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    Deportação em massa defendida por Trump nos EUA pode custar até US$ 300 bilhões e resultar na falta de mão de obra

    O político da extrema-direita norte-americana disse que vai implementar a medida após tomar posse

    Donald Trump, presidente dos EUA (Foto: Reuters)
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    247 - O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja promover uma deportação em massa de 11 milhões de imigrantes que vivem sem os documentos pedidos pelas autoridades norte-americanas. O político da extrema-direita afirma que implementará a medida logo após tomar posse, marcada para o dia 20 de janeiro. Estima-se que remover milhões de trabalhadores imigrantes do mercado nos EUA poderia reduzir o produto interno bruto (PIB) do país em cerca de US$ 1,6 trilhão (cerca de R$ 9,8 trilhões) durante 20 anos. A proposta pode custar aos EUA entre US$ 100 bilhões (cerca de R$ 615 bilhões) e US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,8 trilhão).

    Atualmente, os EUA têm a maior população imigrante do mundo, girando em torno de 50 milhões de pessoas só em 2023, destacou a pesquisadora Thais Lacerda, doutora em ciências sociais na linha de relações internacionais e desenvolvimento da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

    Se a proposta de Donald Trump for aprovada, faltará mão de obra imigrante nas indústrias, que também dependem de trabalhadores estrangeiros em áreas como agricultura, construção e hospitalidade. Em consequência, empresas podem ter aumento nos custos operacionais e nos preços dos produtos. Nesse contexto, 

    Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas afirmaram que a proposta de Trump pode causar mais prejuízos do que benefícios à economia dos EUA.

    "Esses imigrantes ajudam a criar empregos, aumentam os salários, ajudam a reduzir a inflação também, além de aumentar a produtividade e a inovação. […] Então os EUA hoje não podem aumentar sua força de trabalho sem aumentar a imigração", afirmou Thaís, docente no curso de psicologia na Faculdade Católica Paulista (UCA), coordenadora do projeto de pesquisa Latino Observatory, consultora na gestão intercultural na Múltipla Consultoria e professora bolsista em disciplinas diversas no curso de relações internacionais da Unesp.

    De acordo com a estudiosa, se a imigração nos EUA fosse reduzida a zero, essa força de trabalho cairia para cerca de 18 milhões em 2040, em comparação com 46 milhões em uma política de imigração como a atual. 

    "Essa diferença de 28 milhões de trabalhadores [a menos] vai ter um impacto bastante grande na imigração, na mitigação da taxa de dependência também de idosos e no fortalecimento da economia. E aí, de uma forma mais resumida, então a redução da imigração teria efeitos amplamente negativos."

    A analista criticou o projeto de Trump. "Fatores que estão mais articulados em torno de uma retórica, em torno de uma pressão mais populista […] do que se a gente for pegar realmente esses dados, que demonstram que essa força de trabalho imigrante é fundamental para a economia dos EUA."

    Ela acrescenta que o combate à imigração não é uma agenda exclusiva dos republicanos e lembra que a administração de Barack Obama foi campeã em deportações, assim como o atual governo de Joe Biden, com a diferença de que este último deu mais ênfase à deportação de imigrantes com antecedentes criminais, o que, segundo ela, mostrou-se eficiente em questão de segurança pública. Em contraponto, ela afirma que a retórica de Trump é mais generalista, mirando a população de imigrantes como um todo.

    "Em relação às políticas de Trump, os casos mais reportados foram aumento de separação de famílias […] não priorizou os criminosos graves, como ele está dizendo hoje, mas sim casos de cidadãos que não tinham reincidência nenhuma, que não tinham processo algum, separando famílias", afirma.

    Sobre os impactos do plano de deportação em massa, Lacerda aponta que os estados mais afetados seriam Califórnia, Texas e Flórida, que juntos abrigam quase a metade dos imigrantes indocumentados nos EUA, e destaca que uma operação única para deportar esses imigrantes custaria pelo menos US$ 315 bilhões (cerca de R$ 1,9 trilhão), que seriam divididos da seguinte forma: US$ 89 bilhões (cerca de R$ 547 bilhões) para realizar prisões suficientes; US$ 168 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) para manter os imigrantes presos detidos; US$ 34 bilhões (cerca de R$ 209 bilhões) em processos legais na justiça e US$ 24 bilhões (cerca de R$ 147 bilhões) em transporte de imigrantes para fora do país.

    "Seria um gasto bastante grande, e aí essa deportação em massa agravaria essa escassez de mão de obra nos EUA", afirma.

    Discurso belicista

    Andrea Pacheco Pacífico, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado da Paraíba (PPGRI/UEPB), alerta que a proposta de Trump vai impactar toda a América Latina, sobretudo no México, uma vez que um terço dos imigrantes irregulares hoje nos EUA são de nacionalidade mexicana.

    "Imagina o México receber de volta esses cidadãos, entrando no país desempregados, em um país que tem uma instabilidade política, econômica e social, com gangues, crime organizado atuando fortemente. Então também os outros países do continente vão sofrer as consequências."

    No recorte dos EUA, ela afirma que os setores mais afetados serão a agricultura, a construção civil, o turismo e a saúde. Ademais, ela aponta que cidadãos americanos e, mesmo, imigrantes regulamentados não aceitam postos de trabalho considerados subalternos, e essas vagas são preenchidas por imigrantes indocumentados.

    "Então não tem como suprir essa carência. Por isso que eu reitero que essa política de deportar não sei quantos milhões de imigrantes irregulares não vai ser rápida, vai ser de forma gradativa, e nem todos os que estão ameaçados no discurso em geral vão ser considerados passíveis dessa onda de deportação", observa.

    Pacífico afirma ainda que a retórica da deportação está associada ao discurso belicista, que causa impacto por ser a indústria bélica a mais forte e a que mais gera lucro atualmente nos EUA.

    "Os EUA sempre precisam ter um inimigo contra quem lutar para mover a indústria bélica, que é onde está a base da economia dos EUA. A gente vê a quantidade de imigrantes que os EUA atraem para a indústria bélica, com todas as promessas de 'Você vai para a guerra', 'Você vai se alistar e quando voltar vai ter todos os louros da vitória por ser um veterano de guerra nos EUA', ele tem direitos além de um cidadão comum”, continuou. 

    “Só que, em geral, o imigrante vai para a guerra e […] não sabe se volta. Então o indivíduo não volta, morre, e, como diz o ditado, o governo [dos EUA] matou dois coelhos com uma cajadada só. Mandou o imigrante para a guerra, está sustentando sua indústria bélica, movendo sua economia e ainda se livrou de um imigrante" (com Sputnik).

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