Como rede de tráfico humano aliciou dois jovens brasileiros impedidos de deixar Mianmar
O Sudeste Asiático, especialmente Mianmar, tornou-se base de operações de grupos criminosos
247 - Cerca de um mês após Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, cair em uma rede de tráfico humano no Sudeste Asiático, outro brasileiro, Phelipe Ferreira, se tornou vítima do mesmo esquema. Ambos foram atraídos por falsas ofertas de emprego na Tailândia e acabaram capturados por grupos criminosos que operam na região. A denúncia foi divulgada inicialmente pelo Globo.
Phelipe Ferreira, que já havia trabalhado em cassinos na Tailândia, Dubai e Filipinas, retornou ao Brasil em agosto de 2023 antes de receber uma nova proposta de emprego por meio do aplicativo Telegram. O brasileiro foi atraído por uma vaga em um call center em Bangcoc, com salário prometido de US$ 2 mil, mais comissões e benefícios.
— Ele já tinha experiência fora do país e viu na proposta uma oportunidade. As passagens foram pagas pela empresa, e ele embarcou no fim de novembro — contou Antônio Ferreira, pai de Phelipe.
O desaparecimento
Phelipe se hospedou em um hotel na capital tailandesa e, em uma última ligação a um amigo, relatou que aguardava o motorista da suposta empresa para levá-lo ao local de trabalho. Após cerca de duas horas no carro, percebeu que algo estava errado e, desde então, não fez mais contato com a família. A última localização do seu celular indicava que ele estava próximo a uma área de mata em Mianmar.
A experiência de Phelipe ecoa o caso de Luckas Viana, que também trabalhou em cassinos no Sudeste Asiático antes de ser aliciado para uma vaga em Mae Sot, cidade tailandesa na fronteira com Mianmar. O trajeto envolveu trocas de veículos e até viagens de barco, até que Luckas desapareceu.
— Ele entrou no carro e ficamos conversando, mas algo parecia estranho. Depois, ele começou a desligar e não conseguimos mais contato — relatou Cleide, mãe de Luckas.
Trabalho forçado e tortura
Segundo informações obtidas pelo Globo, ambos os brasileiros estão detidos em complexos operados por organizações criminosas em Mianmar. Nos locais, vítimas de tráfico humano são forçadas a aplicar golpes virtuais e vivem sob constantes ameaças de morte. Relatos descrevem torturas, incluindo choques elétricos e agressões físicas, além de condições degradantes de trabalho, com jornadas de até 17 horas diárias.
Cleide compartilhou nas redes sociais a angústia de lidar com a situação: “Meu filho está preso nas redes cruéis do tráfico humano, sendo explorado, torturado e forçado a cometer crimes contra sua vontade.” Ela afirmou ainda que recebeu uma ligação em que exigiram US$ 20 mil para libertar Luckas.
Gangues e um mercado de US$ 3 trilhões
O Sudeste Asiático, especialmente Mianmar, tornou-se base de operações de grupos criminosos que movimentam bilhões de dólares anualmente. Esses esquemas se expandiram rapidamente durante a pandemia de Covid-19, aproveitando-se do anonimato proporcionado pelo ambiente digital e das fragilidades políticas da região.
O secretário-geral da Interpol, Jurgen Stock, alertou que “o que começou como uma ameaça regional no Sudeste Asiático tornou-se uma crise global de tráfico humano, com milhões de vítimas”.
Ações e alertas das autoridades
O Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Yangon, afirmou que acompanha os casos e tem feito gestões junto ao governo de Mianmar. “A Embaixada segue em contato frequente com os familiares, prestando assistência consular e buscando colaborar com as autoridades locais”, afirmou o Itamaraty em nota.
Apesar disso, as famílias das vítimas reclamam da lentidão nas ações. “Cada segundo conta. Precisamos de apoio urgente para libertar nossos filhos”, desabafou Antônio Ferreira.
ONGs internacionais especializadas em tráfico humano têm dado suporte às famílias e pressionado por ações mais contundentes. Além disso, alertas foram emitidos para brasileiros que buscam oportunidades de trabalho no Sudeste Asiático, especialmente em países como Tailândia e Mianmar, para que fiquem atentos a propostas suspeitas e cláusulas de confidencialidade.
A crise evidencia a gravidade do tráfico humano na região e o desafio global de combater redes criminosas que exploram milhares de pessoas em busca de lucro fácil.
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