China acelera corrida por quartzo de alta pureza com foco em autossuficiência e liderança tecnológica

247 - A China intensificou sua busca por fontes nacionais de quartzo de alta pureza, em uma tentativa de reduzir a dependência de importações e fortalecer sua posição nas indústrias de ponta. 

Segundo reportagem publicada pelo South China Morning Post, o Ministério de Recursos Naturais do país oficializou a classificação do quartzo como o 174º mineral passível de exploração na China, marcando um avanço relevante na estratégia de autossuficiência industrial.

As reservas identificadas em 2020 na província de Henan e em 2021 na região de Altay, em Xinjiang, abriram caminho para essa designação oficial. Embora o país tenha vastas reservas de quartzo em geral, menos de 1% atende aos requisitos de pureza necessários para aplicações em setores de alta tecnologia, como os de semicondutores e energia fotovoltaica. O quartzo identificado apresenta uma pureza capaz de produzir silício com no mínimo 99,995% de pureza, padrão exigido por essas indústrias.

A classificação oficial de novos minerais tende a impulsionar a exploração mineral, concessão de direitos de mineração e a atração de investimentos do setor privado. Os exemplos mais recentes foram o gás de xisto e os hidratos de gás natural, que passaram por ciclos rápidos de pesquisa e desenvolvimento após serem oficialmente reconhecidos.

A decisão de acelerar os esforços de exploração foi confirmada pelo próprio ministério, que declarou que a nova designação permitirá intensificar buscas em outras regiões do país e padronizar métodos de extração e purificação. “O governo vai criar centros de pesquisa especializados para desenvolver melhores formas de localizar, purificar e utilizar o quartzo de alta pureza”, afirmou o ministério em entrevista coletiva.

Para o acadêmico Mao Jingwen, da Academia Chinesa de Engenharia, “o quartzo de alta pureza possui propriedades únicas como resistência ao calor, à corrosão, baixa expansão térmica, alta isolação e transparência à luz”. Segundo ele, essas características fazem do mineral um “material essencial para indústrias estratégicas emergentes como semicondutores e fotovoltaica, desempenhando um papel central na competição tecnológica entre países”.

Apesar dos avanços internos, a China ainda lidera as importações mundiais do mineral, com uma fatia de 47% do mercado global em 2021, segundo dados publicados pela China Mining Magazine. O volume comercial importado dobrou entre 2019 e 2022, passando de US$ 1,4 bilhão para cerca de US$ 2,7 bilhões. Estados Unidos e Alemanha dominam as exportações globais, com quase 60% do total.

O Brasil, por sua vez, lidera em reservas naturais de quartzo de alta pureza, com cerca de 28% da oferta global, seguido por Estados Unidos e Canadá, conforme relatório do Instituto de Pesquisa da Indústria Qianzhan.

A designação oficial do mineral também se alinha ao esforço do governo chinês para garantir o acesso a recursos críticos e reforçar a segurança energética e industrial. Em fevereiro, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação lançou um plano para impulsionar o desenvolvimento da indústria de armazenamento de energia, incluindo diretrizes para alocação ordenada de direitos de mineração e fortalecimento da segurança dos recursos domésticos.

As descobertas de minerais estratégicos têm ocorrido em meio ao acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos. Em março, o presidente dos EUA, Donald Trump, pediu que a representante comercial norte-americana impusesse tarifas a todos os semicondutores fabricados na China. Ao mesmo tempo, Washington vem buscando diversificar suas fontes de minerais críticos.

Nesse contexto, o governo norte-americano teria proposto assumir o controle de 50% das reservas de terras raras da Ucrânia. De acordo com a vice-primeira-ministra ucraniana, uma delegação do país visitará Washington esta semana para negociar um projeto mais abrangente de acordo mineral oferecido pelos EUA.