China e Brasil: Quebrar gargalos com reformas e abrir futuro com cooperação
Os dois países vão contribuir para o futuro compartilhado para o Sul Global e para toda a humanidade
Por Xi Pu (*) - Entre os dias 17 e 21 de novembro, o presidente da China Xi Jinping participará da Cúpula do G20 e efetuará uma visita de Estado ao Brasil. Neste momento em que os olhares do mundo se voltaram para a China e o Brasil, queria contar três histórias.
Nos 1960s, um grande país, que poderia ter uma vida confortável com apenas suas vantagens comparativas, não aceitou ser definido como um mero “produtor de commodities”, empenhou em melhorar a estrutura econômica com o processo de substituição de importações e criou o “milagre econômico” que chamou atenção de todo mundo. Com isso, o gigante passou a ter a indústria mais completa da América Latina e Caribe, conseguindo produzir manufaturados de média a alta complexidade que são competitivos no mercado internacional, e até hoje continua prosseguindo com firmeza este sonho da industrialização.
Já nos 1970s, um outro país, também grande, iniciou com enorme coragem e determinação o processo de reforma e abertura. Injetou novos vigores no próprio desenvolvimento e conseguiu criar novas vantagens na concorrência global. Vale destacar que após ter uma indústria manufatureira liderante no mundo, o país não quis ser prendido em low-end, ou parte inferior, das cadeias produtivas globais, continuou melhorando a qualidade do crescimento com trabalhos árduos, e até hoje enfatiza que “a reforma e a abertura é um processo constante que está sempre em curso”.
E nos 1980s, de mãos dadas, esses dois grandes países conseguiram quebrar as barreiras tecnológicas no sensoriamento remoto por satélite por meio de pesquisa e desenvolvimento conjunto. Criaram o programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres, ou CBERS, que foi reconhecido como “modelo de cooperação Sul-Sul de alta tecnologia”. Hoje, o programa já tem lançado com sucesso cinco satélites, mais ainda, distribui de graça os seus dados para os países da África e da América Latina e Caribe.
Por que conto essas três histórias?
Para relembrar a história. Se ampliarmos a perspectiva, podemos perceber as “personalidades” da China e do Brasil—empreendedores, autoconfiantes, determinados, com visão para o futuro, ousados em se reformar para quebrar gargalos, e com vontade de dizer ao mundo “quem sou eu” com ações concretas em vez de ser definidos por outros. Podemos também ver como é que os dois países chegaram a onde estão hoje desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1974—unidos enquanto autofortalecidos, lutaram ombro a ombro para se livrar dos entraves, e compartilham os resultados com os irmãos em desenvolvimento.
Para homenagear o presente. O Brasil de hoje, mesmo já voltou para 8ª maior economia do mundo, não pára de se esforçar por impulsionar reformas estruturais e reduzir o Custo Brasil por meio de grandes projetos como o Plano de Ação Conjunta e o programa Nova Indústria Brasil. A China de hoje, por sua vez, foca em promover um maior aprofundamento integral da reforma em busca da modernização chinesa, enquanto oferece oportunidades de desenvolvimento ao mundo com a Iniciativa Cinturão e Rota, tendo sempre em mente o futuro compartilhado da humanidade. Hoje, China e Brasil continuam com a colaboração estreita, promovem juntos o progresso das relações bilaterais, defendem firmemente os interesses dos mercados emergentes e países em desenvolvimento, e impulsionam o desenvolvimento comum do Sul Global.
Para inspirar o futuro. Não tenho dúvida alguma de que esta visita alcançará numerosos consensos e projetos importantes, trará benefícios concretos aos chineses e brasileiros e injetará energia positiva com a união e cooperação dos grandes países emergentes a esse mundo cada vez mais turbulento. Para mim, porém, as maiores curiosidades são: como os dois países vão elevar ainda mais a Parceria Estratégica Global China-Brasil e moldar os próximos “50 anos dourados” para as relações bilaterais a partir de um patamar já tão alto; como os dois países vão estabelecer sinergias entre suas estratégias e com isso promover as próprias reformas e desenvolvimento; e como os dois vão contribuir para o futuro compartilhado para o Sul Global e para toda ahumanidade.
(*) O autor é observador de assuntos internacionais com base em Beijing
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