Inimigos Azerbaijão e Armênia acordam 'histórica' devolução de vilas

(Reuters) - A Armênia concordou em devolver várias vilas ao Azerbaijão, o que ambos os lados disseram nesta sexta-feira (19) ser um marco importante à medida que avançam em direção a um acordo de paz após lutarem duas guerras desde o colapso da União Soviética. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão, Aykhan Hajizada, postou no X que a Armênia devolveria quatro vilas perto da fronteira compartilhada que estavam "sob ocupação" desde o início dos anos 1990, e chamou isso de "evento histórico muito esperado".

Na Armênia, a agência de notícias estatal citou o gabinete do primeiro-ministro dizendo: "Neste processo, a República da Armênia recebe uma redução nos riscos associados à delimitação de fronteiras e segurança." Foi dito que a transferência na prática envolvia apenas "duas vilas e meia" porque o Azerbaijão já controlava parcialmente os assentamentos envolvidos, mas acrescentou que a demarcação da fronteira era um "evento significativo".

As vilas estão desertas, mas são estrategicamente importantes, pois ficam próximas à principal rodovia da Armênia em direção ao norte, na fronteira com a Geórgia, por onde se realiza grande parte do seu comércio, e ao gasoduto pelo qual recebe gás da Rússia. O acordo foi alcançado em uma reunião na fronteira dos dois países, presidida por seus vice-primeiros-ministros.

O Azerbaijão tem exigido a devolução das vilas como pré-condição para um acordo de paz após mais de três décadas de conflito, centrado principalmente na região de Nagorno-Karabakh. O ímpeto mudou dramaticamente a favor do Azerbaijão em setembro passado, quando suas forças realizaram uma ofensiva relâmpago para retomar o controle de Karabakh, onde os armênios étnicos desfrutavam de independência de facto desde meados da década de 1990. Praticamente toda a população de 100.000 pessoas fugiu para a Armênia em poucos dias.

A Rússia posicionou tropas de paz em Nagorno-Karabakh após a última guerra importante entre Armênia e Azerbaijão em 2020, mas disse esta semana que havia começado a retirá-las. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, tem um encontro marcado com o presidente russo Vladimir Putin na segunda-feira. A Rússia, distraída por sua guerra na Ucrânia, corre o risco de perder influência na região do Cáucaso, que vê como sua esfera de influência histórica. Os Estados Unidos e a União Europeia também têm pressionado ambos os lados a alcançar um acordo de paz.