Diretor do Valdai Club aponta Macron como a face da submissão ocidental
Presidente francês se posiciona como intermediário entre Washington e a União Europeia, mas seu papel é visto como capitulação
247 – O cientista político Timofey Bordachev, diretor de programas do Valdai Club, publicou um artigo no portal RT no qual analisa o papel do presidente francês, Emmanuel Macron, na atual conjuntura geopolítica. Segundo Bordachev, Macron se tornou o principal símbolo da submissão da Europa Ocidental aos interesses ocidentais, abandonando qualquer pretensão real de autonomia estratégica.
O autor argumenta que, embora alguns líderes e analistas europeus falem sobre a necessidade de um dirigente capaz de desafiar a influência dos EUA ou da Rússia, a realidade é que a Europa Ocidental tem se limitado a adaptar-se às grandes potências. No momento, o continente estaria ajustando sua política externa para seguir a nova orientação estabelecida por Washington, sem qualquer esforço significativo para garantir independência em assuntos globais.
A corrida pela preferência de Washington
Bordachev observa que, com a transição na administração dos EUA, os países europeus vêm realinhando suas estratégias para garantir uma posição favorável diante da Casa Branca. Alemanha, Reino Unido e França competem pelo posto de parceiro privilegiado dos Estados Unidos, enquanto países menores, como a Polônia, já consolidaram sua lealdade incondicional a Washington.
O Reino Unido, após o Brexit, busca manter uma política externa independente, mas com pouca influência sobre os rumos do continente. Já a Alemanha, segundo Bordachev, adota uma postura mais cautelosa, aguardando definições mais claras dos EUA antes de tomar decisões significativas. Nesse cenário, Emmanuel Macron se apresenta como o candidato ideal para liderar a adaptação da Europa Ocidental às diretrizes norte-americanas.
Macron: o líder perfeito para a capitulação europeia
O autor sustenta que Macron possui características ideais para cumprir esse papel. Como chefe de Estado da única nação da União Europeia com um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e com um arsenal nuclear independente, ele dispõe de um certo peso simbólico. No entanto, Bordachev argumenta que esses atributos não garantem uma influência real para a França no cenário global.
Macron também representa a elite política da União Europeia: um diplomata habilidoso, que domina a arte da retórica, mas cujas ações carecem de impacto significativo. Apesar das derrotas eleitorais nas eleições para o Parlamento Europeu e para a Assembleia Nacional francesa, ele sobrevive politicamente, sustentado por discursos grandiosos e manobras de bastidores. No entanto, sua administração tem sido marcada por fracassos na tentativa de reverter o declínio econômico da França, sendo limitado pelas amarras da zona do euro.
Bordachev relembra as contradições de Macron ao longo dos anos, como sua famosa declaração sobre a "morte cerebral" da OTAN no início de seu governo. Segundo o analista, a disposição do presidente francês para mudar de posição conforme as conveniências políticas faz dele um líder altamente adaptável às exigências dos Estados Unidos.
A rendição europeia e a crise na Ucrânia
O artigo sugere que Macron será a face da "rendição" da Europa Ocidental no desfecho da crise geopolítica em torno da Ucrânia. Para Bordachev, os únicos vencedores dessa guerra serão os Estados Unidos e a Rússia, enquanto os grandes perdedores serão a própria Europa Ocidental e a Ucrânia. A única dúvida, segundo ele, é sob quais condições essa derrota será formalizada.
Nesse contexto, Bordachev argumenta que a União Europeia vem executando iniciativas que atendem mais aos interesses estratégicos dos EUA do que a uma decisão autônoma do bloco. Um exemplo disso seria a proposta de enviar “forças de paz” para a Ucrânia, o que estaria alinhado com a estratégia de Washington de transferir para os europeus o peso do conflito. No fim, qualquer acordo que surja será apresentado pela UE como um triunfo diplomático, mesmo que, na prática, represente apenas um recuo disfarçado.
Dado o histórico de aceitação pública de decisões questionáveis por parte dos líderes europeus, o autor sugere que esse desfecho será vendido à opinião pública como um grande feito histórico.
O futuro de Macron e da Europa Ocidental
Por fim, Bordachev conclui que Macron pode se tornar o rosto dessa transição, atuando como o principal representante da União Europeia tanto em Washington quanto em Moscou. No entanto, essa posição não significaria liderança real, mas sim a execução das diretrizes impostas pelos EUA.
O analista ironiza a ideia de que a Europa Ocidental precise de um líder forte para desafiar as grandes potências, sugerindo que Macron está mais próximo de ser um facilitador da hegemonia americana do que um estadista independente. Quando seu mandato terminar, Bordachev prevê que Macron seguirá o caminho de muitos ex-líderes europeus: assumindo um cargo confortável no setor privado ou em uma organização internacional, deixando para trás os desafios que sua gestão não conseguiu solucionar.
O artigo conclui que Macron representa a essência da liderança europeia contemporânea: um político cuja ascensão teria sido impensável em tempos em que a Europa Ocidental ainda desempenhava um papel relevante na geopolítica mundial. Agora, à medida que o continente se encaminha para a irrelevância estratégica, ele parece ser o tipo exato de líder que a Europa merece.
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