Emicida enquadra Folha e sua manchete sobre a “década” que colocou negros nas universidades
Rapper Emicida lembrou do papel fundamental do movimento negro na conquista de políticas afirmativas no Brasil, bem como de partidos de esquerda, como o PT. "Ao apagar a esquerda, [a Folha] incorre numa militância tacanha que anda junto com os terraplanistas no recreio", escreve
247 - O rapper Emicida foi às redes sociais para rebater a manchete da Folha de S. Paulo que atribuiu à "década", e não à luta do movimento negro e aos governos do PT, o ingresso de mais negros nas universidades.
Numa sequência de tweets, Emicida lembrou da luta e das consuistas do movimento negro, citando nomes como Lélia Gonzalez, João Cândido, Abdias Nascimento e Florestan Fernandes.
"Ao invisibilizar os sujeitos dessa 'ocupação', o jornal firma compromisso c/ a manutenção do racismo br e mantém o negro como objeto, sem a capacidade de ser sujeito d sua história. Ao apagar a esquerda, incorre numa militância tacanha q anda junto c/ os terraplanistas no recreio", escreveu Emicida.
Após as críticas, a Folha mudou o título do texto, que agora está intitulado como "Negros estão na faculdade, e não (só) para fazer faxina". O título anterior era "Década colocou os negros na faculdade, e não (só) para fazer faxina". Mesmo com a mudança, o jornal omitiu a menção aos governos Lula e Dilma.
Leia a sequência de tweets de Emicida:
"É triste que a imprensa brasileira esteja em um lodo tão profundo, que tenha que elaborar uma manchete tão constrangedora quanto 'década colocou negros na faculdade, etc...' como se os agentes dessa mudança não fossem os intelectuais do mov. Negro, junto a partidos de esquerda.
Aliás, é bastante pobre o raciocinio que hoje tenta colocar esses movs e partidos de esquerda como antagonistas. Quadros incríveis como Lélia, Abdias e Benedita, pra citar alguns, eram pontos de intersecção dessas duas frentes e construíram um intercâmbio absurdo
A esquerda brasileira, como a sociedade brasileira, reproduzia (assim como ainda hj reproduz muitas vezes) a sofisticação do racismo local. O mov. Negro rasgou de facão esse consenso e expandiu a reflexão a respeito de como combater isso.
Lá no tempo do Fhc, que inclusive é discipulo do Florestan Fernandes, essa efervescência começou a dar frutos e com a ascensão do partido dos trabalhadores ao planalto, essas politicas encontraram um campo mais sensível ainda a essas demandas e acabaram por ser implementadas.
Cito Florestan por que ele é um grande estudioso da inclusão do negro na sociedade brasileira e tem contribuições valiosas a esse respeito, ainda que possam ser limitadas em algumas interpretações, tudo completamente compreensível inclusive, ñ é sábio descartar isso.
Ao invisibilizar os sujeitos dessa 'ocupação', o jornal firma compromisso c/ a manutenção do racismo br e mantém o negro como objeto, sem a capacidade de ser sujeito d sua história. Ao apagar a esquerda, incorre numa militância tacanha q anda junto c/ os terraplanistas no recreio.
Pegar episódios de racismo de integrantes/partidos/governos da esquerda br e limitá-la a ser apenas isso é perigoso, pois também houveram desde sempre, pessoas pretas que lutavam junto a conservadores, inclusive pela negritude, João cândido e Abdias foram filiados a AIB
Depois eles saltaram fora daquela pataquada, mas esse é o grau de complexidade que a situação possui. Então, os ativistas do passado, circulavam e mto, com suas bandeiras e prioridades. Quero dizer com isso, que existem muitas camadas a serem consideradas.
Assim como uma tragédia como a AIB, não se torna heróica, por ter gente preta interessante em seus quadros, a esq Br, ñ se torna vilã automaticamente por ter racistas nos seus. Aliás, nem é sobre heróis ou vilões, isso é simplista e tb precisa ser superado p/ discussão avançar.
Esse simplismo favorece a demonização dos movs populares de esq e limita a possibilidade de mobilização, a serem legitimos apenas quando de centro e direita. Algo perigosíssimo pra democracia, sobretudo hoje. Se não conhece o perigo é bom conhecer.
Há q se tomar cuidado c/ a representatividade oca, de uma cultura 'influencer' q crê q vencer se resume a estampar campanhas publicitárias, isso ñ é nenhum crime, mas é uma conquista individual, pode e deve ser celebrada, mas ñ pode ser vista como substituta de ações afirmativas.
Mover as bases pra uma existência com dignidade, implica em politicas de reparação (cotas, demarcação, renda básica, etc). A magnitude necessária, faz com que só seja possível isso ser operado pelo estado. E aí entra a importância dos movs da sociedade civil na contenção.
Por isso acho incrível a sagacidade dos antigos d negociar e circular, inclusive em ambientes dos quais discordavam. E por isso acho deplorável o simplismo mto visto hj nas redes e o malabarismo pobre de espirito da imprensa ao tratar do tema. Espero que ajude, cansei d digitar."
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