Após enterrar mito do “comunista de iPhone”, deputado espanhol desmonta falácia da meritocracia ao falar de saúde pública
No discurso, o parlamentar precisou de apenas um dado para desmontar a falácia neoliberal da “meritocracia”, usada sempre para justificar as políticas de arrocho contra trabalhadores e setores mais pobres em cada país.
Rogértio Tomaz Jr, de Mendonza - O deputado espanhol Iñigo Errejon (Más País), que em setembro já havia enterrado o mito do “comunista de iPhone”, fez um novo discurso na tribuna da Câmara da Espanha que está viralizando nas redes sociais [vídeo abaixo] e foi até compartilhado pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández.
Na última quinta-feira (15), Errejon ocupou a tribuna para criticar a gestão do Partido Popular, de direita, em Madri, cidade espanhola mais afetada pela pandemia do coronavírus. No discurso, o parlamentar precisou de apenas um dado para desmontar a falácia neoliberal da “meritocracia”, usada sempre para justificar as políticas de arrocho contra trabalhadores e setores mais pobres em cada país.
“Em Madri, a diferença de [expectativa de] vida, se você nasceu num bairro da zona sul ou se você nasceu na região norte é de até 10 anos. Me falem agora da meritocracia, da igualdade de oportunidades e de que é preciso se esforçar na vida”, cobrou Errejon, dirigindo-se aos deputados do PP.
Na sequência, o deputado de esquerda listou números que mostram a fragilidade do sistema de saúde pública de Madri e apontou o motivo que guia a direita na sua eterna luta contra os serviços públicos.
“Vocês têm um problema com o enfrentamento da pandemia, e é que são inimigos ideológicos, declarados, até o fanatismo da saúde pública. Eu a princípio acreditava que era fundamentalmente para que os seus amigos fizessem negócio com a saúde pública. Privatizam, externalizam e presenteiam os amigos. Acredito que há algo mais. [Vocês] Têm uma obsessão doentia porque a saúde pública é uma demonstração de que o público funciona”, enfatizou.
Assista ao vídeo com o discurso de Errejon e abaixo segue a transcrição completa do pronunciamento.
TRANSCRIÇÃO DO DISCURSO DE IÑIGO ERREJON (15/10/2020)
Em Madri, a diferença de [expectativa de] vida, se você nasceu num bairro da zona sul ou se você nasceu na região norte é de até 10 anos.
Me falem agora da meritocracia, da igualdade de oportunidades e de que é preciso se esforçar na vida.
DEZ anos de diferença, dependendo se você nasceu no sul ou no norte da Comunidade de Madri.
Madri é a comunidade autônoma que menos investe em gasto público na saúde, a terceira que pior paga os seus profissionais (e depois dizem que não há gente que queira ser médico).
E a que menos investe na atenção primária.
A quem surpreende, então, que seja a mais impactada pelos efeitos do vírus?
Vocês têm um problema com o enfrentamento da pandemia, e é que são inimigos ideológicos, declarados, até o fanatismo da saúde pública.
Eu a princípio acreditava que era fundamentalmente para que os seus amigos fizessem negócio com a saúde pública.
Privatizam, externalizam e presenteiam os amigos.
Acredito que há algo mais. [Vocês] Têm uma obsessão doentia porque a saúde pública é uma demonstração de que o público funciona.
É eficaz e cuida. Educa, produz cidadania, produz comunidade.
Todas as pessoas aportam segundo suas capacidades e recebem segundo as suas necessidades.
E isso deixa vocês extremamente nervosos”.
[Tradução: Rogério Tomaz Jr.]
*Rogério Tomaz Jr. é jornalista brasileiro, residente em Mendoza, Argentina, onde faz mestrado em Estudos Latinoamericanos e escreve sobre política internacional e sobre Eduardo Galeano.
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