetivo global foi abandonado. Para considerar que o limite foi definitivamente violado, seriam necessários vários anos com os termômetros acima desse patamar, explica o observatório.
Contudo, cientistas como Paulo Artaxo, físico e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), acreditam que o aquecimento global a 1,5°C não é mais uma meta viável. “É mais do que óbvio que segurar o aquecimento em 1,5°C já não é mais possível”, afirma o professor da USP. Artaxo aponta que esforços devem agora se concentrar na limitação do aumento a 2°C, ressaltando a importância da COP30, que será realizada em Belém, no Brasil, em 2025.
Cenário de emissões em alta - Os dados mais recentes confirmam que o planeta segue em uma trajetória preocupante. Em 2023, as emissões globais atingiram um recorde de 57,1 gigatoneladas de CO₂ equivalente, um aumento de 1,3% em relação ao ano anterior. Segundo Thelma Krug, ex-vice-presidente do IPCC, o aumento contínuo das emissões é um reflexo direto da persistência no uso de combustíveis fósseis. “A lógica é simples: aumento de emissões implica aumento de concentração de gases, que, por sua vez, implica aumento de temperatura”, explica Krug.
Ela destaca que o corte nas emissões ainda é tecnicamente possível, mas exige medidas urgentes e abrangentes. "O fato de superarmos temporariamente o 1,5°C não significa que já ultrapassamos a barreira do Acordo de Paris. Ainda há esperança de limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C até o fim do século. O problema é que as coisas estão ficando muito mais difíceis", pontua.
Impacto global e papel do Brasil - No Brasil, as ações para conter o aquecimento global têm ficado aquém do necessário, segundo Artaxo. Ele alerta para a falta de políticas públicas eficazes, especialmente na preservação de ecossistemas. “O Brasil precisa de uma política consistente para parar a destruição dos nossos ecossistemas, dos quais dependemos tanto — inclusive para o agronegócio, em termos de serviços ecossistêmicos que produzem a chuva no Brasil central”, afirma.
Eventos climáticos extremos, como as chuvas intensas no Rio Grande do Sul e as secas severas na Amazônia, evidenciam os impactos locais do aquecimento global. Embora previsíveis em termos de tendências, a frequência e intensidade desses fenômenos superam projeções anteriores, mas não invalidam os modelos climáticos.
Rumo à COP30: mitigar para sobreviver - A COP30 será uma oportunidade crucial para reposicionar o debate global sobre mitigação climática. Com a diplomacia brasileira no centro das negociações, espera-se que a agenda inclua compromissos mais firmes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e avançar na transição para fontes de energia limpa.
Embora o cenário pareça desafiador, cientistas insistem que a mobilização internacional pode reverter trajetórias mais catastróficas. “Com muito esforço, particularmente dos países desenvolvidos e dos países produtores de petróleo, podemos limitar o aquecimento a uma média global de 2°C, o que seria altamente desejável”, conclui Artaxo.
O momento exige que líderes globais se comprometam com ações concretas. A inação, alertam os especialistas, coloca o planeta em risco iminente de ultrapassar pontos de não retorno. A COP30 pode ser a última chance para evitar que os piores cenários climáticos se tornem realidade.
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