Como a crise equatoriana pode alertar para devastação social no Brasil?
Diante da enorme crise política vivida pelo Equador no governo de Lenín Moreno e da grande mobilização popular no país, surge a dúvida: qual a relação do conflito no Equador com o Brasil? Entenda
Sputnik - O Equador está passando pela maior crise política no país, tanto que o presidente equatoriano, Lenín Moreno, decidiu mudar temporariamente o governo da capital Quito para Guayaquil. A Sputnik explica o que estaria acontecendo no país e possíveis consequências.
O que provocou os protestos?
No início de outubro, os sindicatos dos trabalhadores e o movimento indígena, junto a outros grupos da sociedade civil organizada, decidiram iniciar manifestações pelo país, mobilizando-se por tempo indeterminado para protestar contra as reformas econômicas do governo.
Milhares de pessoas foram às ruas em resposta ao anúncio de Moreno de eliminar os subsídios a combustíveis como uma forma de conter o déficit fiscal equatoriano. Entretanto, a medida estaria levando a um aumento no preço de itens básicos de consumo.
A medida faz parte de um pacote de medidas econômicas que foram estabelecidas como consequência do acordo de empréstimo de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,2 bilhões) com o Fundo Monetário Internacional (FMI), conforme cita a BBC.
Contudo, a eliminação de subsídios estaria provocando um aumento de 120% do diesel e de 30% da gasolina normal, além de reformas trabalhistas e tributárias que estariam afetando diretamente os trabalhadores e beneficiando os grupos exportadores e importadores.
Além do problema dos subsídios, o Equador hoje vive uma crise democrática de representação, pois a sociedade não está certa de que o governo esteja trabalhando em benefício da maioria, tornando os serviços públicos precários, elevando o número de desempregados e perdendo soberania econômica e política, entregando o país aos poderes fáticos e dividindo o país entre os grupos econômicos.
Histórico de protestos no Equador
O Equador, um país dolarizado e que depende do petróleo, possui um grande histórico de problemas e crises, que já desafiaram a estabilidade no país e derrubaram governos.
Entre 1996 e 2007, o país passou pela pior instabilidade política de sua história, quando ocorreram diversos protestos sociais que provocaram a queda de três presidentes, sendo que dois deles tentaram realizar ajustes econômicos.
A última grande crise enfrentada pelo país foi a de 2005, quando o então presidente Lucio Gutiérrez, um militar aposentado, renunciou depois de diversos protestos que contavam com o apoio indígena.
Em 2007, Rafael Correa assumiu a presidência do país até 2017, período que fez com que o Equador fosse atingido pelo alto endividamento e pela falta de liquidez, aponta a Folha de São Paulo.
A crise equatoriana pode ser solucionada?
Perante a crise mais grave da história equatoriana, em que os protestos liderados por sindicatos do setor de transporte e indígenas tomam conta do país, o presidente Moreno afirmou que não revisaria o pacote de medidas, que inclui a eliminação de subsídios à gasolina, excluindo a possibilidade de solucionar o problema através de uma revisão.
O professor Viktor Jeifets, da cátedra de Teoria e História das Relações Internacionais da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade Estatal de São Petersburgo, ressaltou à Sputnik que a situação talvez possa ser solucionada através da antecipação das eleições.
A hipótese também foi indicada pelo ex-presidente equatoriano, Rafael Correa, que apontou, durante uma entrevista à CNN, uma "saída constitucional" e democrática para resolver a situação, fazendo com que uma eleição antecipada dê a oportunidade de o povo votar e escolher a melhor opção para o país.
Fantasma do FMI estaria regressando à América Latina
Vale destacar que o Fundo Monetário Internacional (FMI), representado pelo Tesouro norte-americano, grandes bancos e instituições internacionais, também é conhecido por gerar problemas em alguns governos devido aos seus termos e imposições para firmar os acordos.
Hoje, na América Latina apenas o Uruguai, a Bolívia e o México resistem bravamente ao FMI, que está ativamente presente no Equador e na Argentina. A política do FMI segue levando os países à recessão e à depressão, e o mais recente exemplo disso é o Equador, que acaba de decretar estado de exceção em meio a imposições de um acordo com o FMI para dolarizar o país.
O Peru é outro país que está sofrendo as consequências de viver sob a tutela do FMI, sofrendo com os desdobramentos da Operação Lava Jato.
A Argentina, por sua vez, retrata a participação do FMI nos índices de pobreza e desemprego, além da elevação dos preços e desvalorização de sua moeda local.
Possíveis consequências para o Brasil
Na verdade, a crise no Equador provavelmente não trará consequências para o Brasil, mas sim servirá de lição.
"Tanto no Brasil como nos demais países que têm que lidar com sérios ajustes fiscais, vale observar o que acontece lá para não cometer os mesmos erros", afirmou ao portal UOL a doutora em relações internacionais e especialista em América Latina Manoela Miklos.
Além disso, a situação de Moreno no Equador, que é apoiado pelo presidente argentino, Mauricio Macri, e pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deve servir de alerta para que ambos os países não sigam o mesmo passo em direção à submissão radical, que Bolsonaro chama de "aproximação", diante do presidente norte-americano, Donald Trump.
Essa submissão fez com que o presidente equatoriano fechasse um acordo de bilhões de dólares com o FMI, devastando o país socialmente.
Ou seja, a situação de Macri, de Moreno e do presidente peruano Martín Vizcarra deve servir de alerta àqueles que pretendem seguir a política neoliberal e de submissão radical, causando o naufrágio dos países em questão, bem como de seus representantes. Sendo assim, Bolsonaro precisa aprender com os "vizinhos" para não cometer os mesmos erros e provocar uma devastação social no Brasil.
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