Irã elege novo presidente nesta sexta-feira
Um olhar sobre principais candidatos
247 - Espera-se que as eleições presidenciais desta sexta-feira (28) sejam acirradas entre três candidatos que, segundo todos os especialistas, lideram todas as pesquisas até agora - Mohamad Baqer Qalibaf, Said Yalili e Masud Pezeshkian -, escreve Xavier Villar no canal HispanTV.
Politicamente, Qalibaf se autodefine como neoconservador e é considerado por muitos analistas como um tecnocrata com uma visão ideológica pragmática. Nos últimos dias de campanha, ele prometeu buscar o levantamento das sanções econômicas se for eleito presidente. Também alertou sobre a possibilidade de um retorno a um “período de recessão” em caso de vitória reformista, e sublinhou seu compromisso de estabelecer uma segunda capital econômica nas costas do mar de Omã e do oceano Índico para o próximo ano.
Said Yalili é um candidato considerado “principista”, termo que no Irã denota um compromisso ideológico com o islamismo militante e os princípios fundadores da República Islâmica, como a autonomia e independência. Durante sua visita a Kerman nos últimos dias de campanha, abordou a questão da desigualdade econômica e a necessidade de salários mais justos para os trabalhadores. Além disso, criticou o programa econômico do candidato reformista, Pezeshkian, acusando-o de contribuir para a “paralisia do crescimento econômico do país”.
Masud Pezeshkian é o candidato “reformista”. Esse termo político é geralmente utilizado para descrever projetos políticos que, respeitando os princípios fundadores da República Islâmica, buscam uma integração mais ampla na comunidade internacional e adotam uma postura mais conciliadora em relação ao Ocidente.
Pezeshkian viajou a Kerman e Yazd nos últimos dias de sua campanha, onde prometeu aos participantes de seus comícios que “não trairia sua confiança”. Durante um encontro com moradores de Kerman, o candidato reformista se comprometeu a eliminar a privação social e a trabalhar pelo bem-estar do país.
Nas últimas horas, houve duas desistências no campo conservador. O atual prefeito de Teerã, Alireza Zakani, decidiu se retirar da campanha eleitoral. Em um comunicado publicado na rede social X, pediu a Yalili e Qalibaf que chegassem a um acordo para “evitar um terceiro mandato de Rohani”, referindo-se a Pezeshkian e ao movimento reformista.
Horas antes, Qazizade Hashemi também se retirou da disputa eleitoral, justificando sua decisão de apoiar a “frente revolucionária” contra o candidato reformista.
Apesar das duas desistências, vários analistas próximos ao campo principista consideram muito possível uma vitória de Pezeshkian se Qalibaf ou Yalili continuarem sua campanha. Recentemente, houve uma reunião entre representantes de ambas as campanhas na cidade de Mashad, mas não se alcançou nenhum resultado satisfatório. De ambas as partes foi garantido que os dois candidatos continuarão na disputa até o dia das eleições, o que descarta a possibilidade de um candidato único da “frente revolucionária”.
Nesse sentido, cabe destacar as palavras do assessor de Yalili, Ali Yafari, que explicou que “conhecendo Yalili, é impensável que ele se retire das eleições ou que deixe de apoiar Qalibaf”. Esse mesmo assessor também apontou que, segundo as últimas pesquisas publicadas, o mais provável seria que Qalibaf retirasse sua candidatura e apoiasse Yalili para “evitar um segundo turno e a possibilidade de uma vitória reformista”.
Uma das principais preocupações para os eleitores é a economia, por isso entender as diferenças programáticas entre os três principais candidatos é fundamental para compreender como podem votar os eleitores iranianos.
Para Qalibaf, a economia deve basear-se em princípios fundamentais como a transparência e políticas populares. Especificamente, Qalibaf e sua equipe econômica propõem conter a inflação por meio da produção e implementação de orçamentos equilibrados e melhorar as disparidades no setor financeiro ao dar maior autonomia ao banco central. Além disso, busca desbloquear o potencial do investimento nacional reduzindo as complexidades burocráticas.
Sobre o tema das sanções, Qalibaf expressou seu desejo de implementar uma diplomacia “passo a passo”, buscando aliviar ou eliminar as sanções de maneira gradual e não de forma abrupta.
Por sua vez, Saeed Yalili é considerado por muitos economistas como o candidato que, se eleito, é mais provável que continue a linha do governo atual.
Em termos específicos, Yalili e sua equipe econômica enfatizaram a necessidade de fortalecer o valor da moeda nacional, introduzir um imposto sobre a riqueza e reformar as políticas fiscais para alcançar a justiça social. Além disso, comprometem-se a abordar os problemas de habitação por meio da regulamentação da propriedade exclusiva de terras.
Por último, o candidato reformista e sua equipe centraram sua agenda econômica em várias questões-chave: a implementação de um plano significativo para conter a inflação e melhorar o poder aquisitivo, a atenção prioritária à justiça social, a eliminação das “políticas intervencionistas do estado” e a atração de investimento estrangeiro mediante a redução das tensões nas relações internacionais.
Também é crucial destacar a importância da participação nas eleições. Nesse sentido, o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, fez um apelo a uma “alta participação” nas eleições presidenciais de sexta-feira para suceder Ebrahim Raisi, que faleceu no mês passado em um acidente de helicóptero.
“Enfatizamos a importância de uma alta participação nas eleições, pois é um orgulho para a república islâmica”, declarou Khamenei em um discurso televisionado três dias antes da votação. “Em cada eleição onde a participação foi baixa, os inimigos da república islâmica nos criticaram”, acrescentou.
Nesse mesmo discurso, o Líder Supremo criticou “certos políticos iranianos” por acreditarem que “todos os caminhos para o progresso passam pelos Estados Unidos”. Embora o discurso não mencionasse nomes específicos, vários jornalistas interpretaram as palavras de Khamenei como uma crítica àqueles que defendem uma aproximação política que poderia implicar a renúncia aos princípios ideológicos fundamentais da República Islâmica. Vários analistas políticos iranianos sugerem que as declarações do Líder Supremo estavam dirigidas a Mohamad Javad Zarif, ex-ministro das Relações Exteriores do governo reformista de Hasan Rohani e que atualmente desempenha um papel destacado na campanha de Pezeshkian.
Espera-se que os resultados finais sejam divulgados na segunda-feira, embora seja provável que as contagens em circunscrições menores sejam conhecidas antes.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: