Em meio à destruição, Donbass se reconstrói, enquanto EUA e Rússia negociam na Arábia Saudita
Sobreviventes relatam horrores da guerra e reconstrução de Avdeyevka, enquanto diplomacia russa define o tom das negociações com os EUA, conta Pepe Escobar
247 - No coração de Donbass, a cidade de Avdeyevka, antes considerada uma fortaleza ucraniana impenetrável, está aos poucos renascendo. O jornalista Pepe Escobar visitou a região e conversou com moradores que sobreviveram ao cerco e à destruição, enquanto observa os avanços da reconstrução e a realidade pós-conflito.
Segundo reportagem publicada pela Sputnik, um ano após a retomada da cidade, o cenário ainda é de devastção, mas já há sinais de renascimento. Pequenos comércios voltam a funcionar, e prédios estão sendo reconstruídos por empresas de diferentes regiões russas. No entanto, para aqueles que viveram a guerra de perto, as memórias da destruição ainda são vivas. Nadezhda e Elena, ambas na casa dos 60 anos, relataram a Escobar o pesadelo de sobreviver sem água, eletricidade e sob bombardeios constantes.
Avdeyevka era um dos principais pontos de lançamento de ataques contra Donetsk, tornando-se alvo estratégico das forças russas. No entanto, pouco se falou no Ocidente sobre os civis atingidos pelo conflito, assim como ocorre em outras regiões de guerra. Elena, ex-professora de jardim de infância, relembra os dias de prosperidade da cidade, quando a Avdeyevka Coke and Chemical Plant empregava cerca de 40 mil trabalhadores. Sem manifestar rancor contra nenhum dos lados, ela define a guerra como fruto de um "mal-entendido tóxico".
Enquanto os sinais de normalidade começam a surgir, outras regiões de Donbass seguem em reconstrução acelerada. Em Lugansk, a economia está em crescimento, com novos negócios, automóveis chineses nas ruas e parques revitalizados. Donetsk, por sua vez, ainda escuta eventuais explosões, mas a distância dos combates permite que a cidade tenha uma vida noturna em ascensão.
A guerra e a cultura resistem - Em meio ao caos da guerra, a música nunca parou de tocar. Em Donetsk, a Orquestra Filarmônica Estadual manteve suas apresentações ao longo dos anos de conflito, mesmo com parte de seus músicos lutando na linha de frente ou perecendo nos combates. O vice-diretor Dmitry Karas guiou Escobar pelo museu da instituição, repleto de relíquias, incluindo peças ligadas a Prokofiev. No último concerto, canções populares dos anos 60 emocionaram o público, com destaque para a cantora Anna Bratus, uma das principais artistas da região.
Por outro lado, as cicatrizes da guerra estão por toda parte. Em Ugledar, recuperada pelas forças russas há quatro meses, os campos estão repletos de minas deixadas pelo exército ucraniano. O processo de desminagem já está em andamento, mas levará anos para ser concluído. Perto dali, o mosteiro de São Nicolau e São Basílio foi bombardeado repetidamente por tropas ucranianas. Um convento feminino foi atingido por pelo menos cinco mísseis HIMARS, resultando em várias mortes. Atualmente, cerca de 50 pessoas, a maioria idosos sem para onde ir, vivem na igreja, convertida em abrigo.
Negociações entre EUA e Rússia em Riad - A reconstrução de Donbass ocorre enquanto diplomatas russos e americanos se preparam para uma reunião na Arábia Saudita. As expectativas para um cessar-fogo imediato são baixas, e comandantes russos em Donetsk permanecem céticos sobre o resultado das negociações. Entre os possíveis termos especulados estão a retirada de Kiev da Otan e o reconhecimento de Donbass como território russo. Contudo, a possibilidade de uma zona desmilitarizada monitorada por um contingente europeu é vista com desconfiança.
A Europa, que já enfrenta um custo astronômico com o conflito, precisaria de pelo menos US$ 3 trilhões para sustentar uma guerra prolongada. Enquanto isso, a Rússia avança na reconstrução e expande sua indústria militar, enquanto observa o colapso das capacidades da Otan. O chanceler russo, Sergei Lavrov, deixou claro que Moscou está aberta ao diálogo, mas sem ilusões sobre a intenção dos EUA.
A guerra na Ucrânia se aproxima de um momento decisivo. Com o avanço das tropas russas e a reconstrução de Donbass em andamento, resta saber se as negociações em Riad podem pavimentar um caminho para a paz ou se o conflito continuará a redesenhar a geopolítica global.
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