EUA querem ampliar hegemonia e isolar China na América Latina, diz especialista
Pesquisadora afirma que os EUA buscam reativar papel de protagonismo no continente, em meio à expansão e influência do BRICS na América Latina
Sputnik - A XV Conferência de Ministros da Defesa das Américas (CMDA), realizada nesta semana, não foi construtiva para o desenvolvimento da região e serviu como instrumento dos Estados Unidos na busca de hegemonia no continente.
Esta é a avaliação da pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) Isabela Gama, especialista em teoria das relações internacionais e em segurança.
Segundo ela, os temas mais tratados, como ciberdefesa, mulher, paz e segurança deveriam ter dado espaço a assistência humanitária e questões relacionadas ao progresso econômico latino-americano.
Além disso, no evento, os países reafirmaram compromisso com a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre "princípios democráticos".Em discurso na terça-feira (26), o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou que a estabilidade democrática na região estaria, eventualmente, ameaçada pelo "esforço da China para obter influência". Em flagrante cutucada no país asiático, o secretário declarou ainda que "a democracia é o símbolo das Américas".Para a especialista em relações internacionais, Austin tentou sugerir que a China seria "um risco à democracia das Américas". Segundo Gama, ao contrário dos EUA, a presença chinesa no continente é bem mais econômica do que política.
"Já há algum tempo, [Joe] Biden vem fazendo críticas à presença chinesa no continente americano, porque os EUA estão se preparando para uma retomada de relações econômicas, uma reconstrução de laços, com o fortalecimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento [BID], por exemplo", afirmou a pesquisadora.
Ela aponta que o objetivo dos EUA é isolar a China no continente. Gama diz que, principalmente após o convite de Pequim para a Argentina ingressar no BRICS, o governo americano acelerou o movimento, por medo de "maior influência do grupo nas América".
A investida do secretário de Defesa dos EUA contra a China não ficou sem resposta. A Embaixada chinesa em Brasília rebateu afirmando que as declarações de Austin remontam à Guerra Fria e está repleta de preconceitos ideológicos.
"O gesto revela, mais uma vez, as intenções sinistras de certas forças nos EUA que visam cercear o desenvolvimento da China, prejudicar as relações China-América Latina e manter sua hegemonia no mundo. Manifestamos veemente objeção a esta atitude", diz um trecho da nota da Embaixada.
Para Isabela Gama, a repercussão das declarações de Austin expõem como a conferência foi palco de provocações, e não de planos concretos de ação para problemas reais que os países das Américas enfrentam.
A especialista diz que não vê esforços dos americanos em contribuir para o desenvolvimento da região, e sim "no sentido de excluir determinados Estados ditos autoritários". Venezuela, Nicarágua e Cuba não foram convidadas para a Cúpula das Américas organizada por Biden, neste ano, e sofrem com a política externa de Washington.
"Isso é uma forma de colonialismo. Cada estado precisa resolver suas questões, a menos que não seja capaz de fazê-lo. As intervenções precisam ser bem pensadas e delimitadas", disse ela.
Sobre a visão americana de modelos políticos, a pesquisadora diz que "a democracia é uma luta constante". Gama afirma que a democracia "é uma escolha e não deve ser imposta, muito menos pelos EUA".
"O que vejo são os EUA se preparando realmente para aumentar sua influência no continente, tentando expulsar, especialmente, China e Rússia", indicou.
China e Rússia como inimigas é o 'combo preferido' dos EUA
A especialista afirma que a Rússia possui grande influência na América do Sul, seja na Venezuela, e até no Brasil, como "parceira estratégia". Por isso, para a professora, não é surpresa que o cerco dos EUA contra China e Rússia continue presente.
"É o combo preferido dos EUA quando precisam de um inimigo externo comum. Encontraram a China e a Rússia", disse. "Me parece que os EUA estão tentando recriar um momento de intervencionismo e de políticas pró-americanas".
Apesar disso, de acordo com a pesquisadora, a perspectiva futura deverá ser de uma maior influência do BRICS na América Latina e em outras regiões do globo. Gama afirma que a expansão da aliança, abarcando novos membros, indica a mudança de patamar do grupo para um "bloco antiocidental".
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