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    Jornalistas, veículos e entidades assinam manifesto contra censura e fake news

    Jornalistas, veículos e entidades da comunicação fizeram um manifesto contra a disseminação de fake news. "É preciso responsabilizar civil e criminalmente empresas que financiam essas estruturas para fabricar e disseminar de forma artificial esses conteúdos que podem trazer danos à vida e à democracia", diz a nota

    247 - Jornalistas, veículos e entidades da comunicação fizeram um manifesto contra a disseminação de fake news, alvo de investigação do Supremo Tribunal Federal, que autorizou agentes da Polícia Federal irem às ruas nesta quarta-feira (27) para cumprir mandados de busca e apreensão, contra políticos e empresários bolsonaristas, além do blogueiro Allan dos Santos, do site Terça-Livre. 

    De acordo com o manifesto, é necessário criar "instrumentos legais e usando os já existentes para desmontar os gabinetes de ódio e as fábricas de produção industrial de 'fake news'". "Isso pode ser feito cruzando as fontes de distribuição de desinformação — nas redes sociais, nos sítios web — com os esquemas criminosos de financiamento dessas estruturas", diz.

    "É preciso responsabilizar civil e criminalmente empresas que financiam essas estruturas para fabricar e disseminar de forma artificial esses conteúdos que podem trazer danos à vida e à democracia. Agentes públicos que financiem e produzam esse tipo de conteúdo também devem ser responsabilizados por isso".

    Confira, a seguir, a íntegra do manifesto e a lista de signatários. Para assinar, envie e-mail com nome, ocupação veículo e/ou entidade para britarare@gmail.com.

    ***

    DEMOCRACIA SE CONSTRÓI COM INFORMAÇÃO DE QUALIDADE, SEM CENSURA E SEM 'FAKE NEWS'

    A disseminação em massa de "fake news" é um fenômeno global que tem consequências devastadoras para a vida e para a democracia. O problema é real e exige respostas efetivas que preservem o direito fundamental à liberdade de expressão, que permitam o livre debate de ideias e de perspectivas sobre os acontecimentos.

    A sociedade precisa enfrentar essa pandemia de mentiras e desinformação, que são produzidas de forma coordenada por setores ideológicos, políticos e econômicos, que investem muito dinheiro e inteligência para distorcer propositadamente a realidade, com o objetivo de alcançar seus objetivos e defender seus interesses.

    A crise sanitária, que neste momento atinge o mundo, revelou de forma dramática o perigo que as "fake news" representam: líderes políticos ignorando a ciência para dizer que o Covid-19 é apenas uma “gripezinha”, estímulo ao uso de medicamentos sem comprovada eficácia científica, a disseminação de conteúdos afirmando que a doença não existe, ou foi fabricada para derrubar o presidente, etc.

    Em meio a essa crise, surge uma pressão para que o Congresso Nacional dê resposta legislativa para o combate às "fake news".

    É fundamental que deputados e senadores tomem a iniciativa de realizar um amplo debate público sobre o melhor caminho a ser adotado para enfrentar a pandemia da mentira e desinformação.

    Nós, jornalistas e comunicadores sociais - que trabalhamos para oferecer informação de qualidade para a sociedade, que lutamos para dar expressão e visibilidade a fatos e opiniões que não têm espaço na mídia hegemônica, que temos contribuído para conferir mais pluralidade e diversidade ao debate público no Brasil - afirmamos que não se pode, sob o pretexto de combater as "fake news", criar mecanismos privados de avaliação da veracidade de conteúdos jornalísticos.

    Alertamos para o perigo que representará para a democracia e para a liberdade de expressão conferir às plataformas privadas da internet a responsabilidade de definir que conteúdos são ou não verídicos, iniciativa que inclusive viola o Marco Civil da Internet. Tampouco podemos acreditar que agências privadas de checagem de notícias podem cumprir esse papel com isenção e neutralidade, ou que seja possível nomear grupos de jornalistas com o poder de classificar conteúdos jornalísticos produzidos por outros jornalistas.

    Não se combate "Fake News" criando um Ministério da Verdade. Sabemos como isso acaba: com a tentativa de legitimação da censura.

    O problema contemporâneo envolvendo a disseminação de mentiras e desinformação pode ser combatido de outra forma: criando instrumentos legais e usando os já existentes para desmontar os gabinetes de ódio e as fábricas de produção industrial de "fake news". Isso pode ser feito cruzando as fontes de distribuição de desinformação — nas redes sociais, nos sítios web — com os esquemas criminosos de financiamento dessas estruturas.

    É preciso responsabilizar civil e criminalmente empresas que financiam essas estruturas para fabricar e disseminar de forma artificial esses conteúdos que podem trazer danos à vida e à democracia. Agentes públicos que financiem e produzam esse tipo de conteúdo também devem ser responsabilizados por isso.

    Também é fundamental exigir que as plataformas prestem informações transparentes sobre todos os mecanismos de mediação de conteúdos que elas já utilizam para definir o fluxo da circulação dos conteúdos.

    Só é possível enfrentar essa questões a partir de um amplo debate, o que pressupõe a construção de mecanismos que incluam os mais variados setores sociais na discussão de propostas concretas. Neste momento de isolamento social, em que a Câmara e o Senado debatem remotamente, sem a realização de audiências públicas e outras formas de participação social, não é viável garantir amplo debate sobre o tema.

    Neste sentido, alertamos para o perigo que pode representar para a democracia e para a liberdade de expressão a aprovação de qualquer projeto de lei sobre esse tema, de forma sumária e sem que estas formas de participação e diálogo amplo sejam produzidos.

    São Paulo, 25 de maio de 2020.

    Assinam este manifesto:

    Entidades

    Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
    Associação Brasileira de Imprensa
    Abraço - Associação Brasileira de Rádios Comunitárias
    Federação Nacional dos Jornalistas
    Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
    Núcleo Piratininga de Comunicação
    Agência de Notícias das Favelas

    Veículos

    Jornalistas Livres
    Revista Fórum
    Brasil 247
    Le Monde Diplomatique Brasil
    Viomundo
    O Cafezinho
    Outras Palavras
    Diálogos do Sul

    Jornalistas/Individuais

    Altamiro Borges - presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
    André Fernandes - Fundador da Agência de Notícias das Favelas
    Antônio Martins - Editor do Outras Palavras
    Aquiles Lins - jornalista, editor do Brasil 247 e doutorando em Ciência Política
    Denise Assis - jornalista e colunista do 247
    Florestan Fernandes Jr - jornalista
    Heloisa Toledo - diretora de teatro
    Inácio Carvalho - Editor do Portal Vermelho
    Kiko Nogueira - Editor Diário do Centro do Mundo
    Laura Capriglione - Fundadora dos Jornalistas Livres
    Leonardo Attuch - Editor do Brasil 247
    Marcelo Auler - jornalista
    Miguel do Rosário - Editor do Cafezinho
    Miguel Paiva - jornalistas pela Democracia
    Paulo Salvador - da Rede Brasil Atual
    Renata Mielli - jornalista, coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
    Renato Aroeira - cartunista e músico
    Rodrigo Vianna - jornalista
    Silvio Caccia Bava - Editor do Le Monde Diplomatique Brasil
    Teresa Cruvinel - jornalista
    Vanessa Martina Silva - Editora da revista Diálogos do Sul

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