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    Brasil de Fato aponta 10 perguntas sem resposta a partir do documentário de Joaquim de Carvalho sobre a fakeada

    O que determinou que a segurança de Bolsonaro em Juiz de Fora fosse diferente dos demais esquemas de proteção, realizados em outras viagens? Essa é uma das perguntas sobre a suposta facada em Jair Bolsonaro que segue sem resposta até hoje. Confira os outros nove questionamentos

    Joaquim de Carvalho e Bolsonaro levando facada (Foto: Brasil 247 | Reprodução)

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    Brasil de Fato | Brasília (DF) - O documentário "Bolsonaro e Adélio: uma fakeada no coração do Brasil", produzido pelo jornalista Joaquim de Carvalho, do site Brasil 247, acerta em listar indícios de que a facada desferida contra o então candidato do PSL à Presidência da República em setembro de 2018 pode ter sido um auto-atentado.

    O filme também tem méritos ao localizar, em Montes Claros (MG), a irmã de Adélio Bispo de Oliveira, Maria das Graças de Oliveira. Em entrevista, ela afirma que Adélio pediu que ela trocasse seu atual advogado, mas que não tem dinheiro para contratar um novo defensor e que enfrenta muita dificuldade em estabelecer contato com o atual representante legal de seu irmão, que estaria negligenciando sua obrigação de manter contato com a família de seu cliente.

    A irmã do autor da facada questiona o fato do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior ser "tutor" de Adélio, que foi considerado inimputável depois que sua defesa teve sucesso em sustentar a tese que Adélio sofre de insanidade mental. Com isso, o agressor de Bolsonaro foi alvo de medida de segurança que o impede de ser levado a julgamento, estando assim sob custódia do Estado sem prazo de término estabelecido, por ser considerado um cidadão que, solto, poderia colocar em risco a sua própria vida e a de outras pessoas.

    Atualmente, Adelio cumpre, então, “medida de segurança de internação” na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, por “sua alta periculosidade." O Ministério da Justiça afirma que existe, em tal estabelecimento, unidade básica de saúde e de atendimento psiquiátrico adequadas ao tratamento que lhe fora imposto. O filme defende que ele deveria ser transferido para um hospital psiquiátrico de custódia e tratamento, conforme prevê a legislação.

    A referência à palavra "fake" logo no título, cravando a falsidade do episódio antes de apresentar a complexidade da pesquisa ao espectador, não condiz com a seriedade do trabalho que o documentário evidencia. Tal fato é simbólico, ressalte-se, de alguns exageros cometidos na montagem do material.

    Mas os eventuais deslizes que se observam não tiram a força e a importância do filme, que já atingiu mais de 600 mil visualizações no canal da TV 247 no YouTube em menos de três dias de exibição e gerou grande repercussão nas redes sociais.

    O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), por exemplo, anunciou, na segunda-feira (13), influenciado pela produção do documentário, que vai protocolar um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a facada, a fim de buscar as respostas para as perguntas que o documentário suscita.

    “Bolsonaro tinha 8 segundos de televisão e passou a ter 24 horas […]. Foi na facada que ele ganhou as eleições”, disse o deputado ao site Poder360.

    O trabalho de Joaquim de Carvalho traz um encadeamento cronológico que facilita a compreensão dos detalhes do episódio de 6 de setembro de 2018. A equipe foi à Juiz de Fora, cidade mineira onde ocorreu a facada, e entrevistou uma série de personagens envolvidos no incidente.

    Uma das boas entrevistas veiculadas é com o presidente da associação comercial da cidade, que organizou a viagem de Bolsonaro ao município. No depoimento, trazido à tela logo no início do filme, o empresário cita com estranheza o fato de Bolsonaro não ter utilizado colete à prova de balas em meio à multidão, procedimento que contrastou com a praxe do candidato na quase totalidade das agendas de campanha que cumpriu em 2018.

    O jornalista ainda dialogou com um colega de profissão, um fotógrafo, um garçom onde o então candidato almoçou no dia do atentado e um atendente da lanchonete onde Bolsonaro foi estirado após sofrer a facada, dentre outros personagens. Mesmo conversas que o repórter não conseguiu fazer, trazem tempero ao filme e mostram a repulsa e apreensão dos envolvidos em reviver o caso.

    O documentário traz mais perguntas do que respostas – e é isso mesmo que se propõe a fazer, conforme afirma seu próprio autor.

    Veja, abaixo, dez pontos relevantes trazidos pelo filme que seguem sem resposta clara até hoje.

    1) O que determinou que a segurança de Bolsonaro em Juiz de Fora fosse diferente dos demais esquemas de proteção, realizados em outras viagens?

    A viagem de Bolsonaro à cidade mineira não teve a presença da chefia da segurança do presidente. No carro que o levou do Rio de Janeiro a Juiz de Fora, não estava presentes o Tenente Sérgio Cordeiro e Max Guilherme, sargento do BOPE, responsáveis pela escolta. Os dois até hoje trabalham com o presidente, como assessores especiais do Palácio do Planalto.

    2) O que motivou Carlos Bolsonaro a mudar o padrão adotado em outras viagens e optar por viajar para o evento de campanha do pai na cidade mineira?

    A presença de Carlos Bolsonaro na viagem à cidade mineira fugiu do padrão dos outros compromissos de campanha do presidente. Segundo o então presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, que liderava o partido de Bolsonaro à época, Carlos não havia viajado para nenhum outro lugar ao lado do pai.

    3) O que motivou a recusa do então candidato a vestir o colete à prova de balas?

    O depoimento do presidente da Associação Comercial de Juiz de Fora ao jornalista Joaquim de Carvalho aponta que havia um colete à prova de balas no carro que levou Bolsonaro ao Parque Halfeld, seu último compromisso antes da facada. Segundo o empresário, Bolsonaro optou por não usá-la.

    4) Qual é a exata relação de Carlos Bolsonaro e Adélio Bispo de Oliveira?

    A visita de Adélio a um clube de tiro em Florianópolis, em julho de 2018, no mesmo dia em que Carlos Bolsonaro esteve no espaço, foi explorada pelo filme. A peça ressalta que a dona do espaço negou a informação à imprensa, inicialmente, mas em depoimento à PF voltou atrás. Outro detalhe é uma tentativa de Adélio ir na direção de Carlos poucos minutos antes do atentado. Ao perceber a abordagem, Carlos muda de direção e entra dentro do carro da comitiva.

    5) Como Adélio conseguiu pagar a entrada no clube de tiro, a viagem a Juiz de Fora e a hospedagem?

    O filme mostra também que Adélio vivia em condições quase miseráveis. Ele tinha dificuldade para pagar as contas e dormia em hospedarias e albergues. Contudo, chama a atenção ele ter reunido recursos para pagar todos os custos com dinheiro vivo.

    6) Por que o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior segue como tutor de Adélio e quem custeou seus honorários?

    O advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior é "tutor" de Adélio, que foi considerado inimputável depois que sua defesa comprovou uma suposta insanidade mental. O filme mostra que a irmã de Adélio disse que ele pediu que ela trocasse o advogado, mas ela não tem dinheiro para bancar a substituição. Até o momento, não se sabe quem custeia os honorários de Zanone.

    7) Quais foram os remédios ingeridos por Bolsonaro durante evento em Juiz de Fora?

    Durante entrevista coletiva em Juiz de Fora, o presidente tomou dois remédios em frente à imprensa. Um deles era efervescente. O outro, um comprimido. O filme, ao cogitar a possibilidade de um auto-atentado, ressalta a possibilidade de ingestão de um anestesiante.

    8) Por qual motivo o hospital não entregou prontuário à Polícia Federal?

    De acordo com o filme, o Hospital Albert Einstein não entregou o prontuário de Bolsonaro à Polícia Federal. O médico do presidente, Antônio Macedo, que era um dos principais oncologistas da casa, não integra mais o quadro de funcionários do hospital. O Brasil de Fato enviou questionamento ao Albert Einstein. Até o momento, não houve retorno.

    9) Bolsonaro, de fato, “comemorou” a facada em fala para Paulo Marinho e "previu" o episódio em conversa com Joyce Hasselmann?

    O empresário Paulo Marinho, um dos principais articuladores da campanha de Bolsonaro, revelou que o então candidato disse que estaria eleito após sofrer atentado a faca durante campanha em Juiz de Fora (MG). A cena ocorreu na primeira visita de Marinho ao hospital após o atentado. Em uma transmissão ao vivo do Diário do Centro do Mundo, Joyce Hasselmann disse que revelou que o chefe do Executivo federal disse a ela, dias antes das disputa presidencial de 2018, que “se tomasse uma facada, ganharia a eleição". De acordo com reportagem da BBC Brasil, Steve Bannon disse, em agosto de 2018, em encontro realizado com Eduardo Bolsonaro, que previa a possibilidade de seu pai sofrer um atentado. "[O risco] não tem a ver com seus oponentes políticos, é sobre a natureza da anarquia no Brasil", disse o estadunidense.

    As falas, isoladamente, passam muito longe de provar algo, mas um auto-atentado não pode ser descartado, pelo menos como uma linha de investigação que deveria ter sido considerada pelas autoridades policiais.

    10) Por que a família Bolsonaro não recorreu de decisão judicial?

    Em julho de 2019, Adélio foi considerado inimputável. A decisão poderia ter sido questionada por Bolsonaro, mas foi sacramentada depois que o Ministério Público Federal e a própria defesa do presidente desistiram de recorrer no processo.

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