Hong Kong critica venda de terminais do Canal do Panamá a grupo dos EUA e alerta para riscos estratégicos
Negócio levanta preocupações sobre segurança nacional e influência americana, enquanto governo de Hong Kong defende ambiente justo para empresas locais
247 – A decisão da empresa CK Hutchison Holdings de vender portos no Panamá e em outras regiões para um grupo de investimentos liderado por um gestor de ativos dos Estados Unidos gerou críticas intensas em Hong Kong e Pequim, de acordo com reportagem do Global Times. Segundo o Hong Kong media RTHK, o chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (HKSAR), John Lee, declarou na terça-feira (18) que qualquer transação deve cumprir os requisitos legais e regulatórios, enfatizando que o governo local espera que governos estrangeiros ofereçam um ambiente justo para negócios, sem coerção ou pressão econômica.
O debate se acirrou após dois importantes órgãos do governo central da China em Hong Kong republicarem artigos de opinião criticando a transação. Os textos, publicados pelo Ta Kung Pao, questionam se a venda dos portos a um grupo americano representa um risco estratégico para a China. Em um artigo do último sábado, o jornal fez uma série de questionamentos incisivos: "Por que tantos portos importantes são transferidos tão facilmente para forças dos EUA que têm intenções maliciosas? Que cálculos políticos estão escondidos por trás desse suposto comportamento comercial? Essa escolha realmente leva em conta os interesses da nação?".
Outro artigo do mesmo veículo, publicado na quinta-feira anterior, descreveu a transação como um ato de hegemonia, no qual os Estados Unidos usariam seu poder nacional para se apropriar de direitos e interesses legítimos de outros países sob o disfarce de um "ato comercial". O texto ainda alerta que empresas envolvidas deveriam reconsiderar sua posição e refletir sobre o impacto da venda.
Empresários devem ter pátria, alerta vice-presidente do CPPCC
As críticas não se limitaram à imprensa estatal. Leung Chun-ying, vice-presidente do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC), publicou um post nas redes sociais na segunda-feira questionando: "Os empresários têm pátria?", conforme relatado pelo Wen Wei Po.Leung alertou que alguns empresários de Hong Kong acreditam erroneamente na ideia de que "os negócios não têm fronteiras" e que tudo se resume a transações comerciais. Para ele, essa visão os torna vulneráveis a intimidações externas. "Empresários sem uma pátria só enfrentarão bullying. Empresários americanos só podem agir em alinhamento com os interesses dos EUA e não podem contrariá-los. O mesmo se aplica a outros países, como Reino Unido, Canadá e Cingapura — e a China não é exceção."
Riscos estratégicos para a China e competição entre potências
Especialistas também alertam para implicações geopolíticas mais amplas. Lau Siu-kai, consultor da Associação Chinesa de Estudos sobre Hong Kong e Macau, afirmou ao Global Times que os EUA estão intensificando esforços para minar setores estratégicos chineses, incluindo a indústria naval e a Iniciativa do Cinturão e Rota.
"Antes de tomar decisões empresariais, a CK Hutchison deveria considerar seriamente a complexidade do cenário internacional e o bem-estar da nação e de seu povo. Infraestruturas-chave possuem um valor estratégico significativo e seu papel na competição entre grandes potências não deve ser subestimado", declarou Lau.
Diante da escalada de tensões entre China e Estados Unidos, a transação da CK Hutchison é vista não apenas como um movimento de mercado, mas como uma peça no tabuleiro geopolítico global. A pressão sobre empresas de Hong Kong para que priorizem os interesses da China pode indicar uma mudança na forma como o governo central espera que o setor privado se posicione diante da competição estratégica entre as duas superpotências.
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