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    Altman protesta contra a patrulha ideológica e defende o direito de entrevistar especialista no pensamento de Dugin

    O filósofo russo Alexandr Dugin é conhecido por uma postura "antiocidental" e "neoeurasiana"

    Jornalista Breno Altman, editor do Opera Mundi (Foto: Felipe Gonçalves / Brasil 247)

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    247 - O jornalista Breno Altman rebateu críticos por terem manifestado posições contrárias à iniciativa de entrevistar Raphael Machado, especialista no pensamento do filósofo russo Alexandr Dugin, conhecido por uma postura antiocidental e "neoeurasiana". A conversa entre os dois foi marcada para o próximo dia 21. 

    "Não existe imparcialidade na atividade jornalística, é claro, mas se trata de uma área que precisa estar pautada pela objetividade. Não significa abdicar de opiniões ou abraçar uma fantasiosa isenção, mas ter compromisso com a apresentação dos mais diversos pontos de vista", escreveu o jornalista. 

    "Esse é o grande serviço que deve ser prestado pelo jornalismo, principalmente o de esquerda: permitir a leitores e espectadores terem acesso ao máximo de informações e análises, para poderem elevar seu próprio grau de conhecimento e consciência sobre a realidade".

    Leia a íntegra:

    Algumas pessoas - umas de modo gentil, outras nem tanto - estão criticando Opera Mundi e a mim pela entrevista que está marcada com Raphael Machado, do grupo Nova Resistência, acerca do pensamento de Alexandr Dugin, para a próxima quinta-feira, 21 de setembro, às 11h. 

    Argumentam que seria incabível um canal de esquerda entrevistar alguém com o perfil ideológico de um duguinista ou até que essa conversa seria prova de aproximação minha em direção a essa corrente. 

    Todos e todas têm o óbvio direito de criticar o que fazemos ou deixamos de fazer, e provavelmente essas críticas estarão certas muitas vezes. Mas não se pode confundir jornalismo com propaganda e militância, apesar dos pontos de encontro. 

    Não existe imparcialidade na atividade jornalística, é claro, mas se trata de uma área que precisa estar pautada pela objetividade. Isso não significa abdicar de opiniões ou sequer abraçar uma fantasiosa isenção, mas ter compromisso com a apresentação dos mais diversos pontos de vista. 

    Esse é o grande serviço que deve ser prestado pelo jornalismo, principalmente o de esquerda: permitir a leitores e espectadores terem acesso ao máximo de informações e análises, para poderem elevar seu próprio grau de conhecimento e consciência sobre a realidade. 

    A base do pensamento crítico está na materialidade dos fatos e na articulação de seu desenvolvimento histórico, a partir de estudos e debates. Quanto mais se conhece, mais crítico se pode ser. Quanto menos se sabe, maior a vulnerabilidade diante da propaganda e da manipulação. 

    Mas vamos ao grão. 

    Sou militante comunista de três gerações, por descendência paterna e materna. Dedico-me, desde praticamente criança, ao que entendo ser a causa revolucionária e à luta pelo socialismo, dentro dos modestos limites que me foram estabelecidos pela vida. 

    Não tenho simpatia ou proximidade com o duguinismo, cujos referenciais teóricos e práticos me parecem despropositados. No entanto, sou profissionalmente um jornalista. Não um propagandista ou um educador, ainda que eventualmente desempenhe tarefas nessas frentes, mas um jornalista. 

    Convidamos aos nossos programas pessoas com as quais concordo em quase tudo e outras com quem tenho divergências insuperáveis. Esforço-me para que as entrevistas sejam difíceis, explorando contradições, colocando em xeque esquemas de raciocínio, encurtando espaços para divagações ou sofismas. 

    Não importa o alinhamento político-ideológico, os convidados e convidadas de Opera Mundi são tratados com respeito e cortesia, mas também com firmeza e rigor. Minha obrigação é tentar desnuda-los, para que o público possa conhecê-los melhor. 

    Quem quiser estabelecer algo tão irrelevante como o que penso ou deixo de pensar, a partir das entrevistas que faço, irá apenas perder tempo. Na condição de jornalista, meu empenho é oferecer a mais vasta gama possível de vozes. 

    Por fim, sugiro que os críticos ao convite a Raphael Machado se façam a seguinte pergunta: terão mais ou menos informações para batalhar contra o duguinismo depois de uma entrevista que eventualmente amplie o conhecimento das ideias que esse grupo defende? 

    Espero que tenha deixado claro meu ponto de vista sobre a atividade profissional que desempenho e a orientação editorial de Opera Mundi. 

    Fora da polêmica, da diversidade e do direito à opinião, o jornalismo seria um cemitério.

     

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