Foxconn entra na corrida global de IA com modelo de código aberto

247 - A Foxconn, maior fabricante de eletrônicos do mundo e responsável pela montagem de iPhones da Apple, anunciou nesta segunda-feira (10) seu primeiro modelo de linguagem em grande escala (LLM), o FoxBrain.

O lançamento marca a entrada da gigante taiwanesa na disputa por relevância no cenário global de inteligência artificial, dominado por atores como OpenAI, Google e modelos chineses como o DeepSeek. A estratégia, porém, prioriza eficiência computacional e código aberto, em um movimento que reflete tanto ambições tecnológicas quanto geopolíticas.

Baseado na arquitetura Meta Llama 3.1, o FoxBrain foi desenvolvido para aplicações internas, como análise de dados, suporte a decisões e geração de código, com foco em matemática e raciocínio lógico. Apesar de admitir lacunas em comparação ao DeepSeek, líder chinês em LLMs, a empresa afirma que o desempenho está "muito próximo dos padrões líderes mundiais". O diferencial, segundo o Dr. Yung-Hui Li, diretor do Centro de Pesquisa de IA da Foxconn, está na metodologia: "Adotamos uma estratégia muito eficiente, focando na otimização do processo de treinamento em vez de acumular cegamente poder de computação".

Eficiência como resposta à escassez de chips

A escolha por um treinamento rápido e menos dispendioso — possível graças à infraestrutura do supercomputador Taipei-1, em parceria com a Nvidia — não é casual. Em um mercado global marcado pela escassez de semicondutores e sanções à China, Taiwan busca consolidar-se como polo de inovação em IA sem depender exclusivamente de hardware massivo. O FoxBrain, por exemplo, usou a rede Quantum-2 InfiniBand da Nvidia para reduzir o tempo de processamento, uma decisão que também reforça os laços com a empresa de Jensen Huang, cujos servidores são montados pela Foxconn. 

A decisão de tornar o modelo de código aberto é igualmente estratégica. Ao liberá-lo publicamente, a Foxconn alinha-se a uma tendência liderada por empresas chinesas como a DeepSeek, que já disponibilizam LLMs abertos para ganhar influência no setor. "Isso demonstra que o talento tecnológico de Taiwan pode competir com contrapartes internacionais", destacou a empresa em comunicado, em claro contraponto à rivalidade com a China. 

Geopolítica e a batalha por padrões tecnológicos

A ascensão de LLMs asiáticos como o FoxBrain e o DeepSeek reflete uma disputa mais ampla por hegemonia em IA. Enquanto os EUA concentram-se em modelos fechados e proprietários, como ChatGPT, China e Taiwan apostam em ecossistemas abertos para acelerar a adoção industrial e estabelecer padrões regionais. Para a Foxconn, a meta é usar sua expertise em manufatura para integrar IA em cadeias de suprimentos, reduzindo custos e atraindo parceiros globais. 

No entanto, críticos apontam que o modelo taiwanês ainda carece de escala para rivalizar com investimentos chineses. A DeepSeek, por exemplo, já domina nichos como finanças e saúde na Ásia, com modelos treinados em bancos de dados massivos — algo que o FoxBrain, por enquanto, não replicou. "A eficiência é válida, mas sem dados diversificados e aplicações concretas, o risco é ficar restrito a nichos", analisa um especialista anônimo citado pelo Valor Econômico.

O anúncio do FoxBrain ocorre em um momento crítico para a Foxconn. Além de expandir sua divisão de veículos elétricos, a empresa busca reduzir dependência da Apple, que responde por 50% de seu faturamento. A aposta em IA não apenas diversifica receitas, mas posiciona Taiwan como alternativa à China na corrida tecnológica — ainda que ambas as economias permaneçam interligadas.