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Extrema direita desafia governo britânico com convocação de novos atos nesta quarta

Mensagens postadas na internet indicam que centros de atendimento de imigrantes e escritórios de advocacia especializados seriam alvo de ataques

Policiais e manifestantes entram em confronto durante protesto contra imigração ilegal em Liverpool, no Reino Unido 03/08/2024 REUTERS/Belinda Jiao (Foto: REUTERS/Belinda Jiao)

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Yula Rocha, RFI - O governo britânico faz mais uma reunião de emergência com seu gabinete de crise para coordenar ações contra a violência de grupos de extrema direita, que prometem novos atos para esta quarta-feira (7). A justiça começou a processar mais de 400 suspeitos por crimes de ódio cometidos nas ruas e pela internet.

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer insistiu que comunidades estarão seguras com as medidas implementadas pelo governo, após comandar a segunda reunião de emergência em menos de uma semana, em resposta aos atos violentos da extrema direita que se espalharam pelo país.

Mensagens postadas na internet indicam que centros de atendimento de imigrantes e escritórios de advocacia especializados seriam atacados nesta quarta-feira. Uma mensagem dizia: “Quarta à noite, pessoal. Eles não vão parar de vir (para o Reino Unido), enquanto vocês não falarem para eles".

Em resposta a esta violência, grupos ativistas antirracistas planejam organizar contra-manifestações em diversas cidades do país. "Os racistas querem atingir o escritório de um advogado especializado em questões de imigração. Nós não vamos deixar isso acontecer. Use roupas e máscaras de proteção", afirma outra mensagem referindo-se a uma ação da extrema direita planejada na cidade litorânea de Brighton.

O governo mobilizou 6.000 policiais especializados para responder a qualquer surto de violência e afirma que haverá um número suficiente de agentes nas ruas para combater qualquer agitação.

A polícia está revendo horas de gravações de câmeras de segurança para identificar mais de 400 suspeitos que participaram dos tumultos nos últimos dias. A justiça tem agilizado processos e sentenças de prisão. O desafio na esfera digital é ainda maior para classificar postagens nas redes sociais de cunho racista e de incitação à violência.

Elon Musk oferece plataforma para agitadores - O secretário de Justiça já se reuniu com representantes do TikTok, Meta e Google. Porém, o dono do X, ex-Twitter, o bilionário Elon Musk, continua a fazer comentários considerados deploráveis pelo governo britânico. Musk sugeriu que uma guerra civil seria inevitável, e continua a oferecer uma plataforma sem restrição e moderação de informações falsas e teorias conspiratórias para internautas misóginos, racistas, neonazistas e até criminosos condenados pela justiça.

O governo está disposto a entrar com um pedido de extradição de influenciadores agindo fora do país.

Influenciadores e agitadores sugeriram, sem fundamento, que a resposta da polícia tem sido mais dura contra os manifestantes de extrema direita. A retórica tem funcionado para propagar mais desinformação e alimentar o ódio, com ajuda inclusive do líder do partido Reform, o parlamentar Nigel Farage.

Farage afirmou nas redes sociais que desde os protestos Black Lives Matter, foram criados dois sistemas de policiamento, sendo um supostamente mais leve para as minorias. No entanto, as manifestações antirracismo em 2020 foram majoritariamente organizadas e pacíficas, assim como têm sido as manifestações contra a guerra na Faixa de Gaza. Recentemente, cinco ativistas climáticos do grupo Just Stop Oil foram presos por infringir a ordem pública e condenados a quatro anos de cadeia, uma pena considerada draconiana por muitos juristas.

O chefe da procuradoria da Inglaterra e do País de Gales indicou que considera classificar alguns casos da extrema direita como atos de terrorismo, o que demonstraria a gravidade com que a atual situação no Reino Unido está sendo tratada.

Muçulmanos amedrontados - As mesquitas e os hotéis que abrigam imigrantes em processo de solicitação de asilo político no país continuam em alerta, e o governo introduziu serviço de proteção emergencial para esses locais. Há naturalmente uma sensação de insegurança entre os muçulmanos, que não é de hoje, mas piorou diante desses atos racistas e islamofóbicos.

Grupos de extrema direita foram motivados a agir pelos rumores infundados sobre a origem do adolescente que esfaqueou e matou três meninas durante uma aula de dança em Southport, na Inglaterra. O rapaz é nascido e criado no país, mas os radicais de direita preferiram acreditar numa história fabricada de que ele é um muçulmano recém-chegado em um bote de borracha pelo Canal da Mancha.

A tensão fez a chefe do serviço de saúde pública da Inglaterra alertar que muitos dos profissionais de origem não britânica estão temerosos em trabalhar, assim como advogados de direitos humanos que podem ser alvos de agressões desses grupos.

Os governos da Austrália, Malásia, Indonésia e Nigéria divulgaram alertas sobre a tensão atual para seus cidadãos que pretendem visitar o Reino Unido.

Opinião pública contra desordem e intolerância - O que está acontecendo no Reino Unido não é reflexo do que pensa a maioria da população e tampouco da realidade do país. Segundo recente pesquisa do Instituto Ipsos, 43% dos britânicos acreditam que os imigrantes têm impacto positivo na sociedade, contra 37% que veem a presença deles de forma negativa; para o restante dos entrevistados, a questão é indiferente.

O contexto atual não retrata os índices de violência, considerados os mais baixos da história. Pesquisas mostraram que quando há aumento do número de imigrantes, há redução de incidentes violentos. Portanto, não é possível dizer que os britânicos são intolerantes aos estrangeiros. Pelo contrário, o que se viu até agora foram reações empáticas das comunidades afetadas diretamente pelos tumultos, que se uniram para fazer mutirão de limpeza e distribuição de comida às minorias carentes contra o racismo, a violência e a xenofobia.o, a violência e a xenofobia.

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