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    Folha pede que Tarcísio contenha a selvageria que ele próprio implantou em São Paulo

    Editorial expõe violência policial, mas ignora contradição de um governo que sustenta práticas truculentas

    Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite (Foto: Josué Emidio/Governo do Estado de SP)

    247 – Em editorial publicado nesta quinta-feira 5, a Folha de S.Paulo criticou a escalada de violência policial em São Paulo, chamando atenção para a sucessão de episódios brutais cometidos pela Polícia Militar sob o governo de Tarcísio de Freitas. Apesar de destacar retrocessos graves, como o enfraquecimento das câmeras corporais e o aumento das mortes causadas por policiais, o jornal tropeça em uma contradição: parece acreditar que o governador pode combater a selvageria que seu próprio governo fomenta.

    O texto da Folha expõe corretamente que o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, ex-integrante da ROTA, personifica uma política de segurança alinhada com a violência institucionalizada. Derrite enfraqueceu iniciativas para controle da letalidade policial, como o uso de câmeras nas fardas, protegeu agentes envolvidos em mortes e priorizou oficiais da ROTA, unidade conhecida por sua letalidade. Esses retrocessos, como aponta o editorial, comprometem décadas de esforços para reduzir a violência policial no estado.

    Entretanto, ao sugerir que Tarcísio pode corrigir os rumos, a Folha ignora a base sobre a qual o governador construiu sua política de segurança. O próprio Tarcísio nomeou Derrite para o cargo, mesmo ciente de seu histórico e de sua defesa explícita de práticas truculentas. Além disso, o governador não hesitou em dar respaldo a operações letais, como a Operação Escudo, que resultou em 36 mortes, e a Operação Verão, com 56 mortes de civis.

    A contradição do editorial se torna evidente ao cobrar "exemplo de cima" de um governo que reforça, na prática, as condições para a violência. O editorial menciona casos emblemáticos de brutalidade, como o assassinato de Gabriel da Silva Soares, 26, morto pelas costas, e de Ryan da Silva Andrade Santos, 4, atingido por disparos policiais, mas falha em conectar esses episódios à estratégia governamental que legitima a truculência como método de controle social.

    Mesmo diante de uma escalada de mortes causadas por policiais – que aumentaram 55% no ano até setembro, chegando a 580 casos –, o governo paulista segue com uma retórica ambígua. Enquanto Tarcísio classifica alguns episódios como “absurdos”, sua inação e o respaldo explícito a Derrite evidenciam que a violência policial não é um desvio de conduta, mas parte de uma política deliberada.

    A Folha acerta ao exigir o fim da “marcha da selvageria”, mas fracassa ao confiar que isso pode ser alcançado sob um governo que reforça práticas violentas e mantém Derrite como figura central. Cobrar mudanças sem questionar a manutenção de uma política que legitima abusos é ignorar o papel do próprio governador no aprofundamento da crise. Sem enfrentar essa contradição, as críticas perdem força e soam mais como um apelo vazio do que como uma análise séria da realidade.

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