El Salvador propõe receber presos dos EUA em iniciativa polêmica, marcada por críticas a direitos humanos

247 - Em uma proposta que gerou reações mistas, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu ao governo dos Estados Unidos a possibilidade de transferir parte de sua população carcerária para o país centro-americano. A ideia, anunciada na segunda-feira (3) por meio da rede social X (antigo Twitter), foi elogiada pelo secretário de Estado americano Marco Rubio, que visitava El Salvador na ocasião. No entanto, a iniciativa reacendeu críticas ao governo Bukele, marcado por denúncias de desrespeito aos direitos humanos e políticas de encarceramento em massa, destaca reportagem da RFI.

"Propusemos aos Estados Unidos transferir parte do seu sistema penitenciário", escreveu Bukele, cuja gestão é conhecida pela postura dura contra o crime. "A tarifa seria bastante modesta para os Estados Unidos, mas seria significativa para nós e nos permitiria financiar todo o nosso sistema penitenciário", explicou o mandatário salvadorenho.

Marco Rubio classificou a oferta como "sem precedentes" e destacou que ela se aplica "inclusive para cidadãos americanos e aqueles com permissão de residência". "Nenhum país jamais fez uma oferta tão amigável", afirmou o chefe da diplomacia americana após reunião com Bukele em San Salvador. No entanto, a proposta ocorre em um contexto em que o governo salvadorenho enfrenta acusações de violações sistemáticas de direitos humanos, incluindo prisões arbitrárias e condições carcerárias desumanas.

Encarceramento em massa e críticas internacionais

A política de "guerra contra as gangues" de Bukele, que reduziu drasticamente as taxas de criminalidade no país, também resultou na detenção de mais de 75 mil pessoas desde março de 2022. Muitas delas foram presas sem julgamento ou sob acusações vagas, segundo organizações de direitos humanos. A maior prisão da América Latina, inaugurada em 2023 perto de Tecoluca, com capacidade para 40 mil detentos, é um símbolo dessa estratégia, que tem sido amplamente criticada por promover o superlotamento e a violência dentro do sistema prisional.

Apesar das denúncias, Bukele foi reeleito em 2023 com mais de 80% dos votos, refletindo o apoio popular à sua política de segurança, ainda que à custa de liberdades civis. Organizações como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch alertam para o aumento de abusos, incluindo tortura e mortes sob custódia, sob o pretexto de combater o crime organizado.

Fortalecimento das relações bilaterais

Durante a visita de Rubio, que incluiu uma miniturnê pela América Central, os dois países anunciaram a assinatura de um acordo de cooperação no campo da energia nuclear civil, área que Bukele deseja desenvolver. O presidente salvadorenho também reforçou a importância da parceria com os EUA, descrevendo o país como "nosso parceiro mais importante, com quem devemos fortalecer ainda mais nossas relações".

"Não escondemos nossa simpatia" por Trump, afirmou Bukele, ressaltando que "este é o momento certo para fortalecer a relação diplomática". A proposta de receber presos americanos, além de cidadãos de outros países, pode representar um novo capítulo na colaboração entre as duas nações. No entanto, especialistas alertam para os riscos de ampliar um sistema prisional já criticado por suas práticas autoritárias e violações de direitos humanos.