EUA e Alemanha impedem que navios levem ajuda humanitária para a Faixa de Gaza
Autoridades israelenses também apreenderam barcos, além de prender ativistas, levando-os para Tel Aviv onde ficaram detidos até serem deportadas a seus países de origem
Opera Mundi - A Flotilha da Liberdade, uma expedição marítima com mais de cinco mil toneladas de alimentos e medicamentos para a população palestina em Gaza, foi impedida por autoridades da Alemanha e dos Estados Unidos de zarpar da Turquia nesta quarta-feira (24).
Segundo um dos ativistas a bordo, o internacionalista brasileiro Thiago Ávila, a iniciativa que tem como objetivo quebrar o cerco israelense ao enclave palestino enfrenta diversos problemas, que atrasaram a saída das três embarcações para a próxima sexta-feira (26).
“A reunião com o presidente da Turquia [Recep Tayyip Erdoğan] não foi boa. Existem pressões externas muito fortes. Enquanto estamos preparando a ajuda humanitária e fazendo nossos treinamentos, o presidente da Alemanha [Frank-Walter Steinmeier] está aqui com a primeira demanda para o governo turco não permitir a partida da Flotilha”, denunciou Ávila.
Segundo o internacionalista, também está presente nas reuniões uma assessora do departamento de Estado da sessão de contraterrorismo dos Estados Unidos, “pressionando o governo turco para que a gente não saia”.
As imposições exigiram que a Flotilha da Liberdade preenchesse novos formulários e procurassem um novo porto em Istambul para zarpar. Segundo os organizadores da ação, “todos os requisitos técnicos e de tripulação” foram concluídos para lançar os barcos na sexta-feira em direção à Gaza.
A Flotilha da Liberdade realiza iniciativas similares desde 2010, quando inclusive teve uma expedição atacada por Israel, em que 10 integrantes da ação não-violenta foram mortos.
Após a ofensiva, Israel ainda apreendeu os barcos e ajuda humanitária, além de prender os ativistas, levando-os para Tel Aviv onde ficaram detidos até serem deportadas a seus países de origem.
Em meio aos ataques israelenses e bloqueios ocidentais, a Flotilha da Liberdade tenta combater a fome iminente em Gaza, alertada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em março, de forma que 70% da população local já sofre com insegurança alimentar.
Thiago Ávila chegou a denunciar “a inação dos governos e organismos internacionais para combater o genocídio” na Palestina antes mesmo da Flotilha ser barrada por pressões externas.
“O que essas mais de mil pessoas estão fazendo colocando suas vidas em risco era papel dos governos e organismos multilaterais internacionais. Mas, se os governos não fazem, as pessoas comuns terão que deter o genocídio contra o povo palestino através de seus próprios meios”, afirmou o brasileiro.
O cerco israelense e a fome na Palestina
Apesar de o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarar em outubro de 2023 um cerco total à Gaza, de forma que os palestinos ficassem sem água, comida, medicamentos ou eletricidade como punição coletiva após os ataques do Hamas em 7 de outubro, a ocupação israelense vem de antes.
“Nós estamos enfrentando animais humanos e agiremos de acordo”, afirmou o ministro quando fechou totalmente as passagens para ajuda humanitária de Israel, além do cerco marítimo e aéreo e o controle que detém sobre a fronteira de Rafah, que separa o Egito do sul de Gaza.
Israel mantém Gaza sob ocupação militar desde 1967 e sob cerco total desde 2007, de forma que qualquer criança ou adolescente de 0 a 17 anos, faixa etária da maioria da população da Faixa de Gaza. Assim, mais da metade dos palestinos nasceu sob cerco israelense.
As restrições impostas por Israel mesmo antes de outubro de 2023 impediam a entrada de itens essenciais como equipamentos médicos, alimentos, materiais escolares e até itens variados como vestidos de noiva, chocolates e óculos de mergulho.
Antes da intensificação do cerco, 500 caminhões entravam diariamente em Gaza com ajuda humanitária e já existia insegurança alimentar. Depois do 7 de outubro, Israel restringiu a entrada para 200 caminhões diários.
Assim, a Flotilha da Liberdade entende a urgência de sua iniciativa, mas reconhece a insuficiência da ação. Por trás de cinco mil toneladas de ajuda humanitária a Gaza, o grupo deseja pôr fim ao bloqueio de Israel contra a Palestina, considerado “ilegal e mortal” pela coalizão.
“Permitir que Israel controle o que e quanta ajuda humanitária pode chegar aos palestinos em Gaza é como deixar a raposa cuidar do galinheiro. E, no entanto, é isso que a comunidade internacional de Estados está permitindo, ao recusar sancionar Israel e desafiar as suas políticas genocidas”, diz o pronunciamento da organização.
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