"Governo não está preparado para atuar sem Lula", diz Merval
Ausência do presidente devido a cirurgia revelaria dependência pessoal de sua liderança
247 – Em análise publicada nesta quinta-feira, o jornalista Merval Pereira apontou que a nova intervenção cirúrgica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva escancarou a fragilidade do governo em atuar sem a presença direta de seu principal líder. Segundo Merval, a coincidência entre a ausência de Lula e o momento crítico para a votação de reformas como a tributária e a fiscal, além das negociações sobre emendas parlamentares, revelou a falta de uma estrutura sólida de articulação política.
"O governo não está aparelhado para atuar sem Lula", afirmou o jornalista, destacando que os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil), responsáveis por conduzir as negociações com o Congresso, não têm credibilidade junto ao Centrão. "Nenhum deles tem habilidade para levar adiante uma votação difícil como as que se prenunciam", acrescentou.
Merval destacou que, mesmo antes de ser internado, Lula precisou se reunir com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, uma vez que os interlocutores designados pelo governo não conseguem transmitir confiança. "Ninguém quer saber o que Padilha e Rui Costa pensam", pontuou.
A análise também ressaltou que a dependência do governo em relação a Lula é um reflexo de escolhas feitas pelo próprio presidente. "Lula já teve ministros identificados como poderosos e capazes de fechar acordos, como Antonio Palocci e José Dirceu. Hoje, não tem ninguém", observou o jornalista. Segundo ele, essa situação pode ser intencional, uma vez que o presidente concentra em si mesmo a capacidade de articulação política.
Merval também abordou o papel secundário do vice-presidente Geraldo Alckmin, considerado mais uma figura simbólica do que um verdadeiro articulador. "Nem o PT quer saber de Alckmin negociando. Sua escolha como vice foi apenas um gesto de boa vontade com o centro democrático. Não passa disso", avaliou.
Outro ponto levantado foi o impacto da ausência de Lula sobre o mercado financeiro. A alta na Bolsa e a queda do dólar após o anúncio da nova cirurgia do presidente foram interpretadas como um sinal de que investidores preferem a perspectiva de Geraldo Alckmin na Presidência. "Essa é uma demonstração cruel, mas sintomática", disse Merval, acrescentando que tal percepção pode intensificar o ressentimento de setores mais radicais da esquerda e criar novas divisões no PT.
Por fim, o colunista discutiu as implicações políticas da recuperação de Lula e os desafios de 2026. Com a certeza de que Jair Bolsonaro estará inelegível, a direita já articula possíveis candidaturas, enquanto na esquerda o presidente enfrentará o desafio de apontar um sucessor em meio a divisões internas. "O ministro Fernando Haddad é o substituto natural, mas não agrada à ala mais ortodoxa do partido", concluiu.
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