Economist: Bolsonaro não combate corrupção e Moro perdeu reputação
Segundo a Economist, Bolsonaro está quebrado sua principal promessa de campanha: o combate à corrupção; "Sua administração parece quase tão escandalosa quanto a que substituiu", diz a revista britânica, apontando que Sérgio Moro está "enfraquecido pelos vazamentos"
247 - A revista britânica The Economist publicou nesta quinta-feira, 25, reportagem com duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a Economist, Bolsonaro está quebrado sua principal promessa de campanha: o combate à corrupção. "Seus planos para manter sua promessa de campanha mais importante estão falhando. Isso porque sua administração parece quase tão escandalosa quanto a que substituiu. Um de seus filhos, Flávio, senador do Rio de Janeiro, está sendo investigado por lavagem de dinheiro", diz a revista.
Leia, abaixo, a reportagem do The Economista na íntegra:
Jair Bolsonaro desistiu de sua cruzada anti-corrupção
O presidente está quebrando sua principal promessa de campanha
Se há uma coisa que os eleitores queriam de Jair Bolsonaro quando o elegeram presidente do Brasil em outubro passado, era acabar com a corrupção. Quando ele era um congressista de direita do Congresso, suas fulminações contra os corruptos ajudaram a torná-lo famoso. Em seu discurso de posse no dia 1º de janeiro, ele prometeu “libertar o país do jugo da corrupção”.
Agora, seus planos para manter sua promessa de campanha mais importante estão falhando. Isso porque sua administração parece quase tão escandalosa quanto a que substituiu. Um de seus filhos, Flávio, senador do Rio de Janeiro, está sendo investigado por lavagem de dinheiro.
Mensagens vazadas para o Intercept , um site de notícias investigativas, prejudicou a reputação de Sérgio Moro, o ministro da Justiça, que é responsável pelo combate à corrupção e ao crime. Eles mostram que Moro colaborou indevidamente com os promotores quando ele era o juiz encarregado da vasta investigação anticorrupção da Lava Jato. A operação levou à prisão de mais de 100 empresários e vários políticos, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro do turismo está sendo investigado por colocar candidatas nas eleições parlamentares e estaduais para obter fundos de campanha para si. Bolsonaro nomeou outro filho, Eduardo, para ser o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, acrescentando nepotismo à lista de pecados de sua administração.
O presidente pode reivindicar alguns sucessos, incluindo progressos na reforma econômica. Ele rompeu com a prática passada dos presidentes de dar empregos em gabinetes em troca de apoio no Congresso. Até agora, essa é sua única contribuição para políticas mais limpas.
Um ponto baixo aconteceu no dia 16 de julho, quando Dias Toffoli, juiz da suprema corte, suspendeu a investigação contra Flávio Bolsonaro. A polícia identificou um "aumento excepcional" em seu patrimônio líquido vinculado a negócios imobiliários entre 2014 e 2017, quando era deputado estadual. Sete milhões de reais (US$ 2 milhões) foram passados sem explicação pela conta bancária de seu motorista, um amigo do presidente.
Toffoli determinou que os promotores precisam da permissão de um juiz para usar dados financeiros coletados pelo Coaf, a unidade de inteligência financeira do governo e outras agências. A Suprema Corte tem considerado desde 2017 se deve emitir tal decisão. Deve-se decidir em novembro deste ano. O Sr. Toffoli agiu por conta própria depois que os advogados de Flávio se manifestaram junto ao processo. A decisão lança investigações sobre corrupção em um “estado de instabilidade e confusão”, diz Silvana Batini, promotora de Lava Jato do Rio de Janeiro. Também poderia dificultar a lavagem de dinheiro por gangues de drogas.
O presidente saudou a decisão de suspender o caso contra o filho. Caso contrário, ele ficou quieto quanto à corrupção. No segundo semestre de 2018, ele tuitou 68 vezes sobre corrupção, segundo o Laboratório de Governo Eletrônico da Universidade de Brasília. O número de tweets caiu para 20 no primeiro semestre deste ano. Em julho, até agora não houve nenhum.
Moro, enfraquecido pelos vazamentos, não disse nada sobre a decisão de Toffoli. Uma medida de combate ao crime e corrupção que ele propôs está fazendo pouco progresso. O comitê responsável por ele na Câmara dos Deputados votou contra uma idéia de punir os erros: escrever na lei a exigência de que as pessoas condenadas por corrupção iniciem suas sentenças se perderem seus primeiros recursos, o que nem sempre acontece.
Até agora, os brasileiros não perceberam que a equipe dos sonhos contra a corrupção está falhando. Verdade, o índice de aprovação de Bolsonaro de 33% no início de julho foi o menor desde 1990 para qualquer presidente depois de seis meses no cargo, segundo o instituto de pesquisas Datafolha. Mas escândalos não são o motivo. Mais frequentemente, os entrevistados apontam para o impacto de uma economia fraca, cortes nos orçamentos universitários e comportamento imprudente (Bolsonaro recentemente chamou governadores de estados pobres do nordeste de paraíbas, ou "hicks").
Manchetes embaraçosas não impediram que partes de seu programa continuassem, o que não foi o caso durante a Presidência de seu antecessor, Michel Temer. O Mercosul, grupo ao qual o Brasil pertence, chegou a um acordo comercial em princípio com a União Européia. Uma reforma das pensões está avançando.
Se a luta pela corrupção for retomada, dizem os promotores, tanto a Suprema Corte quanto o presidente terão que mudar de rumo. Os promotores esperam que o tribunal reverta a decisão de Toffoli, desobstruindo as investigações sobre Flávio e outros supostos infratores. O progresso dependerá em parte de quem o Sr. Bolsonaro escolhe para suceder Raquel Dodge como procurador-geral da República em setembro. Bolsonaro tem se perguntado se escolherá um dos três candidatos propostos pela Associação Nacional de Promotores. Essa prática começou em 2003 como uma forma de garantir a independência do procurador-geral em relação à política. A escolha de Bolsonaro será "um grande teste do compromisso do governo" para combater a corrupção, diz Bruno Brandão, da ONG Transparência Internacional.
Apesar de suas falhas, a Lava Jato ofereceu a esperança de que o Brasil poderia acabar com a cultura de impunidade que permitia o florescimento da corrupção. A questão agora é se essa missão pode superar o dano infligido por seus maiores campeões.
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